domingo, abril 26, 2009

30 DIAS - Nova Newsmagazine nas bancas a 30 de Abril

Capa do primeiro número da revista 30 dias


No próximo dia 30 de Abril nascerá uma nova publicação alentejana. Vai chamar-se “30 DIAS” e tem a chancela da empresa JCB comunicação e imagem Lda, que é proprietária do semanário Correio Alentejo.
António José Brito, director deste jornal e da nova revista que chegará na próxima semana às bancas, é um Entradense que tem dado provas de que é possível navegar nas parcas águas do cinzento e deprimido panorama editorial alentejano.
Quando o AJB me convidou para escrever nesta nova publicação, aceitei de imediato, não só porque não se diz que não a um amigo, mas também porque me pareceu um rasgo de coragem e oportunidade investir num meio de comunicação em suporte de papel.
A nova revista contará com um núcleo de cinco jornalistas, dois fotógrafos, bem como um leque de colunistas de qualidade que abrilhantarão a nova publicação.

“30 DIAS” é um título que pretende dar um grande relevo às questões sociais da região, aos novos projectos económicos, à cultura popular e aos bons e maus exemplos que em todos os quadrantes existem nesta terra.

Será com um jornalismo atento, capaz de investigar e reflectir sobre o Baixo Alentejo, que estará nas bancas todos os meses, com uma edição média de 72 páginas totalmente a cores.

A revista “30 DIAS” terá um desenho gráfico moderno e arrojado, num projecto desenvolvido pelo atelier I+G de Sérgio Braga.

Com um custo de capa de dois euros, a “30 DIAS” será distribuída em todo o Alentejo e na Grande Lisboa, com uma tiragem inicial de 5.000 exemplares, chegando às bancas no dia 30 de cada mês.

Resta-me desejar ao António José Brito e a toda a sua equipa, uma longa vida editorial à mistura com um pouco de sorte, que seguramente o resto virá por acréscimo.

Escrito por pulanito @ abril 26, 2009   3 comentários

terça-feira, abril 21, 2009

Em Junho, Lisboa Vai Ser a Capital da Palavra; Vem Aí o Festival Silêncio!


De 18 a 27 de Junho, Lisboa será palco de um evento em torno da palavra dita: o Festival Silêncio! Trata-se de um evento internacional dedicado às novas tendências artísticas e novas expressões urbanas que cruzam a música com a palavra: dos concertos à poetry slam, dos debates às conferências, dos audiolivros às leituras encenadas e aos espectáculos transversais e de spoken word. Promover encontros entre poesia, música e vídeo, reunindo alguns dos mais conceituados artistas portugueses, franceses e alemães. Debater o futuro de novos suportes como o audiolivro convocando escritores, jornalistas e editores. Dar a conhecer as mais recentes tendências artísticas nesta área é o objectivo do Festival Silêncio!
A palavra tem adquirido nos últimos anos uma nova dimensão na arte urbana e contemporânea, invadindo os palcos de inúmeros festivais internacionais, bem como de clubes e bares das grandes capitais. Cidades como Berlim, Londres, Nova Iorque e Paris, oferecem uma programação diversificada de espectáculos onde a palavra se cruza com a música e com o vídeo.
Pela primeira vez, Lisboa vai integrar-se nessa dinâmica. Tendo como temática central a arte de escutar e a palavra dita, este festival reúne um conjunto de eventos de diversas áreas artísticas e pretende atrair a atenção para estes novos fenómenos que estão a agitar a indústria livreira e discográfica a nível mundial. Queremos que o Festival Silêncio! se posicione no futuro como um evento de referência em torno desta nova expressão trazendo aos palcos portugueses grandes nomes da cena artística actual.
No ano em que se celebra o Bicentenário do Nascimento de Louis Braille (1809-1852), Lisboa vai dar lugar à palavra, aceitando o silêncio quando ele se impõe.

O programa é algo extenso e posso-o enviar por mail a quem o desejar e logo que esteja na net aqui linkarei o mesmo. No entretanto deixo-vos o programa para o dia onde irei estar presente.

