Matança do Porco- tradição secular
Com a chegada dos grandes frios, chega também a época da matança do porco por esse Alentejo fora.
Ainda a manhã vai gelada, quando o matador desfolha sobre a mesa o seu naipe de facas, cutelos, fuzis e machados que irá utilizar na operação de matança e desmancha do animal.
De entre os convivas escolhem-se aqueles que irão apanhar o bicho que de véspera foi separado, tendo este jejuado até à manhã fatídica. Quatro deles irão segurá-lo em cada uma das patas e um outro as orelhas, comandados pelo matador que entretanto afasta quem tenha pena do suíno, não vá o sangue coalhar!
O carrasco desfere então o golpe fatal que se quer rápido e certeiro, enquanto o sangue jorra para o alguidar, o bicho oscila em espasmos violentos na sua luta derradeira.
Durante a queima, limpeza e raspagem, vão-se aceitando apostas relativas ao hipotético peso do animal, cujo acertante, se orgulha do olho que tem para estas coisas.
Já são horas de matar o outro bicho, que por estas bandas se afoga com copinhos de vinho licoroso e bolinhos secos servidos invariavelmente pela dona da casa.
A operação de abertura do porco é sempre um momento de alguma precisão, não vá a afiadíssima faca perfurar alguma tripa e deitar muito do trabalho a perder.
“ Se queres ver o teu corpo, abre um porco” diz um dos convivas, referindo-se ao provérbio que dá conta das semelhanças viscerais entre um e outro animal.
Enquanto o matador vai dando explicações técnicas à medida que o seu trabalho se desenrola, alguém com ar de entendido refere que no porco tudo se aproveita, para logo outro responder “ eu no porco gosto de tudo, até da maneira como ele anda “ o que resulta em gargalhada geral.
É chegada a altura de retirar as tripas, operação esta, que requer alguma atenção de modo a que nenhuma se rebente. Depois de depositadas em grandes alguidares, serão posteriormente lavadas pelas mulheres da casa, de preferência numa ribeira ou barranco que leve corrente, para que depois sejam cheias com a carne do alguidar que resultará nos mais diversos tipos de enchidos que se hão-de curar suspensos em varapaus no fumeiro da enorme chaminé tradicional.
As “alandias” são as partes da cabeça do bicho preferidas do matador, que não se cansa de elogiar as suas faculdades gustativas, que depois de golpeadas e salgadas, são mandadas de imediato assar no lume entretanto preparado.
Aproxima-se a hora do almoço. Com ela vem também a confraternização, razão senão principal, pelo menos importante, pela qual foi sacrificado o cevado.
Este é um ritual que se repete ano após ano por esses montes e aldeias fora, que apesar das ligeiras introduções técnicas, se tem mantido inalterável ao implacável relógio do tempo.
Tenho lido que por razões sanitárias e a mando da União Europeia esta actividade que apesar de ilegal é de algum modo consentida, vai a breve trecho passar a ser verdadeiramente clandestina e fortemente punida por quem a praticar, o que quer dizer, que logo que estes senhores o entendam, darão uma forte machadada na nossa identidade e na maneira estar no mundo de que tanto nos orgulhamos, condenando-nos assim, a uma normalização que me recuso a entender e a perfilhar.
7 Comments:
ola Napoleao esta uma coisa mal estou a tirar os lombinhos e depois aparece a abrir o corpo
Amigo carlos,
Chama-se a isso montagem. Não posso por em minuto e meio quase meia hora de filmagem. Não sei se consegues ouvir o som da musica, eu no meu computador não consigo, tenho que ver o que se passa.
Abraço
Tens razão carlos,
Ovrigado por e teres alertado. Hoje ao longo do dia será feita a respectiva alteração.
Isso é que é atenção....
Este não gosto...............
Ó Napoleão! Estava eu deliciada a ler a sua descrição, tão viva e realista, de uma das tradições mais antiga e popular do nosso povo, quando abri o vídeo e digo-lhe que não gostei, achei muito bárbaro e violento. Eu sei que é assim que tudo se passa, mas não gosto de ver. A gora como é que eu posso voltar a comer uns torremos, bem fritinhos, com uma fatia de bom pão alentejano e um bom copo de vinho? Não podia ter feito um vídeo do depois da matança? Por exemplo com todos já em roda á volta da fogueira a assar as febras e um bom cante no final? Teria sido menos impressionante, mas,pelo sim pelo não, traga lá uns torresmoszinhos para eu ver se sou capaz de lidar com o assunto. Um abraço.
Eu sei que o video pode ser chocante para almas mais sensiveis, mas o riutal da sacrificio do animal é este e não posso fugir ao tema que até está de acordo com o texto.
Quanto aos torresmos, pensei hoje em si quando deparei com os torresminhos na secção de gourmet do El Corte Inglés e até lhe digo mais, vou por lá passar compro uma embalagem de dou-a à Isabel para lhe levar....e que tal!!!
Muito obrigado pela lembrança, mas não é desses que eu quero. Eu sei que se vendem torresmos, ditos autênticos, em alguns supermercados, e mesmo no El Corte Inglês serão provavelmente de bom porco espanhol pata negra. Mas dos que eu tenho saudades é daqueles feitos em casa, de preferência alentejana, cortados grosseiramente sem grandes preocupações de apresentação, que não vão para os circuitos comerciais. Em Stª Cruz, zona Oeste onde tenho uma casa de praia ( a Isabel conhece ), eu encontrava desses no talho, que eram feitos por alguem de confiança conhecido do dono,mas como diz no seu texto, a mando da União Europeia por razões de higiene sanitárias tambem foram proibidos de vender. Aqueles lá de Bruxelas são uns enjoados e vê-se bem que nunca comeram uns torresmos à séria, nem uma dobradinha à maneira e tão pouco uns jaquinzinhos fritos com açorda de coentros. Só fico com água na boca quando a Isabel me conta o que o Napoleão lhe costuma trazer do seu Alentejo, torresmos, azeitonas, queijinhos, pão e etc.
E pergunta o Napoleão, mas porque é que a Isabel não lhe leva um bocado para o aeroporto? Porque amigas amigas petiscos à parte. Obrigada pela sua paciência, um abraço.
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