Entradas - A Revolta dos Deuses
No momento em que escrevo, parece que os deuses estão seriamente zangados com os Entradenses. Do céu jorram picaretas em catadupa, a água derramada é tanta que os barrancos há muito que transbordaram. A ribeira galgou o seu leito de sempre e agora serpenteia vertiginosamente pelos campos em busca de novas camas onde se deleitar.
A chuva já caía incessantemente há horas
O barranco ameaçava saltar o pontãoÀs 9.30 era este o cenário ameaçador que se avizinhava
O lavadouro já começava a submergir pelas 9.30 horas
O porto de Albergaria apresentava este aspecto às 10.00 horas
Esta é sempre uma altura de preocupação, até porque as casas parecendo que estão termicamente isoladas, não o estão para tantos esgarrões seguidos.
Na parte baixa de Entradas algumas habitações são contempladas com a visita inoportuna da água barrenta que entra sem pedir licença, causando naquela gente trabalhos e preocupação redobrados.
Faz precisamente hoje nove anos que a revolta dos deuses se fez sentir. Nessa altura veio pela calada da noite apanhando toda a gente desprevenida, até porque, a tempestade fez com que a corrente eléctrica fosse cortada.
Nesse fatídico 5 de Novembro de 1997, famílias foram desalojadas, casas e muros ruíram dando ideia de um cenário dantesco de fim do mundo.
Aqui perto, na aldeia do Carregueiro morreram várias pessoas e a povoação foi parcialmente destruída. Aqui em Entradas foram feitas ou corrigidas várias obras que permitiram que nesta efeméride, e apesar da muita chuva (provavelmente mais que em 1997) a coisa não passasse de um espectáculo que sendo preocupante é sempre delicioso de ver a mãe natureza em acção.
10.00 horas Entradas
Bem, quando escrevi o texto acima pensava que o pior havia passado, mas, na verdade, o pior ainda estava para vir.
Eis senão, quando de um céu que parecia querer cair-nos em cima, veio um tal dilúvio que inundou casas e campos num abrir e fechar de olhos.
O barranco que corre no meio da vila transbordou e a água galgou ruas e casas. De repente veio-nos á cabeça a repetição da história que, por ironia, se fazia anunciar no mesmo dia do ano.
A casa de meus pais rapidamente se inundou, assim como as dos vizinhos, mas o verdadeiro cenário dantesco corria nas agora furiosas veias da ribeira de Terges.
Quando comecei a escrever o texto disse que esta galgou as margens qual criança irrequieta, o que agora presencio, é uma torrente demoníaca que jamais havia testemunhado.
De repente...o mar, e ainda ficaria pior. As manilhas que se vêm ficaram cobertas, não sei se não terão ido água abaixo.
O lavadouro duas horas depois da primeira foto...e a coisa ainda piorou
As barreiras metálicas da ponte recentemente construída foram arrancadas ao seu travamento como se de um brinquedo se tratasse. A água penetrou nas casas ribeirinhas sem se fazer anunciar deixando pessoas sem lugar nem haveres. Muros e árvores foram levados por esta fúria incontrolável perante a impotência dos presentes.
Nos rostos dos Entradenses notava-se uma invulgar preocupação, a água teimava em cair dos céus em torbilhões e nas vozes e semblantes de alguns adivinhava-se um qualquer final dos tempos.
Felizmente a coisa amainou. As entidades municipais trataram de solucionar os problemas dos desalojados, enquanto os outros se entregaram à tarefa de limpar e avaliar os prejuízos causados por esta zanga de deuses.
18.00 Algarve
PS: Amanhã vou colocar um pequeno video demonstrativo da força das àguas
2 Comments:
Bom dia
Depois do rescaldo das cheias de ontem, hoje de manhã às 8h00 quando saí de Entradas, tudo parecia adormecido...a rebeira voltara ao seu leito e corria tranquila, as pessoas resignadas ao poder da natureza esperam que não volte a chover, estão animamdas porque na meteorologia anunciaram a deslocação das chuvas mais para a zona rebeirinha de Santarém.
A natureza está zangada com os Homens, cada vez mais ela se defende atacando-nos com maior ferocidade. Felizmente não houve vítimas mortais como há precisamente 9 anos atràs
O amigo Pulanito põe sempre muito de seu nos textos que escreve, pessoalmente gosto, mas aprecio mais o registo irónico de alguns dos seus escritos. De qualquer maneira percebi na perfeição o drama das gentes de Entradas, terra que só conheço através do pulanito quando um amigo me aconselhou a ver o blog deste " ganda maluco" que andava a dar a volta a portugal em bicicleta sózinho. Sempre quis comentar mas era dificil, só agora consegui.
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