quinta-feira, janeiro 29, 2009

No Comboio Descendente

De novo no Alfa Pendular em direcção ao sul, meu ponto cardeal favorito.
Desta vez viajo ao correr da paisagem, logo a panorâmica que me é dada a apreciar é feita de modo natural, portanto sem correr o risco de contrair um torcicolo.
Tenho cerca de duas horas para me entreter aqui na minha escrevinhação anárquica, ao jeito de tradução escrita de fotogramas flashados que me irão invadir a memória.
Gosto desta coisa do comboio. Gosto da suavidade da viagem, da amplitude das janelas que dão um ar cinemascope ao filme paisagístico que os olhos avidamente consomem.
Gosto de ter tomada para ligar o computador e mesmo que não tenha Net, tenho ferramenta para me entreter ou trabalhar durante a viagem. Gosto ainda do conforto bamboleante e silencioso em que a jornada é efectuada.
Agorinha mesmo, uma funcionária impecavelmente vestida com a sua nova farda verde limão, me perguntou se desejava pequeno almoço…penso para com os meus botões que isto é um luxo de que tenho de me aproveitar mais vezes. Recuso a sugestão, até porque estou em plano alimentar e já lá vão quatro quilitos de supérfluas gordoritas. Necessito de perder outros quatro, para que não os carregue em cima da bicicleta e depois a malta da minha equipa goze comigo quando ficar para trás na primeira dificuldade de terreno que tiver de enfrentar.
O Carneiro diz que eu a pedalar pareço o Quaresma a jogar à bola, isto porque diz que nunca tinha visto ninguém a pedalar de trivela. É o preço da originalidade Xiclista. Para além disso comparar-me com um cigano é uma honra que gostaria de merecer.
Lisboa há muito que ficou para trás. Esta manhã estava envolvida numa neblina dum cinza estanho que apenas deixava vislumbrar tenuemente os pilares da ponte sobre o grande rio, que pareciam flutuar.


A ponte vista de ângulo curioso e ambiente sebastiânico

Deixando Lisboa para trás, aparecem as construções da outra margem, onde milhares de milhares de almas vivem, sonham e labutam, numa impressionante e disciplinada rotina vivida dia após dia, ano após ano, vida após vida.
Gosto de Lisboa. Porém, viver numa grande cidade é coisa que não consta dos planos elaborados para o resto dos meus dias.
Tenho escrito aqui no Pulanito vários posts, onde Lisboa surge na plenitude da sua magia feminina. Gosto de aqui vir, mas também gosto muito de cá abalar.
Estamos agora em pleno distrito de Setúbal. A paisagem há muito que deixou de ser povoada por aglomerados betonizados aos céus erguidos, numa tentativa humana de competir com o mestre obreiro dos céus e da terra. Ainda não chegámos à grande planície onde o verde-esmeralda dos jovens trigais que agora anunciam um ciclo novo na voragem dos anos que passam, se esbate na perfeição dum azul celeste que os nossos olhos percorrem até ao infinito.
Por ora, apenas pinhais e pequenos aglomerados preenchem a tela viva deste filme em que interajo com o que se me é dado a observar tentando ao mesmo tempo transmitir aos leitores do Pulanito duma forma quase desafiante o que se passa na cabeça deste pobre viajante.
O Alfa Pendular viaja agora a 224 vertiginosos Km por hora. Chegarei a Tunes pelas 11.20 horas, numa viagem que não deve ultrapassar as 2.30 horas, o tempo suficiente para que aqui e de forma desgarrada, actualize o blogue e logo com post dos compridos, sinal de que pouquíssima gente o lê.



