segunda-feira, outubro 01, 2018

Lugar Nenhum Ed Hoster e Napoleão Mira



Escrito por pulanito @ outubro 01, 2018   0 comentários

terça-feira, fevereiro 20, 2018

Passagem Para a Índia



Passagem Para a Índia

Hoje tive um acordar aldeão. De certo modo, regressei aos hábitos da minha terra. É certo de que acordei num barco ancorado à porta do barqueiro, mas a azáfama matinal que se faz sentir lá fora, é em tudo idêntica àquela que aconteceria na minha aldeia, caso lhe passasse um rio navegável pelas entranhas.
Saio à rua. Impõe-se o silêncio dos despertados. Dos que embora acordados, ainda não largaram os braços de Morfeu, ou então, dos que fazem desta serenidade matinal um elogio à vida.
Passeio pela quietude da língua de terra rodeado de água de um e outro lado chamada Kumaracon em terras indianas de Kerala.
Uma mulher à frente do barco munida de uma vassoura de palma, varre acocorada e em silêncio as folhas perecidas que tombaram durante a noite.
O ruído desta vassoura, transporta-me de novo para o meu quinhão e, esta senhora que em passe ritmado limpa o seu pedaço de rua, já não é mais uma aldeã indiana, é sim a Maria Antónia, mulher do Pereirinha a varrer a sua. Se fechasse os olhos e fosse dia de verão, quase que reconheceria a Maria Antónia pelo sincopado da sua varredura.
Mais à frente, um outro homem de sabonete e escova de dentes na mão entra destemido no rio. Mergulha à beira de água e quando volta à tona começa a fazer a sua higiene diária. Não o quero importunar com o olhar de metediço e sigo o meu caminho.
Do outro lado da rua, um outro homem sentado à soleira da porta lê no jornal as notícias matinais enquanto a mulher lhe prepara um café. Todas as casas têm idosos. Sinal de que por aqui, tomam conta uns dos outros até à contagem final dos dias.
Com todos os que na rua comigo se cruzaram, novos e velhos, homens ou mulheres, adultos ou crianças, todos, mas mesmo todos, me sorriram e cumprimentaram num gesto de boa educação.
No regresso ouço uma buzina igual à do Joaquim padeiro lá da minha terra. Acelero o passo para ver se a memória não me atraiçoa. É que de repente, assim num passe de mágica, daquelas coisas que acontecem durante a noite, podiam ter mudado o cenário à minha terra e aquela buzina ser mesmo a do Joaquim e eu estar convencido que estava na Índia.
Não. Não era o Joaquim. Tinha-me esquecido que na Índia não há padeiros, visto o pão, da forma que o conhecemos e que o Joaquim o vende, não fazer parte dos hábitos alimentares desta gente.
Sucedem-se as buzinas dos vendedores matinais tal e qual como na minha aldeia. A que agora vejo passar é a do leiteiro. Uma bicicleta pasteleira, uma campainha, duas vasilhas de grande porte, uma em cada lado, mais as medideiras necessárias, são a ferramenta de trabalho deste profissional.
Duas crianças, de olhos mais negros que a noite mais escura, escancaram o sorriso e acenam-me de leiteira na mão, enquanto aguardam a pontual chegada do homem do leite. Recordo agora, quando era criança tive uma igualzinha.
Logo atrás um Custódio Feio indiano anuncia ao que presumo o seu produto. O meu Custódio Feio não tinha ares de indiano, mas tinha uma motorizada muito parecida e apregoava com o mesmo entusiasmo o seu produto. Ainda parece que o ouço através da voz deste indiano. “ Há carapau e pêxe”, era o seu grito de guerra.
Certa vez, vendo-o aparecer ao longe na estrada que liga Entradas ao Carregueiro e pretendendo fotografá-lo fiz-lhe sinal de paragem. O homem parou, eu fotografei-o e ele foi-se embora. Mais tarde soube que se tinha amedrontado pensando que ia ser assaltado ao não me ter reconhecido.
Já tinha cara de muita coisa, agora de meliante é que não sabia!
Se a minha aldeia tivesse barcos, era lá que eu morava. Gosto desta coisa de me poder mover com a casa atrás água adentro. Gosto disto de comer e ver a vida passar mesmo aqui ao meu lado. Gosto de saber que as pessoas que me dão de vaia, o fazem sem ser só por fazer.
E gosto desta Índia de silêncios e calmarias. Gosto sobretudo da cozinha do Beldram que não para de me surpreender. Ontem à noite voltou a presentear-nos com umas variações de galinha, que quase me deixou sem adjectivos.
Ah.. neste momento escrevo a bordo do Dream Palace — o barco/casa que alugámos — e estamos prestes a partir para a última visita antes de rumarmos a outro destino.
A Natália já lançou o desafio: — Da próxima vez ficamos todo o tempo em Kerala.
Eu, encolho os ombros e mentalmente já me vejo por aqui a criar raízes.

