sexta-feira, julho 15, 2016

Pai.


Pai. 


 «Se virem o meu filho sem um livro debaixo do braço eu pago uma rodada a toda a gente!» — espicaçava assim em jeito de aposta, lá por esses idos anos sessenta, o meu orgulhoso pai. Exibia-se assim, vaidoso, junto da plateia de bebedores de vinho rasca na taberna do Vilas, nas aforas de Lisboa, local onde este jovem escriba costumava juntar as letras com que ia moldando e bebendo o seu parco saber.

É claro que nem sempre me apetecia ler; mas como o desafio fora feito à minha frente, não poderia deixar ficar mal o meu progenitor, pelo menos até que os outros habitués se lembrassem de tão invulgar afirmação.

Tanto quanto me lembro, nunca tal rodada chegou a ser paga... No caminho de regresso a Entradas, vindo do hospital de Beja, onde passei parte do dia agarrando a mão deste fio de vida em forma de gente, acorre-me à lembrança este quase anedótico episódio.

Agora comunicamos numa espécie de código de sinais, inventado no momento, e que só nós conhecemos. Também comunicamos com os olhos, quais faróis de luz baça e mortiça que ainda me encandeiam em sucessivos pedidos de ajuda.

Nos trinta e três quilómetros que agora percorro, deixo fluir o pensamento, como se fora um rio que, serpenteando os obstáculos naturais, desenha a geografia do seu trajeto, correndo desenfreado à procura da foz.

Tal como esse leito de água repetido em cada fortuito encontro da estrada, também eu me recordo de marcantes episódios que este homem feito rio, que correndo à desfilada no meu peito, desagua na memória da minha existência.

Quando ainda era apenas um riacho de gente, desenhava-me toscos porcos em pedaços de papel pardo — entretenga em forma de arte quase rupestre — esboçados à luz do candeeiro a petróleo.

Coisas de gente pobre, que rebusca na imaginação as inúmeras formas que o afecto tem para se manifestar. Depois, já ribeiro de pelo na venta, era nas suas margens que buscava a proteção para as tropelias cometidas.

Lembro-me assim a talhe de foice de algumas tareias fictícias que me aplicou, das quais destaco a famosa “não tareia” por ter, entre outros impropérios, chamado meretriz à madrinha da minha primeira namorada.

Nas turbulentas águas da juventude, foi na sua cumplicidade que encontrei porto de abrigo e, se muitas vezes não sabia como as contornar, lá no seu íntimo tinha a certeza de que haveria de voltar a esse leito familiar onde, apesar dos naturais desencontros, sempre acabámos por nos encontrar.

Deixando as analogias fluviais em que sempre viemos a confluir, vêm-me à lembrança os mil episódios que repartimos, mais como cúmplices malteses, do que como pai e filho.

Já com a torre sineira de Entradas no horizonte, recordo-me de certo episódio vivido em Alcanhões, terra por onde passou alguns anos da sua vida. Como vivia no campo, o transporte que nos levava e trazia da vila era uma velha motorizada. Era tempo de São Martinho e segundo reza o ditado: vai à adega e prova o vinho; o problema é que as adegas em Alcanhões eram mais que as mães e em cada uma delas era obrigatório o respectivo penalty da prova.

Já noite serrada e com o equilíbrio em mau estado, decidiram estes dois ébrios malteses regressar a casa já a noite era uma senhora de provecta idade. Para compor o ramalhete, a motorizada não tinha luz e a noite era um manto de breu onde nada se distinguia para além de dois palmos à frente do nariz.

Como o que tem de ser tem muita força lá nos fizemos os três ao caminho: eu, ele e... a motorizada. A única iluminação que dispúnhamos era de uma lanterna. Meu velho sentado à pendura, com uma das mãos abraçava-me a cintura e, com a outra, alumiava o sinuoso trilho. A estrada, se assim a pudéssemos chamar, mais parecia um cenário de bombardeamento do que caminho de gente. Todo o trajeto era bordeado por um pequeno rio que por aquelas bandas o povo chama de vala. Numa curva mal calculada, a memória pelo vinho novo conturbada não conseguiu guiar-nos a preceito... e zás! Fomos os três em queda livre parar à vala. Lá nos levantámos como pudemos e Deus sabe, seguindo encharcados e às apalpadelas o resto do caminho que faltava calcorrear. A motorizada, essa... só a resgatámos no dia seguinte. Destas cumplicidades feitas tropelias de moços pequenos fomos construindo o nosso espólio da memória, da qual continuo a retirar particular prazer.