Arrozais de Alcácer do Sal

Passei agora Alcácer do Sal, que no serpentear do Rio Sado vai desenhando arrozais cultivados em múltiplos rectângulos alagados, onde tractores com inusitadas rodas metálicas fazem o trabalho do amanho dos terrenos tirados a régua e esquadro, que de tão lisos e simétricos, parecem ter sido aplainados por agricultor com gosto pela carpintaria.
Agora já estou em plena terra do pão. Terra onde lonjura rima com ternura e espanto rima com encanto. Estou em casa, por assim dizer!
Não sei porquê (ou se calhar sei), mas mal os meus olhos se apercebem da paisagem que é o meu território emocional, o meu coração engata outra velocidade e o seu batimento sofre repentinamente um aumento que não consigo dominar.
Já levo hora e meia de viagem, o que quer dizer que mais coisa menos coisa, dentro de uma hora estarei em Tunes minha estação terminal.
Tenho aí o meu carro. Terei de partir rapidamente para uma consulta de rotina com o meu médico de família que por coincidência será a sua última consulta, já que a partir de agora passará à qualidade de reformado.
Quero aqui deixar ao Dr.Luis Sena o meu muito obrigado em nome da minha família, pela forma com que ao longo dos anos acompanhou a nossa saúde, especialmente a minha, desde a descoberta dos malditos diabetes no ano de 2000.
Vou-lhe agradecer de viva voz o que por nós fez em todos estes anos e desejar-lhe longa vida, muita saúde e boas caçadas pelo meu Alentejo de que o Dr. Luis Sena é grande admirador.
O Alfa continua a rasgar as terras da planura. Ao longe e de quando em vez surge um monte, uma pequena aldeia de branco caiada com as suas fumegantes chaminés.
Estamos em pleno Inverno de 2009 e em muitas desses chupões estarão muitos chouriços, linguiças, presuntos ou paios ao permanente fumeiro de forma a que ganhem o inconfundível paladar das coisas da terra. Coisas essas, transmitidas de geração em geração e tanto quanto sei com pouquíssimas introduções de tecnologia de agora, conforme tenho constatado nos rituais de matança a que tenho assistido.
Viajamos agora a uma velocidade pouco alentejana: 219 Km por hora. No rectângulo da minha janela sou inundado de verde. A partir de agora o Alentejo vai ganhando cores de vida e quando a primavera chegar, será o espectáculo da metamorfose dos campos que mudam de cor de semana para semana num exercício de plástica desconcertante.

Santa Clara a Velha

Passo agora um serrado que me anuncia estarmos a entrar no reino dos Algarves. A sinuosidade do terreno acentua-se como se de um fronteira natural se tratasse. Pequenos montes, casas de serrenhos que amam tanto a serra como eu amo a planície, onde ainda é mais difícil resistir e onde a cada dia que passa, enfiados num fato de madeira, vão a enterrar muitos desses guardadores de memórias que sem terem a quem as passem, as levam consigo para a última estação do comboio da vida.

Escrito por pulanito @ janeiro 29, 2009   6 comentários

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Dino & Soul Motion Acústico no Teatro de Faro Dia 31 .01

No próximo dia 31 de Janeiro, pelas 21.30 horas terá lugar no Teatro de Faro, um concerto especial do Dino & Soul Motion com todos os convidados que participaram no seu trabalho. Lá encontraremos para além do Dino e dos seus Soul Motion, Sam The Kid, Virgul, Pac Man, Valete, Nel Assassin e claro, este vosso amigo.
Este espectáculo será gravado para posterior emissão em cadeias de televisão e possivelmente para comercializar em formato DVD.
Serão interpretados todos os temas do álbum Eu e os Meus num registo acústico, intimista e em apresentação única nestes moldes.
Os bilhetes já estão à venda nos locais habituais, por isso, se algum dos leitores quiser assistir a este evento musical onde este vosso anfitrião vai estar presente, não se atrasem até porque a sala é relativamente pequena.
Aqui trarei em registo pirata alguma parte desse espectáculo para aqueles que não tiverem oportunidade de a ele assistir.

Etiquetas: dino, dino soul, hip hop, Pac man, sam the kid, Valete, Virgul

Escrito por pulanito @ janeiro 21, 2009   4 comentários

terça-feira, janeiro 20, 2009

João Aguardela Morreu

Não me terei cruzado com o João Aguardela mais que meia dúzia de vezes. Mas das vezes que com ele me cruzei, guardo o seu olhar azul acutilante, a sua vontade acérrima de lutar contra a corrente e acima de tudo percorrer caminhos inovadores na música universal e especialmente a portuguesa.
Com Os Sitiados, este autêntico animal de palco misturava a música rock com a música tradicional portuguesa numa sonoridade única que valeu cinco trabalhos de longa duração enquanto o projecto durou. Deste marco da música do final do século passado ficam os êxitos: Esta Vida de Marinheiro, A Noite ou a Cabana do Pai Tomás de entre muitos outros.
Depois com o projecto Megafone fez um trabalho ímpar de reinvenção da música popular portuguesa mergulhando nas recolhas de Giacometti e José António Sardinha numa sequela de álbuns que não sendo do grande conhecimento do público, são testemunho vivos que o João que com a sua capacidade inventiva nos legou.


