quarta-feira, dezembro 24, 2008

Catarina Mira dá a sua primeira entrevista à revista Flash


A minha filhota Catarina e o seu companheiro de trabalho João Paulo Sousa deram a sua primeira grande entrevista a uma revista nacional de grande tiragem, a Flash.
Como sou um pai babado e orgulhoso dos seus filhos não posso deixar de compartilhar com os leitores do Pulanito este momento alto do meu rebento.
Pronto, é só clicar no link e visualizarem a entrevista.
Já agora…Bom Natal ainda uma e outra vez…..

http://www.pt.cision.com/online/resultado_mail.asp?codf=5368&tipo=cr&l=1&idnoticia=9318557

Etiquetas: Catarina Mira, Elite Models, Flash, João Paulo Sousa

Escrito por pulanito @ dezembro 24, 2008   4 comentários

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Feliz Natal...e coiso e tal!


Caros amigos, leitores, voyeurs e afins,

Pronto. O calendário de 2008 estás prestes a ser jogado no lixo e um novinho em folha está pronto a ocupar o seu lugar. Isto quer dizer que daqui a dias estaremos em 2009 e no entrementes teremos mais uma festa da família com o pretexto de celebrarmos o nascimento de uma criança já com a provecta idade de 2008 aninhos.
É um tempo de balanço em tempos de crise, mas é também tempo de colo, de lume e de comunhão, enfim: é Natal!
É comum desejarmos uns aos outros votos de bom Natal, e esse é o propósito que aqui hoje me trouxe, até porque não faço a mínima ideia se voltarei à escrita antes do próximo ano, digamos que deixo a coisa em aberto, até porque teremos este ano quatro ou cinco dias de Natal e pode ser que me lembre de alguma estória engraçada ou algum relato que julgue interessante para poder convosco partilhar.
Enquanto escrevo olho para a montra do meu escritório, local onde todos os anos faço alinhar todos os cartões de Natal que recebo. Anos houve em que tive que inventar espaço para os colocar, tantos eram os cartões que já não sabia onde os pôr. O carteiro por alturas de vésperas do Natal trazia-me carradas de cartões de amigos e clientes, de perto e de longe, mas que por esta altura sempre diziam “presente”, através do envio de um cartão de natal.
Olho agora uma das duas grandes montras que tenho e no parapeito conto oito postais a celebrar a quadra. Bem sei que recebo carradas deles via Internet, mas com todo o respeito não acho que seja a mesma coisa, apesar de eu também o fazer, embora de forma personalizada e não utilizando o copy+past de uma das milhares de mensagens que circulam na Net.
Este ano também não irei enviar mensagens SMS. Responderei aos que mas enviarem, mas não ajudarei a encher os bolsos às operadoras do meio, tanto mais que as SMS tornaram-se tão corriqueiras e banais que na minha modesta opinião já quase roçam o ridículo.
De qualquer modo quero-vos dizer que aprecio de sobremaneira a época em questão. Gosto de todos os rituais (ver posts de Dezembro de anos anteriores). Gosto do chegar, do abraçar, do dar, do receber, do bacalhau e das couves, do peru, dos fritos e doces, do madeiro no lume, das histórias revividas, mas de todos os ritos aquele que por mais espero é levantar-me no dia de Natal pela manhã, com o canudo da minha avó Chica reacender o lume e fazer nele o café da chocolateira que acompanharei com fatias douradas em absoluto silêncio, enquanto revivo fragmentos duma vida que já vai carregando em anos o seu peso.

E pronto aqui ficam os meus desejos de um Natal em paz, com fartura de saúde e rodeados dos que mais gostarem.

Escrito por pulanito @ dezembro 22, 2008   8 comentários

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Ainda há lugares assim!

