Dia 2 - Por Terras do Grande Lago
Na Póvoa de S. Miguel fotografei este curioso catavento.
Aqui está a prova de que passámos pela aldeia da Estrela..
Aqui chegados, impunha-se a tradicional foto a assinalar a nossa passagem por esta aldeia ribeirinha, que de resto era primeira visita para os meus companheiros de viagem, mas para mim a recordação de uma outra viagem (2006) onde havia ali ficado prisioneiro do imenso calor que se fazia sentir nesse Agosto infernal.
Como a Aldeia da Estrela não tem saída, regressámos à estrada que nos há-de conduzir a Mourão, não sem antes regressarmos às margens deste mar alentejano para visitarmos a nova Aldeia da Luz.
Os Luzienses continuam descrentes com a incerteza que o futuro lhes pode oferecer, mesmo com esta imensa riqueza que à porta lhes veio bater, continuando a demandar outras paragens por via da ausência de futuro imediato que para eles continua a ser uma miragem.
Nas fraldas do Alqueva
O trajecto até Mourão foi feito em pedalada passeante e em debate a três sobre as causas, efeitos e potencial que esta bonita povoação poderá oferecer num amanhã não muito longínquo.
Chegados a Mourão, fomos à procura da famosa Adega Velha, esse mítico santuário gastronómico de que ouvira falar, mas que nunca tivera a oportunidade de visitar.
Como falamos de um local “ à la Pulanito”, mas de impressionante valor gastronómico e patrimonial, vou aqui alargar-me um pedaço, para vos deixar com água na boca e vontade de por lá aparecer assim que demandarem aquelas paragens.
Adega Velha
À porta um ramo de louro pendurado, (o ramo pode ser doutra coisa que não louro) que o dono aproveita para secar, indica-nos (como em tempos imemoriais) que estamos à entrada de uma casa onde se servem vinhos e petiscos.
Engenheiro, perdão! - Adegueiro Joaquim Bação - o nosso anfitrião
Estas casas eram frequentadas por homens, já que as mulheres que aqui faziam poiso eram chamadas de “rameiras” (por via do tal ramo à porta), com a mesma conotação negativa com que o adjectivo atravessou os tempos.
O Adegueiro, perdão, o Engº Joaquim Bação, fazendo o que lhe dá mais prazer: anfitrionando na Adega Velha.
Lá dentro e atrás do balcão a figura de um homem calvo que se nota à distância, amar aquilo que faz. Conta-me o Joaquim Miguel que o conhece, que é engenheiro, mas que por vocação, é na verdade adegueiro, e isso transparece na luz que irradia da figura deste homem que se destaca tanto atrás do balcão, como quando se mistura com os clientes em cantoria alentejana de arrepiar corações aos clientes menos habituados ao cante da terra.
Um cantador residente
As talhas, o lajeado do chão, os imponentes móveis antigos, a colecção de rádios, de pintura, de fotos e de um sem número de artefactos, mais o abobadado da adega fazem deste local um museu vivo por onde os nossos olhos passeiam em vertiginosas viagens a um passado que de repente renasce em vigorosas e presentes memórias.
“ Eu quero é morrer aqui” debitava eu metaforicamente, entre copos de um branco de se lhe tirar o chapéu, enquanto os meus comedidos companheiros de viagem se assustavam com as proporções etílicas do meu empolgamento, tanto mais que ainda tínhamos pela frente umas boas dezenas de quilómetros para calcorrear.
Debicámos (a convite da clientela habitual) tomate com sal e orégãos para acompanhar os minúsculos copitos de branco.
Os três "astronautas" deliciando-se na Adega velha - Foto de João Pedro
Depois do cante veio o repasto e posso-vos garantir que do que provei, é tudo excepcional. As azeitonas, o queijinho, o chouriço, o vinho e o cozido de grãos absolutamente divinais.
Por mim teria ficado por ali, mas outro destino esperava por nós e foi com redobrada vontade de ali regressar que montámos as nossas máquinas pedalantes e partimos em direcção ao entardecer.
Em breve voltaremos!
Ainda em Mourão deparámo-nos com este " Tuti Frute"!!!
Como não tínhamos nada marcado e o cansaço era por demais evidente ficámo-nos pelo primeiro local onde nos aceitaram e que se verificou ser um verdadeiro pardieiro.
Reparti com o Carneiro aquela coisa chamada quarto com uma minúscula casa de banho (fora do quarto) que nos recusámos a utilizar quando a manhã chegou, tal o estado em que estava, visto os restantes utilizadores (muitos) desse espaço serem verdadeiros sabujos.