Programa do Music Box para o dia 19 de Junho


23h30. Absolut Poetry - Poetry Slam Espectáculo de slam poetry com Sam the Kid, Viriato Ventura, John Banzai e Marc-Uwe Kling
MusicBox (10€ Bilhete válido para todos os espectáculos da noite)

01h30. Absolut Poetry - Live Act Live act com John Banzai (MC) e DaVido (DJ)
MusicBox (10€ Bilhete válido para todos os espectáculos da noite)
02h30. Silêncio! Clubbing DJ Set - Tiago Santos (Cool Hipnoise), VJ Set - Daltonic Brothers e Tiago Santos.
MusicBox




Pequena Biografia dos Intervenientes dessa noite



Sam The Kid (PT) Um dos mais bem sucedidos rappers portugueses e o impulsionador do grande boom do hip hop nacional no final dos anos noventa. Aclamado pelas suas poesias marcadamente críticas e mordazes, a sua música distingue-se pelo recurso criativo a samples e gravações. O seu álbum Pratica(mente) alcançou o Disco de Ouro.



John Banzai (FRA) Simultaneamente poeta, escritor, cantor e letrista, este artista anglopolaco costuma dizer que declama em francês numa língua estrangeira. Com a sensibilidade à
flor da pele, a sua escrita mergulha-nos num universo único e sensual e a sua poesia é o prolongamento sincero da sua personalidade. Divertido e muito carismático, Banzai é, sem
dúvida, um dos maiores poetas da sua geração e uma fonte de inspiração inesgotável para muitos artistas.



Marc-Uwe Kling (GER) Vive actualmente em Berlim-Kreuzberg e estudou Teatro e Filosofia. Iniciou a sua carreira de slammer em 2003, tendo criado o seu próprio palco de leitura com o nome “Lesedüne”. Trabalha, desde 2007, na organização e moderação de Poetry Slams em Berlim e Potsdam estando actualmente em digressão pela Alemanha com o seu mais recente projecto, “Die Känguru Chroniken” (“As Crónicas do Canguru”). Foi galardoado com vários
prémios graças aos seus slams, como, entre outros, o Prémio Nacional Alemão de Poetry Slam em 2006 e 2007.



Viriato Ventura (PT) Cedo descobriu a alquimia das palavras, e com ela, entreteve grande parte da juventude, publicando ocasionalmente algum do seu material. Depois de um longo interregno foi convidado por Sam The Kid (seu filho) a ressuscitar o personagem Viriato Ventura, que viria a colaborar no disco “Pratica(mente)” com dois poemas de sua autoria:Pratica(mente) e Slides – Retratos da Cidade Branca. Escreveu ainda um tema para a Mixtape -De Volta ao Serviço -do DJ Cruzfader, participou também com o poema “ Subúrbio” no disco de Dino & Soul Motion – Eu e os Meus, e ainda com Sam The Kid no disco de homenagem a Fernando Pessoa- HipoPessoa entre outras dispersas colaborações em jornais, revistas e blogues.

Escrito por pulanito @ abril 21, 2009   5 comentários

quinta-feira, abril 16, 2009

Pensamentos de Fim de Tarde




E pronto. Um copo de tinto alentejano, um panito torrado com paté e uma folha em branco, são os ingredientes que me foram dados para pôr em forma de letra os pensamentos que se me atravessam.
Ontem comprei o DVD de Leonard Cohen – Ao vivo em Londres, para quem como eu gosta, é simplesmente avassalador, arrepiante. São quase três horas de pura alquimia deste velho príncipe dos trovadores que aos 73 anos demonstra estar numa forma física, musical e poética a todos os níveis invejável.


Comprei igualmente o Breviário das Almas, último livro do Bejense Joaquim Mestre –, director da biblioteca de Beja e prosador de raro talento.
Li a primeira página e foi o suficiente para me cativar. Joaquim Mestre fala da alma alentejana da maneira que eu gosto. Parece-me que tudo se passa ali na rua do monte, esse pequeno universo feito de silêncios e de outros sons que marcam o passo e o compasso da vida consoante a proveniência de cada um deles.



