sábado, outubro 22, 2011

A Rainha da Pradaria



Senhora Cristina Lança - A rainha da pradaria


Parece nome de filme de cowboys, mas é pura ilusão.
De cada vez que passava ao Monte dos Merendeiros, era obrigatório parar e visitar a Senhora Cristina Lança, mulher que aprendi a admirar, tanto pela sua coragem, como pela sua bondade, mas também pela serenidade da sua beleza.
Era uma mulher corajosa. Resistiu sempre a mudar-se para a aldeia. Dizia-me que ali, no monte, havia passado a sua vida, criado os seus filhos Luís e Ana, ali vira morrer o marido e ali queria passar o resto dos seus dias.
Garantia que o medo não a assustava!

Para o espantar, mostrava-me as espingardas que tinha à cabeceira da cama sempre carregadas e prontas para o que desse e viesse, coisa que fazia acariciando-lhes a cronha, sinónimo de que sabia lidar com elas caso fosse necessário.

Das muitas visitas que lhe fiz, umas vezes só, outras com a minha família, Dona Cristina sempre me recebia com a satisfação de quem tem prazer em repartir com o próximo o que tem de seu.
Costumávamos bebericar chá em chávenas domingueiras que ela trazia no bule das visitas. Depois, abria a lata dos bolos sortidos e ficávamos ali a escolher os sabores que estavam escondidos por debaixo das pratas de cores variadas e a ver descer o sol, que se assim se punha para lá do outeiro, anunciava mais uma noite de solidão à última resistente da pradaria.

Era impensável de lá sair sem provar os múltiplos licores da sua lavra, fruto de remota e apurada alquimia, cuja fórmula insistia em comigo partilhar, mas que eu recusava ouvir para não arruinar a magia que o momento proporcionava.

Não sei quantas vezes me contou a história da arca com moedas de ouro. Tesouro este, algures enterrado no enfiamento dos vários montes que da sua porta se viam apenas num determinado ângulo, mas que abrangia um território tal, que mesmo que um homem tivesse várias vidas e mesmo cavando todos os dias, do nascer ao pôr-do-sol, jamais o conseguiria encontrar.
Dei comigo a pensar que, se um homem cavasse todos os dias da sua vida e se na terra cavada semeasse o fruto que daí germinasse, mesmo que nunca encontrasse a tal arca misteriosa, teria encontrado o tesouro que era o fruto do seu trabalho.
Talvez fosse esta a moral da história de que Dona Cristina insistia em contar-me mais das vezes que por ali passava.

Quando era tempo das túberas e sabendo-me apreciador, fazia sempre questão de me guardar um pequena porção, para me poder deleitar com esta iguaria que só o olho treinado de quem trata por tu a terra sabe descobrir.

Dona Cristina alimentando os perus.

Vir embora dos Merendeiros sem qualquer presente era absolutamente proibido. Certo dia disse que me queria oferecer um galo, mas que teria de ser eu a apanhá-lo.
Lá fui para dentro do galinheiro tentar o impossível. Havia galinhas a esvoaçar, milhares de penas pelo ar e a respetiva caca nas mãos e cara para os que assistiam se poderem deleitar. Passada meia-hora desisti. Foi então que Dona Cristina entrou no galinheiro e em menos de trinta segundos trazia preso pelas asas o galo que fez questão em me ofertar.

Ainda hoje, quando por lá passo, revisito o espírito da mulher com olhos cor de mar, que me acena lá do alto e, que de espingarda ao ombro, continua a proteger este imenso território.
Não fosse ela a minha rainha da pradaria!

Crónica a publicar na Revista 30 Dias de Novembro de 2011

Escrito por pulanito @ outubro 22, 2011   19 comentários

segunda-feira, outubro 17, 2011

Facilitismos!