Vejam aqui a genialidade que faz com que se conquiste a imortalidade

Seguiram-se outros projectos com destaque para a Linha da Frente onde musicou poetas de renome de onde se destacam Ary dos Santos, Pessoa ou Manuel Alegre.
O seu último projecto era A Naifa, um grupo que já conta com três trabalhos originais e de que João Aguardela era o incontestável alter-ego.
Vi o João já doente num show case da FNAC há uns meses atrás. Perguntei-lhe pela saúde, parecendo-me ele com coragem e capacidade para dar a volta ao infortúnio que sobre ele se havia abatido.
Assisti ao espectáculo mas não pude esperar pelo final para dele me despedir.
Uma das melhores passagens de ano que terei passado, foi saboreada na sua companhia e da Sandra sua companheira de sempre. Para essa noite memorável fui convidado pelos meus amigos Raul e Celeste, seus amigos de longa data.
Aí chegados o João e a Sandra logo nos puseram á vontade. Durante a noite algumas vezes ficámos os dois á conversa falando essencialmente de música e dos seus novos projectos de que falava entusiasticamente.
Durante a noite chegou gente aos magotes, essencialmente artistas que vinham fazer uma perninha à interminável Jam Session em que aquela primeira noite daquele primeiro dia se tornou.
Pela manhã fomos recolher os cadáveres das centenas de garrafas e embalagens que haviam ficado como inertes testemunhos daquela inesquecível noite de excessos.

Hoje soube do falecimento deste enorme artista. Tinha 39 anos, faria 40 em Fevereiro. Sabia que era uma notícia que haveria de chegar a qualquer momento pelo que ia sabendo através do Raul e da Celeste.
Foi na tarde de hoje a cremar conforme seu desejo. A música portuguesa fica mais pobre.
À Sandra, à Naifa e aos seus familiares os meus sinceros sentimentos.
Curvo-me sentidamente em sua memória.

Etiquetas: João Aguardela, Linha da frente, Megafone, Sandra Batista, Sitiados

Escrito por pulanito @ janeiro 20, 2009   2 comentários

Obama Nas Alturas

Aqui no Pulanito tratamos de paixões e outras questiúnculas, mas a politica é um tema non gratto, que evito tratar, visto ter-me fartado da vilanagem que impera neste suposto “jardim à beira mar plantado”, tendo mesmo passado à clandestinidade cívica como forma de luta e protesto contra o regabofe existente.
Porém, não posso deixar de assinalar a chegada ao lugar de maior responsabilidade no planeta do primeiro presidente dos USA de seu nome Barak Hussein Obama, que envolto numa aura messiânica a roçar a divindade negra, é a esperança a que praticamente sete biliões de seres humanos se agarram para inverter a espiral suicida em que o planeta caiu.
Pessoalmente também deposito a minha fatia de esperança neste homem que me conquistou pelo seu discurso caloroso, certeiro, humanizado e facilmente entendível pela generalidade das pessoas.
A maneira como geriu a sua campanha. As batalhas que teve de travar e vencer contra todos os candidatos democratas e em especial a finalista Hillary Clinton, obrigaram-me a reparar neste homem de palavra fácil e credível que aos poucos me foi cativando e de quem estou esperançoso e até quiçá, rendido.
Sei que é um trabalho hercúleo e inumano carregar todas as dores da humanidade, mas contamos que com a sua entrada em cena, e como numa reviravolta teatral, o engenho do progresso inverta a forma de propulção, retomando de novo o caminho do progresso e prosperidade dos povos; e quando esta atinja de novo a velocidade de cruzeiro se preocupe com a justa e harmoniosa distribuição da riqueza que a todos pertence.
Mas isto se calhar, já exagerar no pedido!

Escrito por pulanito @ janeiro 20, 2009   3 comentários

sábado, janeiro 10, 2009

Ceifeiras de Entradas Cantam as Janeiras

A enluarada noite Entradense estava fria como há muito por aqui não se sentia. Falava-se até que podia nevar por estas bandas caso o céu se nublasse madrugada dentro.
As Ceifeiras de Entradas, novíssimo grupo coral feminino, que tanto eu como a Maria Lucília fomos convidados a apadrinhar, convite a que acedemos com entusiasmo e com a convicção de que daremos o nosso melhor de forma a promover estas afinadíssimas vozes, que procuram fomentar a cultura Alentejana em geral e a Entradense em particular.

