Palavras Ditas
Para o Napoleão Mira.
Palavras ditas
Conheço um homem que é o sítio onde as palavras nascem. E no chão do peito há uma fonte e é lá que a boca se enche. Conheço um homem que tem um coração que é uma tesoura de cortar silêncios e fazer palavras. E do corte das lâminas nasce a voz e é lá que a boca se enche. Conheço um homem que sabe falar apenas com os gestos das mãos. Não precisa de mais nada, faz gestos com as mãos, faz desenhos no silêncio do ar com as mãos e abraça-nos com os dedos que são línguas a falar ao nosso ouvido e a derreter os nossos dias de ferro. Conheço um homem que tem poetas inteiros com esqueletos e tudo a viver dentro dele. Vivem dentro dele a fingir que estão mortos, só que não se calam dentro dele, desmorrem-se nas cordas vocais e ele é a voz dessa morte que não existe porque os poetas e os amigos de infância não morrem. Conheço um homem que tem poetas vivos a chorarem dentro dele e ele chora-lhes todo o alfabeto das lágrimas. E que grande é o alfabeto das lágrimas. Conheço um homem que tem uma voz grande e alta como uma abetarda no céu. E ao lado dela voam outros pássaros que são murmúrios e gritos e melancolia. As palavras ditas agarram-se à cintura da música e dançam e falam e desesperam. Conheço um homem que tem uma fornalha na boca para incandescer palavras.
Conheço um homem que é o sítio onde as palavras nascem. E no chão do peito há uma fonte e é lá que a boca se enche. Conheço um homem que tem um coração que é uma tesoura de cortar silêncios e fazer palavras. E do corte das lâminas nasce a voz e é lá que a boca se enche. Conheço um homem que sabe falar apenas com os gestos das mãos. Não precisa de mais nada, faz gestos com as mãos, faz desenhos no silêncio do ar com as mãos e abraça-nos com os dedos que são línguas a falar ao nosso ouvido e a derreter os nossos dias de ferro. Conheço um homem que tem poetas inteiros com esqueletos e tudo a viver dentro dele. Vivem dentro dele a fingir que estão mortos, só que não se calam dentro dele, desmorrem-se nas cordas vocais e ele é a voz dessa morte que não existe porque os poetas e os amigos de infância não morrem. Conheço um homem que tem poetas vivos a chorarem dentro dele e ele chora-lhes todo o alfabeto das lágrimas. E que grande é o alfabeto das lágrimas. Conheço um homem que tem uma voz grande e alta como uma abetarda no céu. E ao lado dela voam outros pássaros que são murmúrios e gritos e melancolia. As palavras ditas agarram-se à cintura da música e dançam e falam e desesperam. Conheço um homem que tem uma fornalha na boca para incandescer palavras.
Da lavra do meu amigo Vitor Encarnação, um poeta, escritor que o Ale tejo e o país deviam conhecer melhor.
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