Tenho vários projectos em mente que me manterão ocupado nos próximos tempos, mas que sempre me deixam algo inquieto, preocupado, até que os veja concluídos.
Fui convidado pelo meu filho Samuel para com ele fazer uma performance poética durante o Festival Silêncio que terá lugar no dia 19 de Junho no Music Box no Cais do Sodré em Lisboa (antigo Texas Bar para os mais velhos), local onde a cultura alternativa tem lugar marcado em quase todos os dias da semana.
Deste evento, trarei noticias mais detalhadas logo que tenhamos delineado o alinhamento do mesmo. Posso-vos dizer no entanto que iremos compartilhar o palco com dois “monstros” internacionais, John Banzai e Mark Uwe Klint, fazendo com que um certo nervoso miudinho se vá de mim apoderando.
Este festival decorrerá em vários locais de 18 a 26 de Junho, designadamente no Goethe Institut, Institut Franco Portugais e no Music Box. Mas sobre este assunto lá mais para a frente trarei notícias frescas.
Terei um destes dias de passar pelo estúdio Khimera do amigo Pedro (Reflect) e gravar o poema “Máscaras”, para o Helder Encarnação musicar, tanto mais que faço questão que este seja um dos trabalhos a apresentar no festival.
Quero que este poema tenha a sonoridade da guitarra portuguesa que o Helder dedilha e domina na perfeição.
Continuar com o meu plano alimentar de modo a não ganhar peso, é outro dos desafios que me absorve, tanto mais que, a partida para Santiago de Compostela está aí ao virar da esquina e os quilos a mais que sendo uma benesse nas descidas são um suplicio nas subidas e até Santiago ao longo de mais de 1000 quilómetros irei encontrar algumas que são autenticas paredes.
Vai ser a segunda vez que me aventuro neste percurso, sendo que desta vez partirei do Algarve o que quer dizer que quando me juntar à minha equipa já terei nas pernas perto de 300 quilómetros e a primeira etapa conjunta será de 160, o que quer dizer que vou fazer em três dias perto de 500 quilómetros, para tal tenho de me preparar de modo a que o sofrimento seja transformado em prazer e a partir de 5 de Junho (com as habituais crónicas aqui no Pulanito), possa fazer a contagem decrescente até ao quilómetro zero da praça da catedral de Santiago, que acreditem: é uma sensação absolutamente única. Depois só apetece dar a bicicleta ao primeiro cigano que encontrar, mas isso já é outra conversa; é o reverso da medalha.
Depois iremos de tapas por Santiago e beberemos (seguramente demasiado) para celebrar este ímpar acontecimento das nossas vidas.
Como só tinha uma folha de papel e não vos quero maçar fico-me por aqui com estes pensamentos de fim de tarde.

Escrito por pulanito @ abril 16, 2009   4 comentários

segunda-feira, abril 13, 2009

De Porches a Entradas

Decidi este ano de oferecer a mim mesmo como presente de aniversário uma pequena viagem de bicicleta de casa a casa, ou seja: da minha casa no Algarve á minha casa em Entradas.
Inicialmente pensei fazer a coisa pela Serra do Caldeirão direito a Almodôvar, depois Castro Verde e depois Entradas.
Levantei-me de manhã, vim à rua e reparei de imediato que o vento ia ser o meu inimigo número um desta jornada.
Por esta altura ainda tinha em mente fazer o percurso inicial, via Serra do Caldeirão, mas chegado à N125, vi de imediato que a coisa não ia ser fácil.
Lá fui pedalando estrada fora. Quando cheguei a Pêra fiz agulha para Algoz, onde tomei a direcção de Messines Aí chegado ponderei continuar para Loulé e Serra do Caldeirão, mas se o vento aqui era forte, por essas paragens devia ser penoso, vai daí, decidi-me pelo IC1, que é uma estrada onde não se pode bicicletar, mas era arriscar ou voltar para trás, o que não era de todo aconselhável.
Lá me meti no IC1 sempre á espera que alguma patrulha da UMT me viesse avisar, multar ou no mínimo repreender, mas tal não aconteceu em dia de sexta-feira de paixão.
Ali antes de São Marcos da Serra, havia uma feira de antiguidades que pela sua dimensão me levou a efectuar uma paragem apenas para fotografar tão inusitado evento e de que aqui deixo foto a colorir a esta paisagem apenas feita de palavras e mais absurdas palavras.

Feira de Antiguidades no Gasolinas



Continuei viagem em segurança pela escapatória desta excelente estrada, e lá fui pedalando, galgando quilómetros uns atrás dos outros. Passo São Marcos e a estrada começa a empinar. Resolvo poupar forças e subo devagar. Ouço no meu auricular alguma da música que me tem acompanhado ao longo dos tempos e assim amenizo o cansaço que já se adivinha na minha ofegante respiração.
Ao cimo do primeiro monte passo pela primeira vez em velocidade de parar junto ao santuário da virgem da cortiça, como lhe chamam os populares.
Fruto da crendice popular, este sítio começou a ser local de peregrinações de populares que aos poucos lhe foram construindo altar, onde colocam ofertas flores e imagens que lhes amenizam muitas das dores da alma, e contra isto nem tujo nem mujo. Nós somos aquilo em que acreditamos e se acreditar que vir aqui faz com que pelo menos as pessoas momentaneamente se sintam em paz, penso que já vale a pena.


