3º dia -Diário de Viagem -
Largo da Cãmara- Arraiolos
Voltando ao dia 3 - Estou em Arraiolos, meu destino final para este 3º dia de viagem.
Procuro um posto de Internet, mas o único que existe está fechado, por isso deixo para amanhã (hoje) o relato dos 3º e 4º dias.
Não me recordo de alguma vez aqui ter estado, embora tenha a impressão de conhecer esta terra de toda a vida, o que faz com que me surpreenda com a beleza senhorial desta vila norte alentejana com o seu respectivo castelo altaneiro.
Chego aqui completamente derreado, não pela dureza do traçado, mas porque os últimos quilómetros foram feitos debaixo duma chuva miudinha e com um vento de frente que não deixava andar a bicicleta.
Tentei degustar a gastronomia local, de que um cartaz da edilidade fazia alarde, mas depois de muitas voltas só consegui encontrar (no centro da vila) um único restaurante, por sinal bastante razoável.
Numa terra de vinho, pensei aqui encontrar as tipicas adegas da região, mas infelizmente a última que subsistia fechou há poucos meses, de resto só cafés com mesas de fórmica que se nota terem outrora sido templos dedicados a baco, e que por aqui se chamavam "vendas" em vez de pomposos cafés que vendem vinho...
Calcorreio as ruas estreitas de Arraiolos, que fazendo juz ao seu nome tem em cada esquina uma fabriqueta de tapetes que, qual flash, me fazem lembrar a pátria berbére de que de resto já tenho saudades.
Já que estou a fazer isto de trás para a frente vamos lá então ao relato do resto do dia que começou em Odivelas pelas 7.30 da manhã.
O dia estava agradável e o caminho até ao Torrão fez-se num tiro. Como tinha necessidade de beber café e comprar água parei no Café Besugo, onde pelo meu aspecto sou de imediato interpelado.
Fiquei a saber que aqui no Torrão existe outro "ganda maluco" de seu nome Vitor qualquer coisa, que detém vários recordes em cima da bicicleta, de entre eles 92 horas seguidas a pedalar, ou ainda o recorde de quilómetros percorridos em cima de rolos.
Como tempo para pensar é coisa que não me falta, dou comigo a reviver uma figura ciclista do meu imaginário, falo-vos do ourives em bicicleta. Esta figura aparecia de tempos a tempos em tudo o que é monte, vila ou aldeia vendendo os seus produtos que transportava na sua inseparável caixa metálica pintada num verde "espirito santo" colocada no suporte traseiro do seu veículo.
Estes Globetrotters faziam deste modo de vida o seu negócio e para além dos brincos, anéis, alianças, fios, pulseiras e demais áureos artefactos também vendiam relógios de pulso e muitas das vezes óculos de ver ao perto, como os que a min ha avó Chica usava para fazer meia. Como me recordei deles aqui fica a minha homenagem a estes fantásticos aventureiros da mala verde. ( Se alguém possuir uma foto destes profissionais gostaria de aqui a publicar).
Com esta conversa chego a Alcáçovas, como a minha água estava no fim vá de reabastecer numa casa simpática mesmo em frente à Rotunda do Chocalho e que dá pelo nome de Café Maravilha.
Entro neste espaço minúsculo e reparo que para além dos produtos habituais também vende facas e botas. E uma casa que vende vinho, facas e botas e que ainda por cima tem uma proprietária anafadinha e simpática e que se chama Guilhermina; para mim, estou em casa. Se fosse hora de almoço de certeza que ali teria abancado, até porque a conversa já metia sopas de peixa, açorda e outras iguarias.
Aqui fica a foto com a senhora Guilhermina, proprietária desse local de culto que dá pelo nome de "Taberna Maravilha" mas que no toldo tem escrito Café Maravilha. É favor corrigir este erro grosseiro. É que cafés há cada vez mais e tabernas desta índole já se contam pelos dedos, especialmente cheirando a lexivia pela manhã.
Pelo aspecto chamo de novo a atenção, depois das apresentações, de onde venho para onde vou, peço ao António Gaspar (um dos convivas presentes) para sacar a foto que hei-de aqui colocar, outro conviva junta-se à conversa e quando lhe pergunto o nome este diz: Jerónimo Grosso Sim Sim, era a cereja no topo deste bolo de surpresas que dá pelo nome de Alentejo, ou seja altura de partir e remoer nestas conjecturas alentejanais.
Depois foi pedalar até Santiago do Escoural e na viragem à direita a primeira surpresa do dia, tive que galgar a Serra do Escoural, coisa que não me apetecia nada, mas depois de muitos impropérios pelo caminho, muitas dores lombares e musculares lá consegui ultrapassar a maldita serra que me conduziu ao cruzamento que me haveria de levar a Arraiolos.
PS: já não tenho mais tempo de Internet...se ainda conseguir colocar o relato de hoje assim o farei, caso contrário fica para amanhã...só vos digo que estive com o meu amigo Silvino Sardo, mais conhecido por Relógio Espanhol.....
1 Comments:
Caro amigo, foi um prazer enorme para minha mãe ter tirado esta foto consigo, pois , ela de tão entusiasmada que estava, não falava de outra coisa, até me pediu para tirar o foto para o recordar, pois ficou muito contente de o conhecer.Já agora, e antes que me esqueça aqui deixos muitos beijinhos carinhosos que ela lhe manda. Eu chamo-me vanda, sou filha da D. Guilhermina, tenho 28 anos e foi um prazer, ainda que pelo monitor do computador, conhce-lo. Mas se ela gostou de si, é porque é boa pessoa, logo também gosto muito de si. Desejo-lhe boas pedaladas e muitos amigos ainda por conhecer. Os meus sinceros cumprimentos. Vanda Almeida
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