Ir aos ninhos, à chinchada, à caça fortuita e tantas outras atividades menores mas ilegais, fazia de nós uma espécie de foras-da-lei de trazer por casa. Esta coisa de viver nas margens da legalidade, mais do que uma necessidade, era uma espécie de afirmação.

Um dia ofereci-lhe um pequeno painel de azulejos que mandara a propósito pintar. À medida que desembrulhava o presente, media-lhe no sorriso o contentamento que o invadia. Quando concluiu o puzzle dos azulejos, e sem que trocássemos palavra, li-lhe nos olhos a satisfação que lhe ia na alma.

«Vamos colocá-lo já de seguida!» — afirmou. Lá fizemos o cimento necessário à fixação do painel. A entrada da sua pequena propriedade passou a ostentar, então, o nome do qual se orgulhava. Ainda de colher e talocha na mão dava vários passos atrás para, noutra perspectiva, analisar a conclusão da obra e, bandeando o pescoço para um e outro lado, tentava descortinar algum erro na aplicação.

Na placa podia ler-se: “Casal do Maltês”. Estava batizado o seu abrigo, casa e quartel.

Sei que não voltaremos a viver tempos como esses. Sei e sinto que o seu tempo se está a findar e, por muito que tal me custe, tenho (eu e os meus) que resignadamente aceitar os tempos de dor e revolta que estão para vir e admitir a minha impotência face ao previsível desenlace.

Sei que falo da morte do meu pai enquanto vivo, mas esta, é para mim, a forma de lhe dizer: obrigado velho maltês… ainda um dia voltaremos juntos a “roubar cavalos!”

In Decoração D'Interiores de Napoleão Mira

Escrito por pulanito @ julho 15, 2016   0 comentários

quinta-feira, julho 14, 2016

Santiago Maior - Napoleão Mira & Sam The Kid




Este tema quase não entrava no meu primeiro registo discográfico: 12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado.
Não entrava porque o meu filho assoberbado de trabalho não conseguia terminar a parte musical e tínhamos datas para cumprir, teatro com data fechada para o lançamento, entrevistas e apresentações que não se compadeciam com atrasos.

Então, 24 horas antes de enviarmos o master CD para a fábrica recebi esta pérola que aqui reparto com os leitores do Pulanito.

Como é fácil de entender este tema descreve a relação entre pai e filho, dois operários da palavra que aqui se cruzam neste Santiago Maior.




Escrito por pulanito @ julho 14, 2016   0 comentários

quarta-feira, julho 13, 2016

João Cigano - Uma Homenagem a Ricardo Quaresma


Este texto vai inteirinho para um cigano chamado RICARDO QUARESMA! 

João Cigano 


O meu nome é Terra. João Terra. Mas aqui, na minha aldeia, todos me conhecem por João Cigano. Não que eu não goste do meu apelido; para dizer a verdade, gosto, e muito. Até porque o herdei do meu falecido pai, e este do pai dele e por aí a fora, mas Cigano é o sobrenome que vai comigo. Que me assenta como uma luva. Sinto-me mesmo orgulhoso quando ouço alguém dizer  — “Olha, vai ali o João Cigano”. Chamam-me assim há muito porque sempre me preocupei em defendê-los. Já lá vão... sei lá... talvez uns cinquenta anos.

Foi uma coisa que se me pegou assim à pele, como se fosse uma tatuagem, uma imagem de marca. No Alentejo todos temos uma alcunha que nos há de acompanhar a vida inteira. A mim tocou-me esta, que como vos digo, bem que podia ser o meu verdadeiro apelido.

Apelido já ela é, porque aqui na região este é o nome que se dá à alcunha. Aliás, devo dizer, a palavra “cigano”, está no topo das minhas preferidas. Gosto de outras, mas esta é mesmo a minha favorita. Soa bem em qualquer língua. Senão vejamos: gitano, zingaro, gitane, gipsy, tzigane, são várias maneiras de dizer a mesma palavra, mas sempre com aquele élan sonhador e libertário que esta nos transmite quando a pronunciamos.