Bem, a noite era de reabilitação de uma tradição que há muito se havia perdido no tempo; o cante das Janeiras.
As Janeiras ou cantar as Janeiras é uma tradição em Portugal que consiste na reunião de grupos que se passeiam pelas ruas no início do ano, cantando de porta em porta e desejando às pessoas um feliz ano novo.Ocorrem em Janeiro, o primeiro mês do ano. Este era o mês do deus Jano, o deus das portas e da entrada. Era o porteiro dos Céus e por isso muito importante para os romanos que esperavam a sua protecção. Era-lhe pedido que afastasse das casas os espíritos maus, sendo especialmente invocado no mês de Janeiro.Era tradição que os romanos se saudassem em sua honra no começar de um novo ano e daí derivam as Janeiras.Terminada a canção numa casa, espera-se que os donos tragam as janeiras (castanhas, nozes, maçãs, chouriço, morcela, etc.). Por comodidade, é hoje costume dar-se chocolates e dinheiro, embora não seja essa a tradição.No fim da caminhada, o grupo reúne-se e divide o resultado, ou então, comem todos juntos aquilo que receberam.As músicas utilizadas, são por norma já conhecidas, embora a letra seja diferente em cada terra. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal, a enciclopédia livre

Era este o espírito que assistia ao cante das Janeiras, sendo que por estas bandas e nesses tempos, eram essencialmente cantadas às portas dos lavradores, seareiros e outros pretensos abonados residentes nas aldeias e vilas. Depois de corridas as ruas dos povoados e caso o pecúlio não fosse suficiente, partiam a pé para os inúmeros montes da vizinhança onde esperavam ter melhor sorte.

Na noite de ontem (09/01/09) em Entradas, o espírito era recuperar essa tradição dentro da presente modernidade e fazer de porta em porta o debut destas Ceifeiras Entradenses.








A primeira actuação teve lugar na Biblioteca local, de seu nome Manuel da Fonseca, que caso fosse vivo, seguramente seria um devoto destas noctívagas saídas.

O ensaiador Paulo Madureira, qual Infante D. Henrique à descoberta da noite gelada


O grupo reuniu-se e a mando do ensaiador Paulo Madureira, interpretou o seu parco repertório aprendido à pressa e em meia dúzia de ensaios, mas que, segundo a minha opinião e a dos restantes felizardos espectadores estavam afinadíssimas.

Saídos da biblioteca, percorremos na gélida noite a terra que me viu nascer. Sem que ninguém soubesse, regredi no tempo e regressei à minha infância. Bebi deste ritual as minhas memórias de menino, e à medida que avançávamos de porta em porta cantando a moda “ do canivete a bailar, para uma chouriça ganhar”, fui cimentando no que mais de intimo tenho, o prazer de aqui haver nascido, e de com os meus percorrer as ancestrais pedras da calçada Entradense.

Lendo as quadras relativas às Janeiras à proprietária do Restaurante O Celeiro - Ana Maria Soares


Uma das primeiras paragens deu-se no restaurante Celeiro, onde os repastantes se deliciaram com a surpresa. Após a cantoria uma das cantadeiras de talêgo em punho, solicitava uma pequena contribuição aos presentes a que genericamente acediam.

Dali seguimos, qual bando errante até à taberna do Pedro, onde se repetiu a cena. Percorremos depois Entradas de lés a lés, fazendo paragens aqui e ali e em especial à porta dos estabelecimentos onde mais gente se encontrava.
Uma das paragens teve lugar numa das padarias locais, para onde entrou toda a gente a fim de se aquecer, já que o ambiente era o recomendado para um reabastecimento de calor, bem como o perfume que exala destas fábricas é um bálsamo para quem durante três horas aguentou sem pestanejar as absurdas temperaturas negativas que se faziam sentir.

Um Entradense vem à rua e oferece às cantadeiras e acompanhantes um copinho de vinho do Porto.

Na Horta teve lugar a última apresentação. No regresso parámos junto ao poço com o mesmo nome e aí, o ensaiador Paulo Madureira quis surpreender os acompanhantes com uma moda genuinamente Entradense e com a afinação quase, quase no ponto.