O altar construído em honra da senhora em que a cortiça cheira a rosas





Afinal o cognome da venerada é - Nossa Senhora da Bondade

Visito o local, acho graça aos bancos onde os fiéis se recolhem em oração. Toscos, ingenuamente construídos, mas por estranho que pareça gosto do jogo plástico dos mesmos.
Regresso à estrada e volto de novo a pedalar com a genica que a paragem me concedeu (ou será que foi do local?), e lá vou eu estrada abaixo estrada acima com o maldito vento sempre de frente a roubar-me a velocidade e a exigir de mim um esforço muito maior.
Esta poderá ser também o mesmo percurso da minha primeira etapa aquando da ida a Santiago de Compostela, apesar de eu preferir abalar de Faro e efectuar o percurso natural do caminho peninsular de Santiago.
Com estes pensamentos e mais os jogos mentais com que me entretenho com o conta-quilómetros chego a Ourique. Penso que a partir daqui vai ser uma papa, e como vou apanhar o vento de costas até quase nem preciso de pedalar. Não foi assim mas quase!
Cheguei rapidamente a Castro Verde e dali a Entradas esses dez quilómetros quase não contaram, pois assim que avisto a torre sineira da minha terra ganho forças que pensava já não possuir e lá vou eu.


Oh pra mim todo contente.

Pronto aqui fica o relato estapafúrdico de uma viagem ventanosa em que terminei cansado mas feliz.

Escrito por pulanito @ abril 13, 2009   2 comentários

quarta-feira, abril 08, 2009

Por Terras de Divor

Baptizando a Barnarda - a nova biclas do Carneiro



Ir a Divor, é mais que um dever, é quase uma devoção, tal é a amizade com que somos recebidos pelos nossos anfitriões e companheiros do pedal.
Estávamos convocados para o inicio da época pedalante e aproveitando para falarmos sobre a ciclo-peregrinação anual a Santiago de Compostela que terá este ano lugar a partir de 7 de Junho para os da Graça do Divor, mas para mim dois dias antes, já que parto do Algarve este ano, procurando não me afastar do caminho peninsular que conduz a este secular e místico santuário. De qualquer modo estou a preparar post especial a assinalar a preparação mental para tão larga epopeia.

De Lisboa vieram três companheiros: o Carneiro mais conhecido pelo Incrível Hulk, o Bernardo e o Duarte que vão engrossando o pelotão da equipa de Divor e que logo ali se comprometeram a partilhar trajecto e farnel até terras de Santiago, o que assim sendo e segundo o grande chefe (o gajo é mesmo grande) J. Miguel fecha as inscrições para a grande epopeia anual que leva estas almas a pedalar largas centenas de quilómetros e no meu caso seguramente mais de 1.100.







O nosso anfitrião (o calmeirão de azul) Joaquim Miguel adquiriu esta preciosidade, que me fez lembrar a bicicleta onde aprendi a andar.



Então vamos lá ao resumo da jornada:

De referir que este percurso foi feito em bicicleta de montanha. Saímos da Graça do Divor em direcção a Arraiolos por estrada alcatroada. Percorridos uns parcos quilómetros entrámos campo dentro até encontrarmos a ciclo-via que liga Évora a Estremoz numa distância de 21 quilómetros, aproveitando uma linha de comboio há muito desactivada.
É de facto outra loiça pedalar em segurança e sem a intrusão de viaturas motorizadas, podendo circular em bloco, conversando, cantando ou mesmo parvejando conforme for a vontade de cada um.



