quarta-feira, dezembro 14, 2011

Fim da Linha


Já aqui não venho há tempo. Não tenho tido vontade de escrever, ou por outra, tudo o que me vem à cabeça não faz sentido ser publicável.

Cá por dentro, onde as coisas só doem a cada um, sinto-me abatido, destroçado.
Sinto que um trabalho que construí paulatinamente ao longo de vinte anos se está a ir (se é que não foi já!) por água abaixo. Isso seria o menos, porque na verdade, do que eu gosto mesmo é de desafios, de me meter em coisas que não domino, mas sem dar parte de fraco jogar-me a elas como se fora entendido na matéria. Herança genética que herdei daquele que já lá está e que saiu de Entradas (minha terra) como alfaiate e quando chegou a Lisboa já era pedreiro. Foi só uma questão de trocar a fita-métrica pelo fio-de-prumo e a agulha pela colher e a tesoura pela talocha. É um predicado de que me orgulho.

Sempre que me cansei do que fazia, “fechava a loja” e embarcava noutra aventura. Umas vezes fui bem sucedido, outras nem por isso, mas em todas aprendi, com todas enriqueci. Agora, sinto que é chegado o fim de mais um ciclo, só que desta vez com uma diferença abismal. Não sei o que poderei fazer!
Neste país não há nada para fazer, tudo parou, o futuro é um verbo inconjugável.

Se os que como eu tiverem de ser os cordeiros do sacrifício para oferecer aos deuses germânicos, pois que assim seja, estou num momento em que pouca coisa me importa e na verdade só lhes posso oferecer a minha absoluta indiferença.

Mas para dar um cheirinho de como funciona este Portugal, de como afinal nada mudou e se tal aconteceu foi para pior. Os comportamentos continuam a ser de uma desfaçatez a colocar à prova a maior das paciências deste mundo. Passo a explicar: Tenho há mais de um ano uma dor crónica por via de umas vértebras da coluna cervical que pressionam os respectivos nervos e me provocam dores nas costas e que descem pelo braço chegando a adormecer-me a mão direita.

Não quis aborrecer os senhores do Serviço Nacional de Saúde e fui fazendo tentativas com quiropratas e massagistas de várias especialidades que me anunciavam a cura numas quantas sessões, como tal nunca aconteceu, resolvi voltar-me para aqueles que têm o dever de me tratar.

No inicio de Outubro fui ao meu médico de família (a quem daqui presto a minha homenagem), um excelente médico que me atende à hora em que marco a consulta e com ele tudo funciona sobre rodas, o problema é o que vem a seguir.
Recomendou-me que fosse fazer uma radiografia à coluna cervical e que depois de concluída lha viesse mostrar.

Da consulta dirigi-me directamente ao centro de exames em Lagoa, onde me informaram que para Outubro já estavam completos e que para Novembro ainda não estavam a aceitar marcações. Teria de lá voltar três semanas depois.
Regressei passado um mês, marcaram-me a radiografia para daí a quinze dias, depois de a fazer, pediram-me que a fosse lá buscar dez dias. Não sei se estão a ver bem o filme. Estou a falar de uma simples radiografia que demora mais dois meses, depois de ser dada ordem médica de tal execução.

Com o precioso exame na mão regresso ao meu médico de família que me recebe no dia seguinte ao meu pedido e antes da hora marcada...milagre!!
Como tenho de fazer fisioterapia, dão-me os exames e a recomendação do meu médico assistente para que os vá entregar (qual moço de recados!) à directora do centro regional de saúde da minha residência para assinar.

Aí chegado peço para que a senhora coloque a sua assinatura a uma funcionária que me disse não se processarem assim as coisas: “são cinco dias úteis para a doutora assinar uma credencial.” Voltei a engolir em seco e a exasperar.

Regressei uma semana depois. O documento não estava onde o deixei e lá me mandaram outra vez para outro departamento, mas dentro do mesmo edifício(menos mal!) e outra vez de moço de recados da funcionária fiz para ela puder continuar o seu telefonema privado de que claramente me apercebi, mas que a senhora fez questão em continuar ao mesmo tempo que me atendia.

Finalmente tenho a assinatura da doutora. Pergunto: “E agora o que faço?” Resposta da funcionária que me deu o salvo conduto para a “salvação”: “Agora vai à clínica de fisioterapia e começa os tratamentos.”
Chego à clínica com um sorriso de orelha a orelha. A funcionária de serviço à recepção está também ao telefone e também pelo tom e teor da conversa é assunto particular.
Espero que termine. Apresento sorridente a credencial carimbada, revista, aprovada, assinada.
Resposta: “aqui na clínica é o doutor que marca as consultas (sic) portanto deixe-me o seu telefone que será contactado para marcar a consulta.”
“E esse contacto será feito ainda hoje (13/12).” — inquiri.
“Hoje já não, mas durante esta semana vai receber o telefonema.”
“E a consulta será marcada de imediato?” — perguntei, suspeitando que a resposta fosse a que me foi dada.
“Não. A consulta será para uns dias depois. Talvez num dia da próxima semana já tenha a sua consulta.”
“E o tratamento quando é que começa?” — insisti.
“Isso é com o médico. Não lhe posso responder mais nada. Espere pelo telefonema.”

E pronto. Hoje é dia 14/12 o telefone continua sem tocar e provavelmente entraremos no síndrome do “Sabe isto agora mete-se o Natal, só lá mesmo para o ano!”

Os salafardanas que decidem e que permitem que estes comportamentos sejam o pão nosso de cada dia, deveriam ter as mesmas dores que eu tenho há mais de um ano em vez de irem para as televisões debitarem “postas de pescada” acerca de rácios, gráficos de comparação, taxas moderadoras e mais a treta do utilizador pagador e mais a puta que os pariu, que estou sem paciência nenhuma para esta gajada toda.

Estamos no fim da linha e esta cabrãozada toda empertigada continua a comportar-se como os músicos do titanic. O barco a afundar-se e eles com água pelos tornozelos mas continuando a tocar, como se nada estivesse a acontecer.

Novidade, novidade, é que estou a acabar de escrever o meu primeiro romance.
Estou assim numa espécie de grávido de sete meses. Já só quero que a criança nasça, mas tenho de esperar o tempo certo para que venha a este mundo com o mínimo de imperfeições. Este também tem sido um dos motivos porque não tenho passado por aqui. Ando demasiado preocupado com a minha gravidez, que na minha idade só pode ser de risco!

Escrito por pulanito @ dezembro 14, 2011   6 comentários

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