Este meu Pulanito, ultimamente parece um sem-abrigo sem eira nem beira, mal nutrido e mal cheiroso.
Já ninguém se lembra dele, quase ninguém o visita, eu próprio que sou o seu progenitor quase que o abandonei, os amigos deixaram de nele comentar, acham que esta coisa neste formato com muitas letras deixou de ter interesse. O que está a dar é facebookear e, escarrapachar a vida ilustrando-a com frases mais ou menos feitas, mais ou menos copiadas que é para dar cenário.
Eu também por lá ando, mas cada vez menos. Para dizer a verdade estou um bocado farto deste novo modo de vida “Stevejobiano” com tudo à distância dum clique; duma porcaria dum clique!
Tenho cá uma teoria de que o mundo está como está e este país é o que é, por causa dum pequeno pormenor chamado “facilitismo”. Tudo é fácil! Tudo é “easy”, esse conceito preguiçoso que nos vai aos poucos entorpecendo membros e cérebro.
Ainda ontem vi na televisão uma rapariga num desses programas “fáceis” onde basta aparecer para ter depois um país aos pés, a dizer que África era um país da América do Sul e depois ria-se, como os tolos, sem saber porquê!
E são estes exércitos de trogloditas que nos entram casa dentro em horário nobre. É claro que podemos sempre não ver. Podemos sempre ler um livro; montar um spitfire da Planeta Agostini; fazer sopa de feijão para toda a semana; reparar o autoclismo ou amolar a faca de cortar os pulsos.
Estou seguro que esta pequena que pensa que África é um país da América do Sul não sonha com o terramoto que aí vem. Na sua infinita ignorância, só se dará conta que o mundo está a mudar quando o centro comercial favorito deixar de abrir as portas.
Não tenho grandes dúvidas que este e os próximos anos, serão tempos que iremos no futuro recordar pelas piores razões e o facilitismo será uma delas.
A facilidade com que se passa a perna à justiça, dilatando prazos e levantando recursos virgulares e outras pequenas incongruências que aos olhos da invisual justiça são para se cumprir demore ele o tempo que demorar, não importando que esta se cumpra ou não.
A facilidade com que se justificam enriquecimentos repentinos depois de efémera passagem por esse centro de estágio chamado governo.
A ligeireza com que determinados indivíduos vivem ano atrás ano, na subsidiodependência obscena sugando os recursos agora verdadeiramente necessários e quase inexistentes.
Um país que está prestes a perder a classe motora da sociedade, relegando-a para a notação P+, ou seja, para a categoria: cada vez mais pobre!
Que encara isto com leviandade sem se verdadeiramente indignar, é uma sociedade doente, enfermada pelo facilitismo em que está enredada e que dele não quer abdicar.
Vivemos num país onde a culpa ficou para tia. Um país que se rege pela lei do mais forte, assim uma coisa terceiro-mundista vestida de Armani e com um lauto charuto a enfeitar os beiços.

Escrito por pulanito @ outubro 17, 2011   6 comentários

EU SOU - Seven MInds com participação do Pulanito



Uma rapaziada aqui do Algarve pediu-me para fazer uma pequena intervenção no seu novo trabalho. Aceitei o repto porque gosto destes desafios e porque gostei das “malhas” desta malta, que fabricam um som que tem a ver com a minha geração, mas ao mesmo tempo moderno e interventivo.

Bem sei que ainda terão muito para esgravatar, mas têm de se começar por algum lado e este foi o ângulo que eles escolheram para saírem da casca algarvia onde há muito o seu nome é falado.

Eles são os Sevem Minds, sete cabeças que pensam por si, que fazem uma música desempoeirada, com uma energia contagiante que, ou muito me engano, ou ainda virão a dar que falar!

Para já, EU SOU, um dos seus admiradores e no caso presente também colaborador, já que tenho uma participação relâmpago neste seu trabalho.

Vejam, ouçam e comentem o trabalho destes “moçes marafados” que têm na música a sua grande paixão.

Escrito por pulanito @ outubro 17, 2011   2 comentários

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