Como a coisa foi feita noite adentro e luz era inexistente, quase não tenho imagens, mas o troar das vozes das mulheres de Entradas fica aqui vincado de forma indelével, sendo também um presente para todos os que se interessam por todas estas coisas da alma alentejana.

Etiquetas: alentejo, Ceifeiras de Entradas, Entradas - castro verde, Janeiras

Escrito por pulanito @ janeiro 10, 2009   4 comentários

domingo, janeiro 04, 2009

Alentejanando em casa do Zé Manel


O momento fatal

Estamos no Inverno, é altura de matança em casa do primo Zé Manel em Albernôa. Este é um ritual que se repete ano após ano.
Os homens seguram o barrasco que pressente ter chegado a sua hora e se debate contra ela, com todas as suas forças.
Zé Manel segura o focinho do bicho enquanto prepara a estocada que lhe há-de roubar a vida. O bicho num último desespero consegue abrir a boca e dar uma dentada no seu algoz que lhe há-de arrancar um pedaço do dedo.




É fundamental que quem ajuda a segurar o animal, saiba o que está a fazer. Para que este tenha uma morte rápida e o menos dolorosa possivel é necessário que sangre bem e rápido. A prestação dos ajudas é essencial nesse capitulo desde que a facada do mestre matador tenha cortado a jugular.

O ritual do sangue

Bem sei que tem um aspecto cruel ver o animal a sangrar, mas acontece que por estas bandas as pessoas sabem que os animais não crescem nas prateleiras dos supermercados. Nascem, vivem e morrem com um propósito: alimentar-nos.
Respeita-se o animal, proporcionando-lhe uma morte rápida, cujo sangue quente é aproveitado para os enchidos e para a famosa moleja. Um caldo de sangue com figado frito, algo pesado, por isso só se come por altura da matança.



Depois do sacrificio dos animais, é necessário prepará-los, para tal são queimados a poder de maçarico e raspados até ao couro, são depois lavados e de novo raspados sendo de especial maestria a raspagem dos pés, focinho e orelhas.

Em post de Janeiro do ano passado já fiz o relato da matança anual do Zé Manel. Leia aqui de novo: http://pulanito.blogspot.com/2008/01/o-natal-do-z-manel-alberna.html


Fazendo das "tripas coração"

A lavagem das tripas é um trabalho árduo, enjoativo, mal cheiroso e prolongado que nas matanças está consignado às mulheres da casa. As tripas são muito bem lavadas ém água corrente, de preferência numa ribeira ou num regato corrente, depois repousam em alguidares perfumadas de rodelas de limão e laranja. Finalmente servirão para encher com a carne temperada que consoante o tipo de tripa darão chouriços, linguiças ou paios...e estes serão sem sombra de dúvida dos melhores da região.

Aprendiz de feiticeiro


Ao lume já estão a fritar os belissímos torresmos do rissol. Este aprendiz de alquimista repara atentamente como as coisas se fazem. Um dia será ele a fazê-las. De reparar que ao lume estão, para além dos torresmos, duas panelas de ferro com água fervente e a famosa "chocolateira de barro" que afinal é cafeteira e onde se faz um dos melhores cafés que a memória palata deste escriba soube registar.

Temperando o Entrecosto

Cada um tem a sua função. Neste caso os mestres cucas, dão o seu melhor para que a carne do bicho seja cozinhada, temperada e apaladada da melhor maneira. A fazer fé na sua fama, não duvidem; estes sabem mesmo da poda.




Depois o pessoal senta-se à mesa ( no caso presente eram mais de 30), e vá de enfardar porco e mais porco. Um dos habitués é o Senhor Campinas. Como o apanhei em contra-luz achei graça á foto e cá vai disto que amanhã não há.



Cantando a Moda

Aqui a tradição ainda é o que era. Depois da matança e da comezaina, segue-se a cantoria. Como bons alentejanos, os homens desembrulham da alma as melodias que passaram de geração em geração.



Fazendo Queijinhos


Nesta pequena unidade familiar onde tudo o que se produz é de excelente qualidade, também se fazem queijinhos de cabra de maneira artesanal, mas dentro de todos os preceitos exigidos por lei.

