Entradas no País do Chocolate
Através das estatísticas do Blog, bem como de outros mecanismos de controlo de entradas, fiquei surpreendido com o número de visitas vindas do país do chocolate, mais conhecido por Suiça(9%).
Verificando bem de onde estas vinham, apercebi-me logo que a sua grande maioria seriam conterrâneos meus, que vêm aqui ao “ Pulanito” como se assomassem a uma janela Entradense, na esperança de ver um sol alentejano a nascer, de assistir à chegada do Carapeto, outrora taberneiro, agora padeiro, que trás aquele que é nosso a cada dia que passa, mais as “costas” secas e de gila, “pupías” e ás vezes “fartos”, entre outras iguarias da doçaria regional. Um pouco mais tarde podes aqui voltar e sentirás pelo toque da buzina que o peixeiro chegou. “ Há carapau e pêxe” era o pregão do Custódio Feio, (entretanto retirado das lides da guelra e escama), de qualquer maneira continuamos a ter este privilégio de nos passarem à porta vendedores e vendilhões dos produtos que eles sabem ser da nossa necessidade.
Se tiveres sorte num dia que aqui te vieres assomar, poderás dar com o amola tesouras que, montado na sua bicicleta multifunções chama a freguesia com a sua inconfundível gaita de beiços para regalo da “ pouca” criançada que por aqui existe e a quem me junto num regresso a sons, cheiros e imagens há muito arquivados no registo da memória. Antigamente, estes nómadas do remendo faziam de tudo um pouco, desde: amolar tesouras, facas e outros artefactos, também consertavam guarda chuvas, punham gatos em pratos e alguidares e alguns até pingos de solda em tachos, panelas ou cântaros. Depois de amanhadas ferramentas e utensílios, rearmavam a bicicleta, trocando a correia que fazia rodar o esmeril, pela corrente que fazia andar a bicicleta, utilizando sempre a força motriz dos mesmíssimos pedais.
Se gargalaste pelo postigo e reparaste que do céu ameaça chover, põe a seco lenha e tanganhos para te aqueceres, porque no Inverno as noites são longas e o frio ventoso assobia pelas frestas das portas e janelas.
Prepara no borralho da lareira uma clareira para assar bolotas, e hipnotiza-te com a dança do fogo enquanto brincas com o sopro do canudo, que torna rubras as brasas semidormentes.
Poderás ainda vir aqui pela tardinha, assim ao lusco-fusco, quando a iluminação pública se acende transformando este nosso pequeno mundo em sombras, luzes e cores, sinal de que a vida começa a rarear e o retempero da noite há-de sortir numa renovada dose de forças que o dia de amanhã consumirá inexoravelmente.
É hora de ouvir o brado das mães recolhendo os filhos ao remanso do lar. Pelas portas entreabertas poderás saber qual o repasto vespertino da vizinhança. No ar o cheiro temperado da carne de porco frita, mais á frente o sabor inebriante duma açorda de poejos, do outro lado da rua chega-te o aroma inconfundível das migas com entrecosto.
Depois vai-te deitar, mas pela manhã regressa aqui de novo, porque este bailado, repete-se dia após dia, ano após ano, vida após vida.
E quem é que quer morrer como uma vida como esta?
6 Comments:
Gostei desse remate...
aj brito
Que bem que Entradas fica no meio das montanhas Suiças.
Pedro E.
Já há muito que queria comentar um tópico seu, e desta vez não posso continuar calado :P
Eu moro em Beja, a minha mãe é de Castro Verde e o meu pai é de Entradas. Creio que se falar das minhas raízes é capaz de ter uma noção de quem sou. O meu pai é Helder Sales, e o meu avô era João de Brito. Já agora o meu nome é Jorge Palma e sou rapaz novo. 25 anos
Grande parte da minha infância foi passada nessa pequena grande aldeia que é Entradas. Ao ler este tópico, relembrar esses sons, essas grandes pessoas até me arrepiei.
Só há pouco tempo me foi dado a conhecer este blog. Este super blog :) Não só pelo excelente conteúdo, como pela forma cativante com que escreve, fez-me já por várias vezes sentir aquele orgulho de ter uma costela Entradense. Acho que a vida muitas vezes nos impõe objectivos, que nos afasta daquelas coisas que nos fazem realmente bem... moro a 32km de entradas e chego a estar 32 dias sem lá ir...
Enfim... só quis deixar o meu agradecido por nos proporcionar estes momentos.
Caro Jorge,
Claro que sei quem és. Teu pai meu amigo de infância, falamos sempre que nos encontramos, bem como os teus tios de quem tenho particular apreço.
Das memórias que tanto gostas de aqui ler, has-de perguntar ao teu pai se ele se lembra da resposta que dei, quando fui convidado por ele ou por um dos irmãos, para jantar em casa dos teus avós.
A pergunta da tua avó foi dirigida a mim e quando me viu muito lampeiro sentado à mesa perguntou-me: Pulanito, já lavaste as mãos?
Agora o teu pai que te dê a resposta a esta pergunta da tua avó.
Aparece sempre que queiras, e agora que perdeste a vergonha, toca a comentar.
abraço
:)
"Já lavaste as mãos?"
"Já!"
"Quando?"
"Ontem..."
Para o Jorge Palma
Há coisas que perdurarão para sempre na memória das pessoas. No caso dessa resposta, ele é ocasionalmente trazida a lume, especialmente quando o teu falecido tio ainda tinha saúde e nos encontrávamos por aí.
Também tinha outra: Quando o teu avô tinha a loja eu tinha uma maneira de convencer o Jacinto a dar-me rebuçados, que era mais ou menos assim: Jacinto, dá-me 2 rebuçados que eu dou-te 1!
E que tal este jeito para o negócio?
Já saiu o àlnum do Samuel. Está nas Fnacs e El Corte Inglès. às lojas mais pequenas vai chegando aos poucos.
Um abraço
PS: penso que o Samuel vai passar o Natal a Entradas, de resto como acontece todos os anos.
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