terça-feira, fevereiro 22, 2011

Feira Popular



Entrada da feira - anos 90

Durante muitos anos a Feira Popular de Lisboa exerceu sobre gerações de portugueses um fascínio especial.

Inaugurada por volta de 1943 no espaço onde hoje são os frondosos jardins da Fundação Gulbenkian, mudou-se para Entrecampos em 1958, onde serviu a população por mais de 40 anos.


Entrada da feira - anos 50


A bilheteira, na sua totalidade ou parte dela, servia para financiar a Colónia Balnear Infantil do Jornal o Século e que permitia aos meninos desfavorecidos fazerem férias de praia numa das muitas casas propriedade da colónia.

A Feira Popular abria a 1 de Junho e permanecia aberta todo o Verão e se a memória não me falha fechava em Outubro.

Logo que esta abria, eram aos magotes a gente que ali acorria vinda de todo o país, mas especialmente de Lisboa e arredores.

São muitas as memórias da magia daquele espaço onde crianças e graúdos se podiam durante algumas horas abstrair das agruras do seu quotidiano.

Ir à feira era sinónimo de jantar nela, coisa que se fazia depois de experimentarmos as diversões que a coragem e bolsa permitissem.

Na feira havia uma grande variedade de divertimentos, desde os famosos carrinhos de choque, passando pelas cadeirinhas onde voávamos sobre os que cá em baixo ficavam, apenas seguros por umas míseras e frágeis quatro correntes em cada uma das cadeiras.

Os carrosséis tradicionais também faziam parte da lista de divertimentos. Gostava sobretudo de me sentar na girafa e de subir e descer o ondulado do percurso circular cada vez com mais e mais velocidade; mas, o que mais impressão me causava, era a destreza dos cobradores que subiam e desciam com o carrossel em andamento. Faziam parte da galeria dos meus heróis da feira!


O inevitável poço da morte


Outros dos meus heróis, eram os artistas do poço da morte, esse absurdo caldeirão de madeira feito, onde Joselito com a bandeira portuguesa nos olhos pregada, desafiando as leis da gravidade e sem as mãos no guiador da sua ruidosa moto, quase roçava nos espectadores passando a escassos centímetros de quem ali ia para se arrepiar, e eu, era um deles.

«Coragem, arrojo, total desprezo pela vida!» anunciava o “speaker” de serviço, enquanto cá fora Joselito circulando sobre rolos a velocidade estonteante na sua Honda de125 CC, efectuava manobras de arrepiar numa tentativa de aliciar espectadores para o que se iria passar dentro do caldeirão na enésima apresentação do número do poço da morte.

Havia na feira um jogo de que gostava particularmente, havia-o na versão carro e na versão barco. Este jogo consistia em efectuar uma corrida onde o barco ou o carro avançavam consoante a habilidade do jogador ao conseguir com uma pancada certa colocar uma bola num dos dois buracos existentes. Buraco um, menos velocidade, buraco dois mais avanço no percurso. Quem chegasse em primeiro ganhava o prémio em disputa.

E havia os pavilhões das panelas, e os de pontaria, onde os especialistas aliciados pelo famoso: «oh freguês, vai um tirinho!» tentavam a sua sorte para ganhar uma garrafa de ginja, ou para impressionar a companhia com os seus dotes de atirador.

No comboio fantasma experimentávamos a adrenalina possível, no da selva, o rugido das grandes feras, em qualquer dos casos chegávamos ao final da viagem lívidos, mas aliviados.

No café dos pretos experimentava-se o café servido em copos com um suporte feito da casca de coco. O ambiente era africano e uma obrigatoriedade para quem visitava a grande feira do povo.


O gigante de Moçambique


Na casa dos espelhos engordei, deformei, encolhi e estiquei a minha fraca figura. Apertei a mão ao homem mais alto do mundo, o famoso gigante de Moçambique, homem que media quase dois metros e meio; uma enormidade!

Assisti às novas atracções anuais, as cabeças falantes apresentadas em bandejas e a mulher aranha, um espécime gigante com cabeça de mulher e que ainda por cima falava connosco.

Para os adultos era imprescindível uma passagem na famosa vaquinha. Uma vaca em tamanho natural que em vez de leite deitava pelas tetas vinho: branco e tinto, ou mesmo palhete para quem quisesse misturar os dois.

A coisa terminava sempre com uma sardinhada nos 3 Unidos ou no Oh Hipólito, onde os empregados angariadores nos afirmavam que ali, uma dúzia eram 14 e a sopinha era de graça para as crianças.

Era no tempo em que a magia ainda nos bailava nos olhos e uma ida à feira marcava no calendário das nossas vidas um dia para mais tarde recordar.

Escrito por pulanito @ fevereiro 22, 2011   6 comentários

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