Como têm de ser feitos todos os dias, enquanto uns cantam a moda, outros transforam em queijo o leite ordenhado do rebanho de cabras do casal.

No caso presente, passa-se o conhecimento de pais para filhos. A Rita, aprende com a mãe a fazer o melhor queijinho de cabra da região.


Daniel - Guardador de Rebanhos

Já a noite se tinha feito noite, até já tinhamos comido a açorda do Sássá, quando vejo surgir porta dentro este jovem guardador de rebanhos de seu nome Daniel.

Tenho por esta profissão a maior das admirações e carinho. O Daniel estava contentissimo na sua nova pelica que Zé Manel lhe ofertara aquando da feira de Castro. Nota-se nos olhos deste jovem o orgulho que tem em ser pastor, guardador de gado, paisagens e solidão.

Esta é uma profissão dura e sem horários. Quer chova quer faça vento, o rebanho tem todos os dias de comer e atrás dele haverá sempre um Daniel, que pode não saber muito do que se passa no planeta, mas conheçe melhor que ninguém o mundo onde se movimenta. Conheçe cada monte e cada vale, conheçe todos os caminhos e veredas, maneja o seu rebanho com ordens de assobio que o seu cão cumpre na perfeição reunindo, parando ou dando volta ao rebanho consoante a ordem assobiada por mestre Daniel.

À noitinha regressa a casa, mas com pressa de novo regressar ao seu rebanho, ao seu lugar, onde para além de o guardar, também as ordenha duas vezes por dia (ao romper da aurora e á tardinha), ajuda as cabras a parir e mais das vezes faz de veterinário para além de muitas outras tarefas repetidas 7 dias por semana.

Escrito por pulanito @ janeiro 04, 2009   6 comentários

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Sam The Kid - Dopping.


Está a rodar em exclusivo na MTV o novo vídeo clip do Samuel (Sam The Kid) com o titulo Dopping.
Espera-se para este ano novo trabalho de instrumentais da série “ Beats”, muito dele composto em Entradas durante os seus retiros criativos que o Samuel faz por terras do alentejo. Esperemos que Entradas e o Alentejo sejam fonte de inspiração criadora para o novo trabalho que se avizinha.
Mais lá para a frente novo trabalho da saga E S P E C I A L, este a começar pela letra E, em que o Samuel já está a trabalhar afincadamente, mas sem qualquer tipo de pressão, que é coisa que ele repugna em absoluto.
Mas para aguçar o apetite dos amigos apreciadores da sua arte, aqui fica este extraordinário clip que por acaso vem a calhar com o inicio de um novo ano.
Ouçam com atenção a letra e reparem na cuidada produção deste trabalho que já tem o seu quê de produção internacional.
Como é preciso alimentar os admiradores, o Samuel, vai soltando a conta gotas parte da sua produção quer musical, quer audiovisual.

Para ver o clip, clica aqui: http://www.mtvserver.com/samthekid/

Escrito por pulanito @ janeiro 02, 2009   5 comentários

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Equipa da Graça do Divor na RTP


Pois é! Já foi no passado 14 de Agosto que esta “tropa fandanga” se apresentou no programa da RTP – À Volta.
O meu amigo de longa data José Manuel Pina que trabalha na RTP, procurou por todos os meios conseguir-me este pequeno clip que atesta a nossa passagem por esta estação televisiva.
Só agora foi possível contar com este pequeno vídeo, que a partir deste momento está à disposição dos leitores deste humilde botequim.
As minhas desculpas pelo atraso, mas mais vale tarde que nunca.

