Dia 5 - Diário de Viagem- Abalroamento
Como sempre acordei pelas 7.00 horas da manhã , o dia estava espectacular para a prática da actividade que venho por aqui realizando, e vocês daí acompanhando. A estrada que me leva de Estremoz a Évora (N-18) é estupenda com um piso fantástico e em grande parte do percurso com uma escapatória larga que para além de proporcionar segurança, também é excelente para bicicletar sem problemas.
Passados uns 30 quilómetros reparo que levo uma média excelente e que retiro do prazer de pedalar um gozo que há muito não sentia, tanto que, em vez de seguir para Moura e amanhã terminar em Entradas, decido-me a fazer este percurso (Estremoz- Entradas) de um só golpe, o que viria a consistir numa proeza pessoal e ao mesmo tempo também um desafio aos meus próprios limites.
Animado por este pensamento pedalo ainda mais forte, as descidas prolongadas permitem admirar a paisagem sem fazer qualquer esforço, e mesmo as subidas fazem-se com alguma facilidade o que faz com que o viajante solitário se delicie com esta estranha arte de pedalar qualquer selim.
Nos auriculares, uma selecção da minha música favorita invade-me os sentidos, estou pela primeira vez nesta viagem próximo da felicidade.
Évoramonte -lindissimo a partir da N-18
Passo por Évoramonte e saco uma foto do castelo, rolo a uma velocidade média de 23km hora o que é fantástico para mim e a cada quilómetro que passa Évora vai-se aproximando da minha retina a passos largos; conto aí parar para beber café e recalcular percursos. Penso ainda o quanto é bom ter optado por esta nova aventura cilcistica.
De repente, numa fugaz fracção de segundo todos estes pensamentos e sentimentos são abruptamente ceifados pelo abalroamento de que sou vitíma.
Percorro largas dezenas de metros deixando no alcatrão a marca da minha pele, enquanto o vermelho do sangue começa a escorrer de braços e pernas, tento perceber o que me terá acontecido. Será que fui tele-transportado para outro planeta?. Será este o meu inglorioso fim? Alguma coisa me bateu, e o que quer que seja, varre agora o alcatrão juntamente comigo.
Minutos após o acidente - reparem no perfil do abalroador.
Quando o "mundo" pára de girar estou estatelado no meio da estrada, debaixo da bicicleta e com uma motocicleta embrulhada em mim e um corpo deitado um pouco mais além.
Tento sair dali rapidamente. Reparo que não tenho nada partido. Penso; do mal o menos!
Dirijo-me ao meu abalroador que é um homem que aparenta mais de 80 anos que, vá-se lá saber porquê, decidiu enfeixar-se comigo quando naquela estrada não havia mais nenhuma sombra de movimento. Volto a explicar. Eu vou de bicicleta pela escapatória, a estrada tem total visibilidade, estou vestido de vermelho e a minha roupa ,sapatos e bagagem são reflectores, nada me faria prever que out of the blue surgisse este motociclista que veio justamente abalroar-me ao km 36 dessa estrada. A única nota de humor que aqui posso partilhar, é que não posso deixar de lhe gabar a pontaria, acho mesmo que o Senhor Manel Policia deveria jogar na lotaria esta semana.
Manel Policia- O Abalroador
Pergunto-lhe se está bem, mas este só diz que desgraçou a sua vida...e esta hem!!!
Pergunto-lhe o nome; diz chamar-se Manuel Polícia (Qual alentejana coincidência) . Tento irritar-me com ele para me compensar de alguma forma, mas olho para quele homem e vejo o meu pai, na única vez que o prentendi colocar á prova, perguntei-lhe como é que ele se sentiria se estivesse no meu lugar, este desarmou-me com uma resposta repleta de manha ou de humildade, mas prefiro pensar na última alternativa. - Eu também o desculpava senhor. Perante isto só posso pensar que acidentes acontecem e desta vez tocou-me a mim e ao ti Manel Policia.
Enfim, depois de avaliar os estragos dou por terminada a minha epopeia, pois não estou em condições de prosseguir e a bicicleta também não.
Telefono ao Cotovio que se encontra em Lisboa mas logo se disponibiliza a vir-me buscar ao hospital de Évora onde para me entreter nesta espera desesperante vou relatando os factos de um dia bem radical, mas que poderia ter acabado muito mal.
Nota: Não apresentei queixa do homenzito, mandei-o em paz, mas aconselhei-o vivamente a nunca mais voltar a dirigir qualquer veículo.
Depois do Cotovio chegar lá nos metemos no carro e para comemorar o nosso reencontro parámos na Tasca do Chico em São Manços, um local de culto e peregrinação gastronómica que recomendo a todos os meus leitores. O cardápio é de fazer crescer água na boca, os vinhos de uma selecção impar, o profissionalismo do Chico irrepreensível e o preço, foi o justo.
Ainda postarei aqui alguns outros episódios desta peculiar aventura. Estejam atentos.
7 Comments:
Manel Policia- O Abalroador, isto é lá nome ou coincidênica!
Bom Vamos ter-te mais cedo em casa...há males que vêm por bem! foi pena, mas é o destino
Estamos cá para curar-te as maselas pelo menos as fisicas.
Graças a Deus que tens sempre um passarinho por perto, obrigada Cotovio
Beijocas
Caro Pulanito, os Her�is do Alcatr�o n�o se abatem assim sem mais nem menos, uma fresquinha junto das das Andorinhas e temos Homem para outra aventura. Policia e Manel, tinha que dar asneira, o que vale � que o Pulanito como bom Alentejano est� imune ao Alcatr�o, quem t�m umas Andorinhas por perto t�m tudo, um Abra�o e um completa reabilita�o, agora vai ser s� mimos.
O que importa agora é que está tudo bem. As melhoras!
Caro Pulanito mas que aventura! Uma pergunta, como conseguiu internet no Hospital para postar toda esta história? Muito á frente este Hospital de Évora. Espero que se recomponha rápido mas para a próxima conte sempre com aquele problema que alguns Manéis (sejam policias ou não)tém, que é a falta de visão.
Pois eu e a minha amiga Isabel Mira aqui de férias em StªCruz já não andamos de bicicleta para não termos esses azares. Ele é mais esplanadas e praia (mesmo com um tempo um bocadinho ventoso) mas não podia deixar de felicitá-lo pelo seu regresso ao blog com tão arrojado diário de etapa. Vou continuar a visitar este blog com tão boas descrições desse Alentejo genuino.
E esta hein!!!?? Quem havia de dizer que a tua aventura iria acabar de forma tão inusitada: abalroado pelo polícia... Pois ele há coisas que não se explicam. Como é que o homem ainda se aguentou na motoreta até te chegar? Ambos tiveram o vosso dia de sorte. Um grande abraço e põe-te bom. Se calhar ainda um dia te acompanho numa dessas tuas aventuras....
é bom pensar ke talvez o senhor manel tenha sido uma salvação... na volta mais à frente pior poderia acontecer. Não podemos culpar o senhor de más intenções, pois a humildade estampada na sua cara só transmite ingenuidade.
Bom, resta-me desejar as melhoras rápidas a si e à bicicleta :)
Grande Pulanito, andei aqui perdido por entre os blogs, pois troquei as voltas todas ao escrever Pulinito. Enfim, com perseverança cá cheguei ao teu fantástico diário de viagens. Acabo de ler o relato do abalroamento. É caso quase para dizer que a imagem fala por si!
De ti já te sei recuperado, e a bicla espero que também.
grande abraço
chico rebelo
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