Confissões de Um Sexagenário
Aos vinte anos julgamo-nos imortais. Aos quarenta, descobrimos que o não somos e, aos sessenta, preparamo-nos para a grande viagem. Esta é uma das inevitáveis conclusões da vida.
Digo isto porque entrei recentemente neste último escalão e, volta não volta, dou comigo a fazer balanços existenciais. Olho para trás e revejo a longa-metragem que tem sido o filme da minha existência para que, de algum modo, ainda possa projetar o futuro do que me resta.
Vislumbro no pré-velho que sou a criança que em tempos fui ( e que continuo a ser, mas isso é segredo entre escriba e leitor!) e, rememorando essa imaginária fita, distingo no gaiato sonhador prantado à torreira do sol, o ser pertinaz e inquieto que me tem acompanhado vida fora.
Agora que atingi a idade em que as mulheres são todas bonitas e os polícias mais novos que eu, dou comigo a pensar que a mocidade passou num ápice; foi assim como um ar que se lhe deu!
Dizem-me assim em jeito de chalaça, que vou passar a entrar nos museus sem pagar e usufruir de descontos nos transportes públicos. Que não tarda nada vou ter todo o tempo do mundo para finalmente desfrutar da vida.
Digam o que disserem, entrar no ocaso da vida é uma chatice e peras.
Aos poucos vão-se os sentidos esmorecendo. A visão começa a ser apenas periférica, a audição falha a cada instante, a mobilidade é cada vez menor e até a virilidade vai definhando.
O único dos sentidos que melhora com o passar dos tempos é o palato. Tal faz com que tenhamos mais apetite, logo, comemos mais, logo, mais furos no cinto, só que desta vez na direção oposta àquela onde os estamos habituados a fazer.
E, como se não bastasse, a sacana da próstata agiganta-se ocupando o lugar da bexiga obrigando-nos a urinar de hora a hora.
Depois, quando nos querem adjetivar, chamam-nos “charmosos” que, para quem não sabe, é um insulto delicodoce inventado pelas mulheres.
Assim uma espécie de código que usam entre elas, para nos dizerem com aquele sorriso sacana escarrapachado na cara: — Ó filho vai-te catar. Estás tão fora de prazo que já cheiras a naftalina!
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