Pedalando pelas silenciosas estradas alentejanas

Aqui abro um parêntesis para me referir ao pensamento que me atropelava o sentido aquando da nossa entrada por esta desactivada via.
Penso para com os meus botões que este Alentejo, sendo também ele parte da terra chã que a quase todos os do grupo viu nascer, pouco tem a ver com o Alentejo onde debutei para o mundo.
Amo a minha terra como a nenhuma outra no mundo. Amo a rudeza das gentes, das casas e dos campos. Amo a luz e o verde que inundam os campos a perder na lonjura.
Amo os horizontes sem fim e mais o voo pesaroso da abetarda. Amo o silêncio e o perfume inebriante das flores silvestres e das outras que crescem nas margens dos regatos com que tempero açordas e sonhos de sonhar amanhãs. Amo os pastores, as ovelhas, os cães e os chocalhos e amo os amanheceres e os fins de tarde onde o ciclo da luz em forma de bola de fogo se fina por detrás do monte que ondula no recorte da paisagem.
Amo a Primavera, o Verão, o Outono, o Inverno e aquela estação indeterminada que inventamos para regalo da nossa contemplação.
Amo a minha terra como amei em tarde de primeiro amor, como num relato incendiado de dois corpos que se entrelaçam e explodem em espasmos viscerais.
Amo a minha terra, mas também gosto desta, que não sendo minha também gostava que fosse.
Aqui no Alentejo mais alto, existe um outro cuidado com o património que me agrada de sobremaneira. Gosto da arquitectura senhorial, mas também gosto da altivez das chaminés da arquitectura popular. Gosto da riqueza gastronómica da região. Gosto da razoabilidade das distâncias entre terras, gosto de gostar de aqui vir, mas acima de tudo gosto das pessoas e gostar de pessoas é um vício de que me não consigo livrar.
Pronto! Era nisso que ia a pensar quando alguém do grupo resolveu mudar de agulha e levar-nos a uma elevação amuralhada do tempo dos mouros onde fizemos uns “bonecos” para a posteridade.


O grupo numa paragem por alturas de visita cultural a fortificação mourisca

De regresso à ciclo-via em dia de sábado deu para ver como as comunidades vizinhas deste equipamento usam e abusam dele dando-lhe a merecida utilidade, trazendo de novo vida a uma linha que já foi de ferro e que por estar morta foi em definitivo enterrada.
Os derradeiros quilómetros desta via fazem-se por alcatrão e com iluminação para que os que não possam aqui exercitar-se de dia o façam quando a noite cai.
Em Évora era dia de chegada da última etapa da Volta ao Alentejo junto ao templo de Diana. Uma subida puxadota, enrolada, estreita e empedrada. Todos os condimentos para uma chegada emocionante caso o piso não provoque aos profissionais as mesmas maleitas que os amadores sofrem sempre que beijam o alcatrão ou o empedrado.
Regressámos pela mesma via à Graça do Divor onde nos esperava em casa do Joaquim Miguel um repasto sublimemente preparado por Maria Adelina e pela Guilhermina. A primeira, esposa do Joaquim Miguel e a segunda, amiga e ajudante de serviço.


Aspecto do almoço - Não é de admirar que o caminho de Évora para Divor fosse feito a 100 à hora - Foto surripiada na taska do Xiclista, porque a minha máquina ficou sem bateria.

Desde os aperitivos, à divinal açorda de camarão, passando pelos bifinhos ousando ainda provar algumas das sobremesas devo dizer que já estive em casamentos menos apetrechados.

O Carneiro brindou-nos com a sua ginja de Óbidos caseira cuja receita está guardada na cabeça do seu velho pai, um segredo que o Carneiro deverá herdar e por sua vez honrar, trazendo ocasionalmente até nós uma garrafinha desse precioso néctar.

A tarde voou mais rápido que as garrafas de vinho que Joaquim Miguel insistia em abrir uma atrás de outra.
Fiquei com a sensação de que matámos umas saudades que há algum tempo nos apoquentavam, reacendemos a chama da amizade celebrada à boa maneira alentejana e combinámos novas pedaladas para os domingos de Primavera que hão-de vir.