Escrito por pulanito @ janeiro 01, 2009   8 comentários

Rua Dos Dias Que Voam


Numa manhã domingueira de passeio por Lisboa, dou com esta placa toponímica: Rua Dos Dias Que Voam.
Fiquei a pensar no autor do nome da rua, em quem teve a sensibilidade de aceitar para nome de rua uma frase tão singela, mas ao mesmo tempo tão profunda e a calhar com esta significativa mudança de ciclo temporal.
Na verdade, os dias meses e até os anos parecem ter aprendido a voar, tal a velocidade com que passam por nós sulcando-nos no corpo e na pele a sua indelével e definitiva marca.
Escrevo no dia primeiro do ano de 2009. Saúdo o novo ano que entra e que jamais sonhei vir a viver. Todos os semblantes me recordam que este vai ser um ciclo tormentoso e que grandes convulsões sociais se avizinham, daí termos entrado neste novo ano, mas se calhar preferindo passar por cima dele, apagá-lo das nossas vidas, abdicar de 365 dias, desculpem: 366, porque este 2009 é bissexto, anulá-lo, sei lá, fazer com que não existisse, tal é a convicção que as pessoas têm no mau augúrio que esta combinação anual nos pode vir a trazer.
Mas voltemos aos dias que voam. Ainda ontem era 2008 e hoje já é 2009. Ainda ontem tinha começado a escrever um post de despedida de 2008, mas o tempo voou tão rápido que quando dei por mim a mensagem que queria passar já estava desactualizada.
Desunhei-me a escrever qualquer coisa para começar o ano, mas que simbolizasse isso mesmo: a entrada de um novo ano.
Para tal, e ao contrário dos outros mortais, levantei-me cedo e pus-me em frente ao computador. Abri o Word e no menu horizontal ordenei que este me desse uma nova folha em branco. Fiquei ali a olhar para o branco imaculado da folha virtual, ginastiquei os dois únicos dedos com carrego no teclado, transformando em palavras as múltiplas combinações de teclas onde pressiono.
Devo ter começado uns bons cinco textos sobre o ano que se avizinha e como foi bom deitar para trás das costas esse 2008 de má memória.
Após dois ou três parágrafos o branco da página atraía-me mais do que as baboseiras que procurava alinhavar em forma de pensamento e a que procurava incutir alguma dignidade, até que me lembrei da placa toponímica duma rua dum bairro tradicional, imortalizada na foto que lhe tirei naquele domingo demorado enquanto Lisboa se espreguiçava languidamente como só as cidades mulher o sabem fazer.

Na verdade, o voo do tempo é tão sublime que mal damos por ele passar.

Saía no outro dia da casa de um amigo meu que tinha combinado encontrar-se com outros amigos que vim a descobrir durante o jantar, que haviam quase todos sido companheiros de escola. Durante o jantar perderam-se a rebobinar o tempo à procura de episódios de um tempo que também voou, que se esfumou quase repentinamente, mas que mesmo assim, deixou no ar um perfume de memória que estes revisitavam com inegável e sôfrega satisfação.
No caminho de regresso a casa, dou comigo a pensar nos meus colegas de escola e tirando três ou quatro da primeira classe, são raros aqueles de que me recordo no meu percurso estudantil. De repente, sinto-me uma errante alma circense, que não teve tempo para aprender quanto mais para fazer amigos. Fiquei ensimesmado e até enciumado pelo facto do meu amigo ter podido assistir à ascensão e declínio das várias formas que os corpos vão sofrendo ao longo da vida e ainda por cima celebrando amiúde tal acontecimento.
Fiz um esforço para me lembrar de algum nome de escola nem que fosse só para me compensar. Vinha-me á memória um tal Lontrão, eterno aluno da António Arroio, mas esse não era do meu campeonato.
Revi mentalmente o pátio de entrada da minha velha escola na Rua Almirante Barroso, junto ao Liceu Camões (com quem de resto tínhamos acesas disputas), e lembro-me de todos nos erguermos reverencialmente à passagem do Pintor Lino António (eterno director desta escola), artista que todos os candidatos a essa condição respeitavam.
De repente no meio da sebastianina nebulose da minha ténue memória aparece uma figura loura de cabelos compridos e olhos claros. Juntando os cacos do puzzle da memória e depois de descodificado só me dava um nome - Atilano.
É pá, este é o nome do gajo – pensei para com o meu fecho eclair. No dia seguinte ponho o nome Atilano a Googlar e aparece-me em primeiro lugar “ a página do Atilano” que para minha surpresa tinha fotos que fundidas com a memória daquele rapazito loiro de olhar aguçado com as fotos daquela página, eram uma e a mesma pessoa.
Não cabia em mim de contentamento! Mas, tal euforia foi-se esvaindo porque no seu website não havia forma de o contactar. Até que, numa página interior encontrei um e-mail que fazia referência ao seu nome e sem hesitar contactei -o de imediato.

