No Rescaldo da Feira de Castro 2007
A Feira de Castro é como sempre, desde sempre, um feira molhada, sofrida, de ponta de pau gasto e borda do cu ardendo, mas este ano, ao contrário de todos os outros, estava um calor de rachar, o que fez com que a rapaziada não lustrasse a sua bota de feirar, já que o tempo estava mais para chinelar que outra coisa.
Mesmo sem a presença da fatídica ASAE (pelo menos no sábado) notava-se em cada feirante um ar vigilante, pesaroso, amedrontado pela possível carga leofilizante em que nos quer embrulhar esta nova brigada dos costumes.
Voltei a encontrar as caras do costume embora um ano mais maduras, e outras na lotaria dos encontros em que esta feira é fértil, que não via há mais de dez, vinte e até trinta anos, sendo esta é uma das atracções deste encontro de alentejanos.
Rua acima, rua abaixo, continuavam-se a mercar os produtos que fizeram desta feira um dos maiores acontecimentos da marca Alentejo a cada terceiro fim-de-semana do mês de Outubro de cada ano.
Lá estavam os figos secos ou com amêndoa, outros ainda esculpidos em forma de galinha em cestinho a condizer, não faltando as pirâmides de nozes, amêndoa ou a bela castanha de Mochique ou até de Marvão.
Não podiam faltar os famosos enchidos alentejanos, os queijos ou o toucinho com mais de quatro dedos de altura.
Os famosos doces folhados de Castro Verde aquando do meu regresso do recinto da feira, já tinham desaparecido, o que me deu a entender que as boleiras de Castro terão um longo trabalho noite adentro.
Cadeiras, mochos e bancos, cestaria de vime ou de palha, vassouras, bengalas e cajados lá estavam a marcar a sua ancestral posição. Numa destas barracas namorei uma gorpelha, talvez lá volte amanhã a resgatá-la.
Na tenda das árvores sou aconselhado a não adquirir uma romãzeira neste tempo, já que o calor que se faz sentir não vaticina um bom augúrio.
Um pouco mais acima uma feirante de microfone preso ao pescoço e coberto com um lenço, debitava as maravilhas da verdadeira pomada da gibóia que curava tudo, desde diabetes a reumatismos, males de coluna e enxaquecas passando pela falta de apetite e até problemas de próstata e seus derivados, enfim um verdadeiro a milagre por apenas 5 euros.
No regresso comprei rábanos, gamboas e pêros; feirei ainda amêndoas em forma de estrela e castanhas. Desta vez não comprei facas nem barros, mas amanhã ainda é dia de me perder.
Decerto resgatarei a minha gorpelha (embora não saiba o que com ela fazer) mas ficará muito bem num sítio qualquer da minha imaginação.
As fotos vêm mais logo....
2 Comments:
Olá pulanito, refeito das tarefas e canseiras da feira de castro?
A gorpelha saíu-te por um bom preço?
Não querendo ser saudosista, acredita que não quero mesmo nada sê-lo, adeus oh feira de castro. Sabes, tanta simetria faz-me impressão, as coisas tinham o seu lugar natural sem perfeccionismo, mas sei que a modernidade tem destas coisas.
As fotos são interessantes, mas seria interessante fazermos um exercicío de memória, caso tivesses fotos de vários anos para trás. De certeza que seriam bastante mais originais e expontâneas. As fotos retratam a realidade, verdade? Gostava muito mais da outra feira de castro.
Lucília
Vamos ser honestos e realistas. Sinto que a "fêra" de Castro está a desaparecer como feira tradicional. Não demora muito que se transforme em mais uma "expo qualquer coisa" com tempo de começo e fim rigorosamente limitados, não começando nem antes nem acabando depois dos dias oficiais da sua duração e com horários de abertura e encerramento.
Pode ser que eu esteja enganado mas "esconfique" não
Um abraço
José Mestre
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