Para se saber porque é que assim me chamam, precisamos de recuar meio-século, pelo menos. Tal como hoje ainda acontece, esta estirpe de gente, quando aportava a uma localidade, acampava nas aforas do povoado.

As mães, alertadas com a chegada dessa maralha de tez escura, vá-se lá saber porquê, chamavam para a sua beira os filhos pequenos, protegendo-os de um medo que elas mesmo carregavam, mas na verdade, não o sabiam explicar.

Era coisa ancestral. Recomendações de dedo em riste. Conselhos recebidos em noites de invernia à roda do fogo. Um dos tantos temores que faziam parte do crescimento e da educação de então, e mesmo de agora.

Naquele tempo, eram várias as explicações para esse infundado receio: o mau olhado deitado pelas ciganas, o hipotético rapto de crianças ou mesmo o corte raso das tranças das moças pequenas. Dizia-se, então, que era para venderem para fábricas de bonecas, para serem transformadas em cabeleiras.


Mitos rurais de que toda a gente ouviu falar mas ninguém viu acontecer. É um bocado como as osgas. Todos dizem que são peçonhentas, que urinam nos olhos das pessoas fazendo com que percam a visão, mas quando se pergunta quantos casos de cegueira provocado por estes répteis conhecem, a resposta é, invariavelmente, nenhum!

Muito cedo, percebi que o problema da conflitualidade latente entre ciganos e não ciganos não está na etnia das pessoas nem na cor da pele. Está sim na civilidade de parte a parte; na organização política, social e familiar; na ostracização secular a que foram votados, e no eterno faz de conta da integração, com as culpas direitinhas pelo fracasso das ações de inclusão, atiradas para a parte mais frágil.


Um pouco como o exemplo das osgas. Todos lhes temos um certo asco. Mal as vemos, munimo-nos de imediato de vassoura ou arma semelhante e, através dela, procuramos expulsar uma certa raiva que não sabemos dominar, um instinto assassino que não sabemos explicar, esquecendo-nos de que as osgas contribuem, e de que maneira, para a sustentabilidade do meio-ambiente. Afinal, são elas as responsáveis para que não sejamos tão picados ou mordidos pelos inconvenientes e implacáveis insetos veraneantes.


Com os ciganos acontece o mesmo. É claro que se olha com desconfiança de parte a parte. O tempo fez de nós antagonistas. Curiosamente, conheço pelo menos um caso onde as crianças ciganas salvaram a escola primária de fechar. Um anseio reclamado pelos moradores dessa localidade. Não me recordo de alguma forma de agradecimento aos ciganos salvadores.


Recordo-me, sim, do meu pai me contar que, no tempo da fome, esperavam que os ciganos chegassem à aldeia para que ele e os seus comparsas pudessem roubar galinhas e borregos à vontade. Assim podiam deleitar-se com lautos petiscos, porque a quem seria apontado o dedo e, quantas vezes o cano da espingarda, era aos pobres dos ciganos. Porque verdade seja dita, para matar a fome a si e aos filhos, muitos deles também surripiavam o seu fardo de palha para dar de comer às bestas, ou mesmo uma ou outra galinha. Até porque nas entranhas daquela gente também existia um estômago que implorava por alimento.


Quantos não desprezam os ciganos mas aplaudem as trivelas do Quaresma, mesmo sabendo que este é de raça calé?! Normalmente acrescenta-se um comentário jocoso do género — “Cabrão do cigano é mesmo bom. A bola até parece que tem olhinhos!” Quantos anti-ciganos não dançaram a “Macarena” ao som do duo Azucar Moreno, duas beldades orgulhosamente ciganas. Até o Benfica já teve um treinador cigano. Lembram-se? Quique Flores, sobrinho de Lola Flores, outra cigana imortal.


Quem diz ciganos, diz negros. Sei de gente que os odeia mas amava o Eusébio, ou por outra, amavam as alegrias que aquele preto lhes proporcionava. E se o sacana do preto nos deu alegrias! Somos assim! Somos a etnia dominante, mas comportamo-nos de forma troglodita, hipócrita e desprezível.


