Ginginha do Rossio
Sempre que vou a Lisboa, tenho de fazer o itinerário da Baixa, que passa por sair nos Restauradores, percorrer as Portas de Santo Antão, entrar na Casa do Alentejo, beber um Eduardino naquele insignificante estabelecimento, engraxar os sapatos no Largo de S. Domingos e terminar bebendo uma ginginha noutro ex-libris da cidade, por toda a gente conhecido como: a Ginginha do Rossio.
Da ultima vez que lá estive chovia, daí que este passeio que faço ao lisboeta que há em mim, teve de ser acelerado por via da chuva, por levar sapatos de camurça e por deparar (pela 1ª vez na minha vida) com a Ginginha do Rossio fechada.
Lembrei-me de imediato do estardalhaço que a ASAE fez aquando do fecho desta casa que foi noticia em todas as televisões, mas sempre pensei que já estaria aberta depois de cumpridas as exigências da brigada “fascistó-higienizante”, conforme lhes chamou Pacheco Pereira.
Numa breve pesquisa descubro a razão de tão inusitado fecho: falta de condições “higiosanitárias e técnicofuncionais”, ou seja: a razão principal prende-se com a falta de casa de banho.
Então um estabelecimento que está aberto há mais de 150 anos, onde não cabem mais do que quatro fregueses de cada vez. Que já só servia o fabuloso licor em copos de vidro a pedido, e dentro do minúsculo estabelecimento, tendo optado pelos copos de plástico conforme recomendação dos novos “beatos da virtude”, também tem que ter casa de banho, ou casas de banho, para homens, senhoras e deficientes.
Como é de todo impossível meter “o Rossio na Rua da Betesga” (nunca o ditado esteve tão próximo da sua fonte de inspiração) fecha-se um dos símbolos da cidade, presente em todos os guias turísticos de Lisboa e onde os incautos turistas se dirigem às centenas batendo com o nariz na porta e abrindo os olhos de espanto quando lhes é contada a razão do encerramento.
Acho que acima de qualquer lei, tem que imperar a lei do bom senso. Ou seja; em nome da lei não se pode cilindrar um país, normalizá-lo, higienizá-lo ou leofilizá-lo ao abrigo de uma qualquer norma interna ou comunitária. Para que estas medidas tenham efeito (qual espada de Demócles sobre a cabeça de quem vive de qualquer negócio) numerosas equipas de pequenos Pilatos à medida que dão ordens de fecho, levantam autos ou contra-ordenações, vão deixando atrás de si um rasto de miséria, multas e desemprego, mas, daí lavam as suas rechonchudas mãos, enquanto o Pôncio-Mor fuma brutas cigarrilhas em lugares proibidos, ao mesmo tempo que consulta o relatório diário das desgraças alheias.
Cada vez gosto mais dos meu canitos!!
5 Comments:
è uma aberração o que esses senhores andam a fazer. De facto existem estabelecimentos que devem ser penalizados, ou avisados, de modo a que a lei se faça cumprir, mas como o Pulanito diz a lei do bom senso também aqui tem lugar.
Não se pode levar tudo a eito, ou então metade de nós são varridos para o mar e a outra metade varrida para Badajoz, ficando cá esses senhores a brincar aos policias e ladrões.
Bruno
vejo que continuas a visitar a minha Baixa sem apareceres para o almoço... A próxima vez não tens desculpa.
Quanto à ginginha... nos últimos tempos não sei, mas houve uma época em que os copos eram passados por uma esponja húmida e ficavam lavados... Aquilo metia nojo.
E o licor era aguardente com corante, açucar e umas gingas que já tinham passado por 50 garrafas.
Quando vieres almoçar comigo levas uma garrafa de ginja feita pelo meu Pai com ginjas de produção própria do Sobral da Lagoa, concelho de Óbidos, para saberes o que é ginja...
Mas tens que vir almoçar, porra (como se diz em alentejano...)
Não me irei referir ao fecho da "Ginginha do Rossio", porque não conhecia o local. E só agora soube dessa questão da falta de WC e dimensões do local.
Queria apenas comentar a ASAE. É que lê-se imensas coisas contra e muito poucas a favor. Portugal é o país da EU com mais cafés/restaurantes por metro quadrado, porquê?
Porque é(era) fácil abrir qualquer um dos 2 e ainda mais fácil não pagar alguns dos impostos a que estão obrigados por lei.
Mas não acha que o que a ASAE está a fazer, é zelar por todos nós? Pelas regras básicas da higiene? Pelas regras básicas do bom senso na restauração?
Concordo e aceito que certamente houve casos em que eles terão actuado de forma errada, mas penso que na maioria das situações terão agido correctamente.
Pois agora os cafés/restaurantes pensam 2x antes de cometerem alguma ilegalidade ou falcatrua.
"a razão é sempre do cliente" é algo que apenas se aplica na teoria e penso que a ASAE trouxe algum poder ao cliente, para equilibrar a balança. Pois os gerentes dos estabelecimentos comerciais hoje em dia já pensam duas vezes antes de colocar à venda um bolo do dia anterior!
No entanto também acredito que por vezes falte informação aos proprietários dos estabelicimentos, e nesse caso a ASAE deve é informar. Aliás, segundo sei, a ASAE quando vai a um local n
ao fecha o local sem mais nem menos. Indicam aos proprietários as insuficiências do local e o que têm de fazer para proceder á sua regularização. E em caso de ser necessário efectuar obras, é dado um prazo ao estabelecimento para as efectuar.
Jamais me esqueço de uma reportagem que passou na SIC. A ASAE foi fiscalizar uma padaria e esta tinha ratazanas lado a lado com o mesmo pão que estavam a confeccionar para no dia seguinte ser vendido nas pastelarias da cidade!
Caro Squeezy,
Claro que qualquer português de responsabilidade e bom senso apoia a existência de uma entidade fiscalizadora impoluta que faça um trabalho de defesa do estado, da legalidade ou do consumidor.
O que não compreendo é o aparato, a prepotência,a leitura cega duma lei que sabemos ter sempre mais que uma leitura.
Não aceito nem permito que cilindrem a minha identidade, as minhas tradições e as minhas convicções em nome de uma modismo legalista que não se compadece com nada nem ninguém.
Julgo mesmo se queremos acabar com os acidentes na estrada, devemos entregar tal pelouro a estes senhores.
Mande sempre...contributos como os seus, não se podem desperdiçar.
Pois é amigo Napoleão. vão acabando os locais da nossa memória colectiva a nível nacional. Na "minha" cidade de Beja já encerraram, que me lembre, pelo menos quatro estabelecimentos emblemáticos : a Tabacaria 77, a Fotopax, a Tabacaria Bejense, a Chapelaria Modelo fora os que de momento não me ocorrem. No Porto pelo menos ainda há o Café Magestic e a Livraria Lello.
Mas a propósito de Ginginha do Rossio, sabes dizer-me se aquela outra casa "Junto ao Arco da Bandeira, aquela casa velhinha de aspecto rasca e banal" que a grande Amália imortalizou ainda existe?
um abraço
José Mestre
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