Crónica retirada do livro Olhares, a publicar brevemente.

Escrito por pulanito @ fevereiro 20, 2018   0 comentários

sexta-feira, julho 28, 2017

Incongruências



Quanto mais  conhecemos os direitos dos animais, menos vontade temos de os comer.
Hoje venho falar-vos de algumas incongruências  do ser humano que registei na última semana.
A primeira, prende-se com a frase com que dou início a esta crónica e que me foi referida por uma amiga que desde há meses trabalha numa clinica veterinária.

Dizia-me ela que, quase de repente, adquiriu uma consciência, uma mutação, uma nova maneira de olhar o mundo desde que lida de perto com a dor dos animais.

Ela, que sempre fora uma pessoa preocupada com o bem estar animal (sempre possuíra cães e gatos) estava agora com um certo peso na consciência por no passado ter matado com as suas próprias mãos animais que hoje procura salvar, nomeadamente coelhos.

Dava-me como exemplo o felpudo animal, por ser também um animal de estimação — especialmente para estrangeiros — e, ao mesmo tempo, um item da nossa cadeia alimentar à venda no talho onde adquire outras carnes depois de sair desse trabalho veterinário.

Outro exemplo dessas incongruências foi-me relatado na semana passada aquando do meu regresso a Entradas. Falava-se de um vizinho meu cuja cadela tinha parido 7 canitos.

Até aqui nada de anormal. O motivo de censura — para o grupo de mulheres com quem falava­ — era ele não os ter afogado à nascença. 

Estas mulheres, gente boa, honrada e de bons princípios, cresceu com esta “normalidade” que é matar os filhos de outros à nascença e depois regressar à cozinha para terminar o estrugido.

O poeta José Gomes Ferreira, referindo-se à caça em certo poema afirmava não compreender como é que um homem pode chegar a casa, beijar mulher e filhos, e fazê-lo com cadáveres presos à cintura.

Por falar em caça, deixo aqui a última incongruência. Passeava eu os meus cães perto de casa, quando avistei um vizinho com um balde na mão.

O homem entabulou conversa comigo e, muito entusiasmado, dizia-me ter descoberto  um bando de pombos de mais de 500 indivíduos. Que o trigo no balde era para os habituar a regressar ali todos os dias para no dia 20 de Agosto darem lugar à chacina.

E com os olhos resplandecentes de orgulho relatou-me que no ano transato, ele e os amigos tinham abatido de uma só vez 180 deles.

E já de abalada confessou: —  Eu até nem gosto de pombo, é mais pelo vício de matar!


Publicado no Jornal Correio Alentejo de 21 de Julho de 2017

Escrito por pulanito @ julho 28, 2017   0 comentários

quarta-feira, junho 07, 2017

Santiago Maior - Napoleão Mira & Sam The Kid

No passado Sábado 3 de Junho em São Teotónio - Odemira, aquando dos Encontros Literários do Alentejo - ELA - onde apresentámos o nosso espetáculo. 12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado.
Este poema retrata a relação entre pai e filho.