Ficamos apenas com o filet mignon que estes nos oferecem. Ao mesmo tempo, rejeitamos via desculpa fácil tudo o que está à volta, exigindo aos outros que se integrem, quando somos nós, maioria influente, que temos o dever de os incluir.

Estão a ver porque me chamam João Cigano? Sou assim, fervo em pouca água. Na verdade, cá por dentro, naquilo que me lavra no peito, no sangue que me corre nas veias, na maneira como espreito o mundo, no modo como avalio o meu semelhante, sinto que aqui, no lado esquerdo do meu corpo, neste incessante contador de impulsos, cavalga um coração de nómada, um ser sedento de liberdade, de uma liberdade sem grilhetas, algemas ou fronteiras, de uma inabalável vontade de viver partindo e de regressar sorrindo.

In: De Coração D'Interiores de Napoleão Mira

Escrito por pulanito @ julho 13, 2016   0 comentários

terça-feira, julho 12, 2016

Modas de Viés - Alentejo com Alma


Tive o grato prazer de ser convidado para o projeto musical Modas de Viés.
Uma maneira diferente de abordar o Cante Alentejano sem nunca lhe retirar a sua matriz.

Quando o Paulo Ribeiro, mentor desta aventura, me descreveu entre dois copos de vinho o que lhe ia na alma, acedi de imediato. Melhor, apaixonei-me de pronto pelo projeto e agora aqui estou de corpo e alma interessado em levá-lo mais adiante.




Está bem! Dirão os leitores que passarem por aqui os olhos. Mas o que é isso das Modas de Viés? Pois são isso mesmo, Modas enviesadas onde se lhe acrescentam instrumentos musicais, noutras cantam-se de uma forma oblíqua sempre acompanhadas da genica vocal dos Moços da Aldeia.

 O Paulo Ribeiro, dos Tais Quais e outros projetos com a marca Alentejo tatuados na alma, é o inventor desta locomotiva e seu maquinista. Com ele parámos em várias estações musicais, convidando outros membros a entrarem neste comboio de emoções. São eles os manos Catarino dos Tango Paris e ainda lá mais para a frente juntou-se-nos a Joana Espadinha, uma cantora alentejana da área do jazz de reconhecidos recursos e voz de timbre único.


No meu caso que tive duas participações. Inspirado em Modas de que sempre gostei, reescrevi-as, poetizei-as e, com o meu amigo Rafael Correia (Gijoe) misturámos-lhe um caldo musical interessante e chamámos os Moços para lhe conferirem a carga simbólica necessária.



E foi assim que as Modas de Viés viram a luz da noite na passada sexta-feira. Agora venham outros concertos para que possamos aprimorar ainda mais esta maneira de abordar o Cante da minha terra. Obrigado Beja! Obrigado Alentejo!


Escrito por pulanito @ julho 12, 2016   0 comentários

Obrigado Por Nos Deixarem Sonhar!


Ainda a propósito da enorme epopeia levada a cabo pela seleção nacional, deixo aqui um texto publicado há pouco mais de um mês no Correio Alentejo.
Talvez tenha passado desapercebido, julgo no entanto, que faz todo o sentido voltar a publicá-lo.

Parabéns Portugal! Parabéns Seleção Nacional! Parabéns Engenheiro do Euro, Profeta da Esperança ou mesmo Bruxo da Penha de França, tanto faz...o importante é que o caneco é nosso.

Éna cum caneco...nunca esta expressão veio tão a propósito.

Deixem-nos Sonhar!


Ele aí está, o Campeonato da Europa de Futebol. Agora que somos clientes habituais das fases finais desta grandiosa competição, já não nos contentamos em apenas marcar presença e lamentarmo-nos com os erros do árbitro que ditou o nosso precoce afastamento do certame. Ficar pela fase de grupos nem nos passa pela cabeça. Seria o mesmo que não ter sequer lá ido. Saltillo nunca mais! 

Agora, ousamos querer chegar longe. Queremos discutir palmo a palmo, eliminatória a eliminatória com os colossos deste desporto e, quem sabe, se com muita raça e um pouco de sorte, não é desta vez que trazemos para casa o caneco. 

