Pardal - Memorável passeio ciclista
Ultimamente só tenho aqui postado algumas actividades de fim-de-semana, altura em que tenho um pouco mais de tempo e em que me posso assomar aqui à janela do Pulanito.
É de facto ao fim-de-semana que a minha vida pode ter mais interesse, até porque é nessa altura que vou até Entradas e quer se queira quer não, apesar da aparente calmaria é lá que as coisas acontecem.
Tenho-me debruçado aqui ultimamente sobre essa nobre arte de andar a pé “ sem conhecimento” que dá pelo nome de caminhada ambiental, que tanto aqui no Algarve como lá pelo meu Alentejo, são actividades com enorme sucesso e a que cada vez mais gente adere.
Este fim-de-semana estava uma dessas caminhadas combinada, mas afinal, o amigo Pardal havia-se enganado na data, é só para a semana que vem, no dia 3 de Março.
Para colmatar falha tão grave, decidimos ir bicicletar. O Pardal que não deu pelos anos passarem já levava mais de 20 anos sem dar uma volta de bicicleta de jeito.
Lá fomos um pouco sem destino, com vontade de ir até onde as forças nos levassem. Pedalando e conversando passámos Castro Verde em direcção a Ourique, nesta estrada voltámos para as Piçarras ( estrada que fiz pela 1ª vez), depois cabeço da Serra e acabámos almoçando em Aldeia dos Fernandes, aqui a coisa ainda estava fresca, só tínhamos pouco mais que uma trintena de quilómetros nas pernas. Abalámos desta povoação direitos à mina de Neves-Corvo, depois Lombador, Santa Bárbara de Padrões, Namorados e finalmente Castro Verde. Confesso que não pensava que a volta fosse tão grande até porque não queria perder em futuras voltas a companhia deste meu amigo de infância e figura carismática de Entradas que dá pelo nome de Luis José Costa Batista, mais conhecido por Pardal, o melhor carpinteiro de Entradas (porque é o único em actividade) e sem sombra de dúvida o melhor na arte de tabernar. Quando o Pardal tinha a Cavalariça as pessoas iam lá por duas razões: Para beber, cantar ou simplesmente conversar ou quiçá a razão principal fosse trocar dois dedos de conversa com o taberneiro Pardal. Uma espécie de Cristiano Ronaldo das “ vendas” tal a sua imprevisibilidade e o poder de finta que os seus inéditos argumentos continham.
Fernando Alves, dedicou-lhe uma crónica e chamou-lhe carinhosamente “ o último Estalinista do Alentejo” provavelmente pelo seu indefectível amor ao PCP, partido de que é militante há várias décadas.O Pardal é um homem de causas, ou melhor, gosta de causas e gosta de tomar partido nas causas que abraça, mas fá-lo sempre pelo lado mais inesperado e extravagante que esta possa oferecer, sendo isso o que o torna especial.
Para exemplificar conto um episódio já com uns anos. Dia 5 de Março de (julgo) 2001 cai a Ponte Hintze Riberio em Entre Rios, regresso de Lisboa para Entradas debaixo de copiosa chuva, quando aí chego vou à Cavalariça e vejo que o Pardal está com alguns clientes em aceso despique. Quando olha para a porta vê-me chegar e dispara: Olha, chegou o Napoleão ele é que vai dizer. Como é que foi? Foi o tabuleiro que ao desabar fez cair o pilar, ou foi o pilar que caindo arrastou consigo o tabuleiro?
Não sei se perceberam, mas a onda é esta!
Onde é que eu ia? Ah…no regresso a Castro Verde parámos na bomba de gasolina, a partir daí e já com mais de 70 Km nas pernas o percurso era sempre a subir. À passagem pelo Marrachinho – confessou-me já em Entradas – tive para me desmontar e levar a bicicleta a pé, só não o fiz por vergonha!
Tirando este episódio, ficam para a história deste extraordinário dia , as fotos que aqui poderão apreciar, bem como o registo dos quilómetros percorridos que não sendo muitos são-no certamente para uma pessoa que já não andava a sério em bicicleta vai para 20 anos. BRAVO PARDAL! Foram mesmo 85.770 metros
Já eu me preparava para passar o resto da noite com o meu livro de companhia, quando me telefona o Pardal a convidar-me para ir com ele e com uma outra rapaziada comer uma lampreia, que por sinal é bicho que não comia há mais de 15 anos.Bem! Há o - "por trás do sol posto", o "cascos de rolha", o "Alentejo profundo", o "cú de judas" – mas, Roncão do Meio, fica lá mesmo "onde o diabo pariu a mãe", que é outra das expressões usadas, quando queremos demonstrar a peculiaridade da localização de certo lugar.
No Café do Moinho, abancámos com uma camaradagem de boa pinta, ao meu lado ficou um ser deveras curioso. Calado, tez branca e cara queimada, magro e ossudo. Dei comigo a procurar descortinar o que havia de curioso naquele homem. Não tardou em saber que era o acordeonista de serviço e que tinha no “moiral “ que carregava no semblante o seu mister principal. O acordeonista "moiral"Não posso deixar de referir a Sra Albertina que nos presenteou com umas sopas de peixe do rio ( Muje) e depois com uma lampreia de cabidela de se lhe tirar o chapéu.
Cantou-se a moda, acompanhada pelo acordeon, mas acima de tudo cantaram-se modas da zona que um dos convivas teimava em cantar para lá do razoável.
No final e já com acordeonista ligado á corrente, fez a rapsódia da abaladiça com as modas e canções que marcaram a juventude de muitos de nós.
Como não estou preparado fisicamente, não me envolvo na contenda. De qualquer modo as pessoas da minha terra, que são gente de virtudes, têm um defeito de se lhe tirar o chapéu. Em vez de incentivarem quem anda ali a sofrer sabe Deus quanto, vaiam e humilham os da terra, motivo esse que é a meu ver inibidor para quem decida participar num evento destes pelo simples prazer de competir. Os bravos do pelotão
Aqui fica uma foto desses bravos corredores. Não tenho fotos dos mais pequenos porque cheguei tarde. Fica para a próxima.
2 Comments:
Grande pardal...que saudades do nosso Pardal Taberneiro, sempre com as suas tiradas.
O Pardal é um Must....
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