Pensei que a resposta nunca chegasse, ou pelo menos que demorasse, mas o dia de S. Supresino, estava a fazer jus ao seu nome. Passados minutos um pedido de aceitação no MSN – era o Atilano Suarez - Reatámos ali uma conversa suspensa no tempo. Mesmo via MSN (e à imagem dos meus amigos) rebobinámos ali muita da nossa lembrança, fazendo neste caso, voar os dias no sentido ascendente do ponteiros da memória.
O Atilano prometeu com a sua pá de garimpo e a sua lanterna de mineiro, procurar no espólio da sua vida, nomes e fotos dum tempo que num ápice se esvaeceu.
Talvez que com esta informação possamos também cavar no tempo um espaço de lembrança recuperada e assim, qual achado arqueológico, possamos reacender a centelha do património da nossa existência.

Este blogue é um excelente depositário de memórias, estando certo de que muitas já as teria perdido se num belo dia de 2006 não me tivesse decidido a convosco partilhar episódios, curiosidades e paixões que doutro modo se perderiam na espuma da memória em forma Dos Dias Que Voam.

Escrito por pulanito @ janeiro 01, 2009   5 comentários

Deixe aqui a sua opinião sobre o Fado!

Links

  • Jardins de Inverno
  • um e o outro - blog do Tim
  • Casa Das Primas
  • Oxiclista
  • correio alentejo - um jornal a ter em conta
  • Mokuna
  • Alojamento grátis em mais de 1300 hotéis. 17 países da Europa
  • Insomnia - Um blogue alentejano a visitar
  • Prova Escrita
  • Alvitrando
  • A Cinco Tons
  • NeuroNewz
  • Tricotar o Tempo
  • Entradas Anteriores

    • Lugar Nenhum Ed Hoster e Napoleão Mira
    • Passagem Para a Índia
    • Incongruências
    • Santiago Maior - Napoleão Mira & Sam The Kid
    • Napoleão Mira na RTP
    • A Fé e o Medo
    • Napoleão Mira - AS Portas Que Abril Abriu - (Ary ...
    • Esta Lisboa Que Eu Amo Houve um tempo (lar...
    • Ribeira de Cobres
    • A Velha Pasteleira
    • Reveillon

    Arquivo

    • agosto 2006
    • setembro 2006
    • outubro 2006
    • novembro 2006
    • dezembro 2006
    • janeiro 2007
    • fevereiro 2007
    • março 2007
    • abril 2007
    • maio 2007
    • agosto 2007
    • setembro 2007
    • outubro 2007
    • novembro 2007
    • dezembro 2007
    • janeiro 2008
    • fevereiro 2008
    • março 2008
    • abril 2008
    • maio 2008
    • junho 2008
    • julho 2008
    • agosto 2008
    • setembro 2008
    • outubro 2008
    • novembro 2008
    • dezembro 2008
    • janeiro 2009
    • fevereiro 2009
    • março 2009
    • abril 2009
    • maio 2009
    • junho 2009
    • julho 2009
    • agosto 2009
    • setembro 2009
    • outubro 2009
    • novembro 2009
    • dezembro 2009
    • janeiro 2010
    • fevereiro 2010
    • março 2010
    • abril 2010
    • maio 2010
    • junho 2010
    • julho 2010
    • agosto 2010
    • setembro 2010
    • outubro 2010
    • novembro 2010
    • dezembro 2010
    • janeiro 2011
    • fevereiro 2011
    • março 2011
    • abril 2011
    • junho 2011
    • julho 2011
    • setembro 2011
    • outubro 2011
    • dezembro 2011
    • fevereiro 2012
    • março 2012
    • abril 2012
    • maio 2012
    • junho 2012
    • julho 2012
    • agosto 2012
    • setembro 2012
    • outubro 2012
    • novembro 2012
    • dezembro 2012
    • março 2013
    • abril 2013
    • maio 2013
    • junho 2013
    • julho 2013
    • outubro 2013
    • janeiro 2014
    • fevereiro 2014
    • março 2014
    • abril 2014
    • maio 2014
    • junho 2014
    • agosto 2014
    • setembro 2014
    • outubro 2014
    • fevereiro 2015
    • março 2015
    • abril 2015
    • fevereiro 2016
    • março 2016
    • julho 2016
    • agosto 2016
    • setembro 2016
    • outubro 2016
    • novembro 2016
    • abril 2017
    • maio 2017
    • junho 2017
    • julho 2017
    • fevereiro 2018
    • outubro 2018
    • Current Posts

    Powered by Blogger


 

 visitantes online