Escrito por pulanito @ abril 08, 2009   5 comentários

segunda-feira, abril 06, 2009

Alguns dos Meus Locais de Eleição



Sou um fervoroso adepto da boa cozinha portuguesa. Sou mesmo capaz de percorrer dezenas ou mesmo centenas de quilómetros para degustar uma especialidade qualquer, visitar um desses templos repastantes que aqui e ali ainda se vão encontrando.
Quando gosto, fico fiel cliente, recomendando e publicitando junto dos meus amigos e parceiros, alguns desses locais de eleição.
Nos meus périplos gastronómicos haviam até há pouco tempo três templos que visitava com regularidade quase monástica. A Bordo com o Carlos em Benagil – Lagoa, A Taberna da Maré em Portimão e a Taberna A Cavalariça em Entradas.
De uma penada e um atrás de outro fecharam estes meus locais de eleição, deixando-me órfão, obrigando-me a procurar outras paternidades gastronómicas.
A Cavalariça fechou a sua centenária e linda taberna, local de convívio de Entradenses e forasteiros, mantendo aberto o restaurante o que sendo uma, não é a mesma coisa.
Ficou o dedo culinário da proprietária e minha conterrânea Maria João, mas perdeu-se a patine do tempo que habitava nas camadas de cal das paredes seculares daquele espaço.
O meu amigo Carlos resolveu dar fim à sua actividade restaurativa, não só pelo cansaço dos anos a que às comezainas se dedicou. Durante esses anos tratou por "inhos" os mimos com que nos brindava, nunca se esquecendo de relatar a proveniência de tão raras iguarias, quase sempre das fraldas da Serra de Monchique ou do Alentejo profundo que tanto ama, mas aproveitou a incapacidade de se adaptar às novas regras das novíssimas brigadas de costumes que o visitaram e lhe exigiram um rol de alterações que este depois de ponderados prós e contras, decidiu-se pelos contras e mandou-os dar uma volta ao bilhar grande.
Aqui, A Bordo Com o Carlos celebrei vida e aniversários, pedi a minha mulher em casamento e aqui casei em 1998. A cada 26 de Setembro que passava o amigo Carlos tinha sempre o cuidado de me convidar a jantar por conta da casa de modo a celebrar essa festiva data.
Estive lá no jantar de despedida com outros efectivos, sócios fundadores ou mesmo amantes daquele que foi no Algarve o primeiro templo da Slow Food.
Foi um jantar de despedida, assim como que uma espécie de velório que juntou alguns dos indefectíveis que por aqui pousaram durante anos.
Na Taberna da Maré do amigo Zeca aprendi a degustar as coisas divinalmente simples da cozinha algarvia, com especial relevância para os pratos marítimos, não fosse esta pequena taberna estar ali, a babujem do rio Arade onde em tempos não tão distantes como isso, aportavam as traineiras, cujos mareantes descarregavam o pescado vivo com as suas canastras de vime..
Um belo dia do ano passado ( mais ou menos por esta altura do ano), fui almoçar à Taberna da Maré. Aí chegado dou com o edifício onde esta se insere completamente de pantanas.
Pensei que também este pequeno templo da boa gastronomia algarvia tinha sucumbido à voragem duma modernidade, que pelo menos a mim já me vai revoltando as tripas.
Fiquei a saber que o Zeca tinha decidido entrar em obras. Talvez exigências da ASAE ou coisa que o valha..pensei para com os meus botões, mas sempre com a sensação de que melhoramentos neste tipo de casas, são regra geral sinónimo de descaracterização.

Quando as obras terminaram, e mesmo já passado o Verão de 2008 regressei a este templo gastronómico, o passo com que o fiz denunciava algum receio do que iria encontrar.

Aí chegado reparei que estava tudo igual, tudo na mesma com alguns melhoramentos é um facto, mas em vez de uma taberna o Zeca tinha construído duas tabernas, com o mesmo gosto que o celebrizou, com a mesma decoração de taberna ribeirinha. As fotos antigas dum mestre fotógrafo local, são um elogio à sensibilidade de quem olha com olhos de ver e congela momentos da faina beira-rio, das profissões ou mesmo apenas e tão só, a expressão num rosto sulcado pelo sal e pelo sol.

A comida continuava divinal. As saudades que eu tinha da raia de alhada, do polvo grelhado, das cavalas alimadas ou grelhadas com orégãos. Dos jaquinzinho fritos com açorda; da salada á algarvia, do panito cortado a preceito; do tempero das azeitonas como só a mãe do Zeca sabe fazer,; do vinho algarvio da Quinta do Morgado do Reguengo que homenageia os novos sabores vínicos da produção Algarvia.
A rematar as bolinhas de figo com amêndoa, o cafezinho e mesmo para finalizar o minúsculo copito de genuíno medronho. Tudo isto a um preço justo, mas nunca desmesurado apesar do nome que a casa granjeou.

O Zeca, não só nos apaparica com estas ancestrais receitas, que nas alquimistas mãos de sua mãe ganham adjectivos de magia, como também nos alimenta o pavilhão auditivo com pérolas musicais da música portuguesa que tanto pode ser de agora como de outras épocas, mas deixando no ar a sensação de que os ouvidos do comensal também merecem ser alimentados.

