segunda-feira, março 21, 2011

Breves Flores Com Pétalas de Aço.




Hoje, dia mundial da poesia, deixo aqui como contributo, um poema fresquinho para os amantes da palavra escrita em forma de sonho.

Dedicado a todos Pedros que procuram as suas Ineses, onde quer que estas se encontrem.


Breves Flores Com Pétalas de Aço


Perdido, vagueio pelas ruas desta cidade

Deambulo em busca de mim

Sou poeta louco e sem idade

Escrevo versos sem principio nem fim

Ainda se fosse arlequim

Bobo ou mesmo palhaço

Vestir-me de outro ou então de ti

E plantar no teu jardim

Breves flores com pétalas de aço


Mergulhar no mar revolto do teu olhar

Roubar-te um beijo apetecido

São desejos que ouso não ousar

E no teu colo adormecido

Fecundos sonhos voltar a sonhar

E regresso todos os dias aqui

Na esperança de te encontrar

Mas sou apenas um pobre arlequim

Bobo ou mesmo palhaço

Que planta no teu jardim

Breves flores com pétalas de aço


Neste circo que é o mundo

É no trapézio o meu lugar

O teu sorriso cala-me fundo

Desejo, é em teu ventre naufragar

E em tempos de frenesim

Repito tudo o que faço

Travisto-me de bobo, arlequim

E planto no teu jardim

Breves flores com pétalas de aço


Se dos píncaros desta loucura

Me vires por aí cirandar

É porque ando de ti à procura

Em todo e qualquer lugar

Nesta busca que perdura

Como doença sem cura

Na ânsia de te encontrar

Para nas margens da tua formosura

Poder um dia, enfim repousar

As flores que brotam desse regaço

Foram colhidas no teu jardim

Por este pobre bobo, palhaço

Que as plantou, e daí

Nasceram breves flores com pétalas de aço

Escrito por pulanito @ março 21, 2011   12 comentários

sábado, março 19, 2011

José!




José, é da Conceição por parte do ventre de sua mãe; dos Geraldos por via do quinhão que o viu nascer; da Josélia por pacto há muito firmado em que juraram que um e o outro seriam a mesma coisa, e dos Ganhões, por pertencer aos homens que cantam lonjuras e planícies.


Conheci esta rara figura já lá vão alguns anos. Numa das minhas deambulações alentejanas fui dar a este povoado chamado de Geraldos, perto de Castro Verde, onde parei a viatura num pequeno largo; ao fundo, assim como quem pincela de sons o silêncio, ouvia-se o cante chão nas graves vozes dos homens da terra. Como que atraído por azougue caminho em direção à vozearia; quanto mais me aproximo mais estremeço e quando entro no pequeno estabelecimento há todo um Alentejo que se solta das gargantas dos cantadores.


Ali fico estarrecido na esperança de que o momento se eternize. Entre rodadas de minúsculos copos de tinto e pratinhos de petisco mata-borrão que Dona Josélia vai revezando de quando em vez, vão os fregueses debitando todo um cardápio de cantoria que entra noite adentro sem que nenhum de nós houvesse disso dado conta.


Ti Zé da Conceição, o anfitrião do estabelecimento, dá-se a conhecer e a curiosidade faz com que entabulemos conversa através do habitual interrogatório de que são alvo os forasteiros. De onde sou? A que família pertenço? O que faço por ali?


Desta inquirição nasceria uma amizade, que sendo como as flores frágeis, necessitaria de ser regada, coisa que faria amiudadamente e sempre que o cante que sem ser de sereia, seria uma das razões que aí me levava.


Não me recordo de alguma vez aí ter ido e que Mestre Zé estivesse de plantão ao balcão, que mal o sol começasse a dar sinais de esmorecimento, não começasse ele uma das muitas modas do seu vasto repertório.


Na minúscula taberna, não faltavam os meus objetos de culto, rifas de facas, calendários porno-brejeiros, livro de fiado e arqueologias outras onde sou vidrado. Para dizer a verdade passei neste singelo estabelecimento de vinhos & petiscos, alguns momentos de rara felicidade.


Aqui apreciei o gosto pela vida de Dona Josélia, provei do seu dedo gastronómico excelentes iguarias, comparti estórias de vidas e vivências que guardo aqui, em lugar especial, ao lado esquerdo do meu peito.


Certo dia encontrei Ti Zé da Conceição em Castro Verde que me informou do inevitável fecho da taberna, porque feitas e bem feitas as contas, estava a pagar para ter a porta aberta, e assim, fechou um dos meus locais de eleição.


Fechou, mas assim em jeito de conversa de ouvido, segredou-me que para os amigos continuaria aberta, ou seja: teria passado à clandestinidade, coisa romântica e mesmo rocambolesca a relembrar outros tempos, outros desafios que se vão esvaecendo da nossa memória.


Ainda lá voltei umas quantas vezes para saborear o cante da terra à porta fechada, ou em dias de Verão, à vespertina sombra do seu quintal.

Os indefectíveis amantes da alma canora alentejana, por lá continuaram a juntar as vozes, perfumando de sons a planície, que vá-se lá saber porquê, me dão um sentido de pertença que nunca consegui explicar.


Depois o Ti Zé adoeceu e com a sua maleita, esmoreceu a cantoria nos Geraldos.

No outro dia voltamo-nos a cruzar. Estava vestido de ganhão, e, ou vinha, ou ia para uma atuação dos Ganhões de Castro Verde, grupo coral a que pertence e onde desempenha o lugar de alto.

Recordámos tempos idos e, na luz que lhe incendeia os olhos, consegui neles vislumbrar a saudade de um tempo sem retorno.






Na balsa de palhinha que lhe adorna o uniforme, parece-me que carrega muito da sua história e dos seus sonhos, coisa que me comove, sempre que olho pessoas adentro sem licença lhes pedir.

Quando nos despedimos, Ti Zé ajeitou o lenço, compôs o chapéu, jogou a balsa para trás das costas e calçada abaixo saiu cantando os primeiros versos duma velha melodia.


No Alentejo eu trabalho

Cultivando a dura terra

Vou fumando o meu cigarro

Vou cumprindo o meu horário

Lançando a semente à terra

Escrito por pulanito @ março 19, 2011   4 comentários

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