Regressarei em breve para a jornada derradeira por terras do Alentejo.
Quilómetros percorridos: 112
Etiquetas: Aldeia da Estrela, Aldeia da Luz, Alqueva, Mourão, redondo, Serra d'ossa
7 Comments:
O amigo Pulanito lá anda a fazer aquilo que lhe dá mais prazer: andar de bicicleta, escrever e provar vinhos e petiscos...e ainda há gente que se queixa da vida que leva!
É um prazer espreitar aqui as crónicas com que o amigo faz o favor de nos brindar.
Mande lá essas noticias do Portugal profundo de que tanto gosta e os desportistas de sofá como eu tanto apreciam.
Abraço
Bruno S.
Para quando estas crónicas em formato livro?
Rita Semedo
Tá bem, eu prometo que não digo que tu ressonas que nem uma locomotiva...eheheh
"Tuti Frute"!! :D Isso é cá um nome... Boa viagem!
Amigos ,Napoleão e Carneiro.
Antes da construção da barragem do grande lago(tem um perímetro de + de 1000 e tal km.---superior à costa de Portugal)havia uma inscrição na ponte sobre o Guadiana(actual paredão) que dizia :"construam-me porra".
Levou décadas até à decisão política do início da sua
construção.Em 4/5 anos foi construida e o regolfo cheio até,quase, à sua capacidade máxima,por razões de segurança,já que água não falta no leito do rio internacional(a qualidade desta à entrada em Portugal é outra conversa,que os convénios internacionais sabem resolver e pelos vitos está resolvida).
Em conversa sumária com a Natália numa rua da nova e bonita Aldeia da Luz,verificámos o desencanto,a tristeza,a depressão traduzida por uma ,fortuita,opinião espontânea e sincera de quem por lá teima em ficar e sobreviver,acolitando os velhos que por lá persistem.
Saudades da Velha Aldeia e do Castelo da Lousa,ora submersos,são normais para quem lá deixou a sua meninice,os seus primeiros beijos,a sua adolescência.
Mas a depressão(estadio patológico avançado de degradação psicológica)) de quem não tem
emprego e nem mesmo trabalho remunerado,de quem não tem horizontes em terra de horizontes abertos ,largos,de matizes cromáticas e cheiros de inebriar,custa a crer e muito menos aceitar.
Há por ali um manancial de oportuniades e de construção de riqueza,em torno do grande lago.
Apetece-me dizer,a todos,públicos e privados:ORGANIZEM-SE PORRA!!!
Organizemo-nos todos depressa que a Natália é uma das mais novas e pode ajudar a revitalizar a bonita e Nova Aldeia Da Luz.
PORRA, DEIAM VIDA Á VIDA!!!AFOGUEM A INÉRCIA E A BUROCRACRIA!!!PORRA, CONSTRUAM JÁ O DIA DE AMANHÃ ,QUE DEVIA TER JÁ COMEÇADO ONTEM!!!
...e em Mourão,a Adega Velha(do Eng.Joaquim e da Arq.Carla e do petiz Quinzinho)) à medida de quem merece o melhor,"a lá Pulanito"---pena foi que o Carneiro estivésse com azia e quase não provásse os"grões".
Das mouras encantadas,no hotel e no café do pequeno almoço,não me lembro de nada,excepto que estavam vestidas com garvaias muito decotadas,tipo ar condicionado a condizer com a época.De resto, eu que não sou de intrigas apenas me lembro das conversa em surdina dos meus companheiros de ciclo-pedaladas.EhEhEhEhEhEh(ISTO É UMA GARGALHADA "MUITA "GRANDE)...não me lembro de nada!!!...estava atestado de ácido láctico(ver ciclo de Krebs)----esta é para o estudioso e mui respeitável ULTA-CICLISTA Pedro Alves.
Ps.e aquela pigmentação"de encantar"é melanina.
Ps:os olhos verdes é que para mim são um enigma;daquilo só havia visto nos meus verdes anos na Mina de S.Domingos ,lá para os lados de Mértola.
Ps:e a tatuagem ao nível da apófise espinhosa da 3º vértebra lombar aonde estava:no hotel ou no café....espírito profissional?
Pulanito:
Descobres tudo!
Conheci o ENG. há cerca de 20 anos.
Saía na altura de lisboa com um grupo de caçadores que lá fazíamos aprimeira paragem para carregar pão e "cacholeiras",na altura as melhores de todo o alentejo. Vi a adega ainda fechada e uma das imagens que perduram é a do ENG. a perguntar-nos com aquele seu ar cândido: atã nã achã que se fazia aqui um restaurantezinho?
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