Fica no ar o meu secreto desejo de um destes dias ser surpreendido com a reabertura da Cavalariça, ainda que reaproveitada noutros moldes, mas sempre espaço de convívio e da alma Entradense, que para algumas pessoas é coisa sem importância, mas para outros poderia ser o renascer de um novo ciclo que Entradas já viveu e que tão bons frutos deu.

Do Carlos espero sempre um telefonema, que tanto pode ser para almoçar com ele na tasca mais recôndita que descobriu, como pode ser um convite para a inauguração de um novo espaço onde o seu dedo e a sua paixão pelas iguarias com a chancela de “ produto natural”.
Um destes dias aí o teremos com o seu inseparável lenço de seda ao pescoço, sobre os ombros o seu blazer de capitão e para compor o ramalhete o seu famoso assobio que soa a serrote de palhaço rico em dia de actuação circense.

Escrito por pulanito @ abril 06, 2009   2 comentários

Deixe aqui a sua opinião sobre o Fado!

Links

  • Jardins de Inverno
  • um e o outro - blog do Tim
  • Casa Das Primas
  • Oxiclista
  • correio alentejo - um jornal a ter em conta
  • Mokuna
  • Alojamento grátis em mais de 1300 hotéis. 17 países da Europa
  • Insomnia - Um blogue alentejano a visitar
  • Prova Escrita
  • Alvitrando
  • A Cinco Tons
  • NeuroNewz
  • Tricotar o Tempo
  • Entradas Anteriores

    • Lugar Nenhum Ed Hoster e Napoleão Mira
    • Passagem Para a Índia
    • Incongruências
    • Santiago Maior - Napoleão Mira & Sam The Kid
    • Napoleão Mira na RTP
    • A Fé e o Medo
    • Napoleão Mira - AS Portas Que Abril Abriu - (Ary ...
    • Esta Lisboa Que Eu Amo Houve um tempo (lar...
    • Ribeira de Cobres
    • A Velha Pasteleira
    • Reveillon

    Arquivo

    • agosto 2006
    • setembro 2006
    • outubro 2006
    • novembro 2006
    • dezembro 2006
    • janeiro 2007
    • fevereiro 2007
    • março 2007
    • abril 2007
    • maio 2007
    • agosto 2007
    • setembro 2007
    • outubro 2007
    • novembro 2007
    • dezembro 2007
    • janeiro 2008
    • fevereiro 2008
    • março 2008
    • abril 2008
    • maio 2008
    • junho 2008
    • julho 2008
    • agosto 2008
    • setembro 2008
    • outubro 2008
    • novembro 2008
    • dezembro 2008
    • janeiro 2009
    • fevereiro 2009
    • março 2009
    • abril 2009
    • maio 2009
    • junho 2009
    • julho 2009
    • agosto 2009
    • setembro 2009
    • outubro 2009
    • novembro 2009
    • dezembro 2009
    • janeiro 2010
    • fevereiro 2010
    • março 2010
    • abril 2010
    • maio 2010
    • junho 2010
    • julho 2010
    • agosto 2010
    • setembro 2010
    • outubro 2010
    • novembro 2010
    • dezembro 2010
    • janeiro 2011
    • fevereiro 2011
    • março 2011
    • abril 2011
    • junho 2011
    • julho 2011
    • setembro 2011
    • outubro 2011
    • dezembro 2011
    • fevereiro 2012
    • março 2012
    • abril 2012
    • maio 2012
    • junho 2012
    • julho 2012
    • agosto 2012
    • setembro 2012
    • outubro 2012
    • novembro 2012
    • dezembro 2012
    • março 2013
    • abril 2013
    • maio 2013
    • junho 2013
    • julho 2013
    • outubro 2013
    • janeiro 2014
    • fevereiro 2014
    • março 2014
    • abril 2014
    • maio 2014
    • junho 2014
    • agosto 2014
    • setembro 2014
    • outubro 2014
    • fevereiro 2015
    • março 2015
    • abril 2015
    • fevereiro 2016
    • março 2016
    • julho 2016
    • agosto 2016
    • setembro 2016
    • outubro 2016
    • novembro 2016
    • abril 2017
    • maio 2017
    • junho 2017
    • julho 2017
    • fevereiro 2018
    • outubro 2018
    • Current Posts

    Powered by Blogger


 

 visitantes online