Bem sabemos que este é um combate desigual. Que seremos sempre um punhado de Sansões contra um magote de Golias mas, como dizia o malogrado José Torres, “Deixem-nos sonhar!” 

Portugal visto de fora é um lugarejo insignificante, quase desconhecido, diria! Se por alguma razão somos reconhecidos e admirados nas várias partidas do mundo é sobretudo ao futebol que o devemos agradecer. Tive a oportunidade de constatar isso mesmo na longínqua Ásia. 

São sobretudo os jogadores de craveira mundial como Eusébio, Figo ou, ultimamente, Cristiano Ronaldo (este mais, por ainda estar no ativo) os grandes embaixadores deste minúsculo país. 
Tanto, que os nossos governantes utilizam as camisolas assinadas por CR7 para desbloquearem alguns negócios favoráveis a Portugal. Eu próprio, pelo simples facto de ostentar um passaporte do mesmo país, fui alvo de inesperados obséquios, como bebidas de oferta ou lugares privilegiados em restaurantes, só para dar dois exemplos das portas que os magos da bola nos abrem mundo fora. 

Dizia com total propriedade um afamado economista finlandês que, se os portugueses se dedicassem a outra área mais proveitosa com o mesmo afinco que se dedicam ao futebol, Portugal seria uma potência mundial nesse particular em que se empenhassem. 

Por agora só queremos ser nós próprios com as nossas virtudes e defeitos. 
Só queremos ver a bola a ganhar vida própria no relvado. 
Só queremos é aquele momento de magia orgásmica em que toda uma nação se esqueça das agruras e desavenças quando a bola beija as malhas contrárias e o golo acontece. 
Só queremos é minis, tremoços e abraços. 
Só queremos trivelas, reviengas, nós cegos e golaços. 

Só queremos que nos deixem sonhar!

Escrito por pulanito @ julho 12, 2016   0 comentários

quinta-feira, julho 07, 2016

Confissões de Um Sexagenário




Aos vinte anos julgamo-nos imortais. Aos quarenta, descobrimos que o não somos e, aos sessenta, preparamo-nos para a grande viagem. Esta é uma das inevitáveis conclusões da vida.

Digo isto porque entrei recentemente neste último escalão e, volta não volta, dou comigo a fazer balanços existenciais. Olho para trás e revejo a longa-metragem que tem sido o filme da minha existência para que, de algum modo, ainda possa projetar o futuro do que me resta. 

Vislumbro no pré-velho que sou a criança que em tempos fui ( e que continuo a ser, mas isso é segredo entre escriba e leitor!) e, rememorando essa imaginária fita, distingo no gaiato sonhador prantado à torreira do sol, o ser pertinaz e inquieto que me tem acompanhado vida fora.

Agora que atingi a idade em que as mulheres são todas bonitas e os polícias mais novos que eu, dou comigo a pensar que a mocidade passou num ápice; foi assim como um ar que se lhe deu!

Dizem-me assim em jeito de chalaça, que vou passar a entrar nos museus sem pagar e usufruir de descontos nos transportes públicos. Que não tarda nada vou ter todo o tempo do mundo para finalmente desfrutar da vida.

Digam o que disserem, entrar no ocaso da vida é uma chatice e peras.
Aos poucos vão-se os sentidos esmorecendo. A visão começa a ser apenas periférica, a audição falha a cada instante, a mobilidade é cada vez menor e até a virilidade vai definhando.

O único dos sentidos que melhora com o passar dos tempos é o palato. Tal faz com que tenhamos mais apetite, logo, comemos mais, logo, mais furos no cinto, só que desta vez na direção oposta àquela onde os estamos habituados a fazer.

E, como se não bastasse, a sacana da próstata agiganta-se ocupando o lugar da bexiga obrigando-nos a urinar de hora a hora.

Depois, quando nos querem adjetivar, chamam-nos “charmosos” que, para quem não sabe, é um insulto delicodoce inventado pelas mulheres.
Assim uma espécie de código que usam entre elas, para nos dizerem com aquele sorriso sacana escarrapachado na cara: — Ó filho vai-te catar. Estás tão fora de prazo que já cheiras a naftalina!

Escrito por pulanito @ julho 07, 2016   0 comentários

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