Escrito por pulanito @ junho 07, 2017   0 comentários

quarta-feira, maio 17, 2017

Napoleão Mira na RTP

Os Miras: Napoleão Mira e Samuel Mira (Sam The Kid).
Excerto do programa "Literatura Aqui" (Episódio 20), emitido a 16 de Maio de 2017 na RTP2.

Escrito por pulanito @ maio 17, 2017   0 comentários

quinta-feira, maio 11, 2017

A Fé e o Medo


A Fé e o Medo


Hoje (12/05/17) chega a Portugal um homem que admiro profundamente. Falo de Jorge Bergoglio, o revolucionário Papa Francisco.

Ora isto vindo da boca de um agnóstico tresanda a incongruência. 
Sim! Assumo-me agnóstico e incongruente!

Assumidas fraquezas e franquezas, não posso deixar de dizer que Francisco foi a melhor coisa que aconteceu à igreja católica nos últimos tempos.

Infelizmente, não fui contemplado com o dom da fé religiosa!

Tenho profunda admiração por aqueles que se deslocam a pé dos vários pontos do país até ao santuário de Fátima, para aí, serem atendidos nas suas preces, especialmente em ano do centenário das aparições e, ainda por cima, com a presença do representante de Deus na terra.

A malfadada da minha noção de lógica não me permite acreditar no que creem esses milhares de peregrinos que, vencendo dores,  bolhas, quilómetros e cansaços aportam a Fátima com um sorriso de júbilo digno da minha saudável inveja.

Bem sei que me responderão que isto nada tem a ver com lógica.  Que é simples. Que, ou se crê, ou não se crê. Pois bem: Eu, por mais que tente... não consigo acreditar!

Isto remete-me para um episódio de banda desenhada que li há muitos anos num dos célebres álbuns da coleção Asterix e Obelix , no caso presente: Asterix e os Normandos.

Contava a história que esses bárbaros Normandos, desconhecedores do medo, teriam descido até à Gália para desvendarem o segredo de voar.  Acreditavam que para ver o mundo como os pássaros o vêem era preciso recear e quanto mais pavor, melhor se podia voar.

Ao depararem-se com um imprudente aldeão, este quase se borrava de medo ao confrontar-se com tais grosseiras figuras.

O pavor estava-lhe marcado no rosto. O corpo não lhe obedecia às ordens para fugir. Não conseguia articular palavra. O suor corria-lhe em bica pela fronte. Enfim, na ótica dos invasores, estavam na presença do:  Campeão do Medo!

Com este invulgar espécime entre mãos cedo cantaram vitória. Estavam convencidos que se lhe conseguissem extrair a fórmula do medo, conseguiriam ganhar asas.

Como os gauleses só tinham medo de uma coisa: que o céu lhes caísse em cima da cabeça, foram os brutamontes, como era de prever, mal sucedidos.

Ao aproximarem-se, Asterix e Obelix infligiram-lhes tal bordoada que os bárbaros do norte experimentaram pela primeira vez o mesmo sentimento de pavor que tinham imposto ao pobre aldeão.

Derrotados, mas convencidos que já sabiam voar, não lhes restou alternativa senão experimentarem fazê-lo do alto do precipício onde decorria a contenda com o resultado  previsível que se pode imaginar.


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Não sei porquê, ou se calhar sei, encontrei nesta estória um certo paralelismo com aquela com que comecei esta crónica.


Publicado em Correio Alentejo de 12/05/17

Escrito por pulanito @ maio 11, 2017   0 comentários

segunda-feira, maio 01, 2017

Napoleão Mira - AS Portas Que Abril Abriu - (Ary dos Santos)

E porque Maio se celebra porque Abril lhe abriu as portas, aqui ficam elas: As Portas Que Abril Abriu.
Para que a memória não seja coisa vã e para que outras gerações saibam que esta foi uma revolução de que todos nos devemos orgulhar.

Escrito por pulanito @ maio 01, 2017   0 comentários

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