Cartão de visita da fabulosa casa de Assunção Palhinha em Santana da Serra

Temos que procurar com muita paciência e determinação, mas depois de muito procurar ainda encontramos lugares que são um verdadeiro regalo para a vista e para o palato.
O jantar há muito que estava combinado, mas por uma ou outra razão a coisa foi-se atrasando até que finalmente foi marcado para o dia 12-12-08 o que corresponde à passada sexta-feira.
Como tenho a Mitsubishi com uma arreliadora avaria, o amigo António José Brito fez o favor de me vir buscar ao Algarve.
Soube aquando da sua chegada que o jantar teria lugar em Santana da Serra numa tasca daquelas que “já não existem”.
Agora os dias são curtos e frios e as noites longas e mais frias e ventosas, o que faz com que nestas alturas o que apetece é fogo, conversa e vinho bom.
Lá fomos dar a Santana da Serra sem saber onde seria o encontro prometido. Parámos num café local para matar o tempo que nos sobrava, visto termos chegado antes da hora.
Quando chegou a hora pedimos via telefone as coordenadas para irmos ter ao local que desconhecíamos.
As indicações vieram de modo a que saíssemos de Santana da Serra e rumássemos a Almodôvar via estrada antiga que estaria assinalada daí a 1,5 Km.
Quando saímos do IC1 e entrámos nessa velha estrada, não havia qualquer indicação de que para aquelas bandas houvesse um estabelecimento de comes e bebes, o que se veio a revelar enganador.
Passados cerca de 2 Km vimos uma casa à beira da estrada que tinha algum movimento no exterior. Como era de noite e pela falta de sinalização foi difícil descortinar que estaríamos a chegar ao local previamente combinado.
Quando aí chegados, o frio fazia-se sentir de forma intensa o que também é normal para a época.
Lá fomos entrando e os convivas foram chegando. Quando aí chegados, pensámos que seriam uma coisa para meia dúzia de pessoas, mas depois verificámos que os convidados para este repasto tauromáquico-natalicio eram mais de 30 pessoas.
Fui-me apercebendo da singularidade deste estabelecimento, primeiro pela adiantada surdez do proprietário da casa, o senhor João, depois pelo kitsh da decoração, mas sobretudo porque este local tinha todos os condimentos para ser um local “a la Pulanito” e com entrada directa no top tem das minhas preferências.
Antes do repasto por assim dizer, coisa essa, entregue à magia culinária da senhora Assunção, na mesa fomos encontrando pequenas bombas de calorias impenegradas de colesterol até ao tutano, como é normal em tudo o que é bom.
As belas azeitonas de curtimenta acertada, o presunto da serrania que divide as duas regiões mais a sul, metade gordo, metade magro, a linguiça da banha, franguinho do campo frito à passarinho e o abençoado panito alentejano regados com pinga não sei de onde, mas escorregadia e traiçoeira como manda a lei da boa pinga.
Eu ia acompanhando este ritual de costas voltadas para um fogo feito em chupão prantado na parede a meio da casa e que aquecia as partes do corpo onde o vinho não fazia o seu trabalho com jeito.
Os meus olhos seguiam avidamente o Senhor João, homem de face sulcada pelo tempo e pelo muito trabalho que lhe passou pelo costado, que notoriamente se via não haver nascido para o mister do talher e guardanapo.
Quando dona Assunção apareceu com o primeiro pitéu da noite fez-se um silêncio sepulcral, que segundo rezam os cânones desta arte, é o melhor dos elogios que se pode prestar ao mestre cozinheiro, neste caso a Assunção Maria Palhinha, uma alentejana que para além de simpática, se notava ter dedo e feitio para a poda.
O primeiro prato era javali estufado que a senhora Assunção havia preparado durante a tarde e que estava absolutamente divinal. Para quem não gostava de javali ou tinha ainda espaço para mais, veio um bacalhau no forno que (segundo me disseram) nada ficou a dever ao javali.
Depois vieram os cafés e os medronhos, esse maldito solta línguas, que se bebido em exagero faz parvejar o mais prevenido dos homens.


Foto possivel dos convivas do jantar de fim de época do cavaleiro tauromáquico Tito Semedo
O Tito Semedo rejubilava com a presença dos amigos que me escuso a mencionar, até porque poderia correr o risco de não saber, ou de não mencionar algum deles, o que é sempre desagradável.


Tito Semedo e José Luis Zambujeira (seu apoderado)

Depois vieram os discursos sentidos ao homenageado da noite, coisa sempre fechada com uma enorme salva de palmas e mais uma rodada de medronho. Como os discursos foram mais que muitos, reservo-me ao direito de não ofender a vossa inteligência.
É claro que lá meti conversa com a Senhora Assunção que se revelou ser pessoa de bem com a vida e que trata tachos, fogão e panelas sem cerimónia. Lá pelas tantas confidenciou-me que dentro de poucas horas (ás 7.00 horas) já teria a casa aberta e que muitas das vezes (e apesar dos seus 65 anos) ainda fazia umas directas sempre que há baile no salão de festas que também administra.
Senhora Assunção Palhinha - a anfitriã

É claro que me inteirei de imediato como é que devia proceder se quisesse aí voltar um dia voltar a provar a comida feita com o dedo divinal de Assunção Palhinha.
Bem sei que o post já vai longo e que ultimamente escrevo pouco, mas quando escrevo até parece que redijo testamentos, mas agora estou nesta, e quem me quiser aturar, atura, quem não quiser pode mudar de canal, mas agora também já não vale a pena até porque estou mesmo a chegar ao fim.

Reparei que na hora da balbúrdia os mais familiarizados com a casa iam atrás do balcão, serviam-se e ninguém apontava nada. Perguntei à senhora Assunção como é que ela controlava a coisa: respondeu-me sorrindo, que não controlava, fazia assim uma conta por alto e até agora ninguém se tinha queixado.
Registo este convénio de entendimento e confiança entre as pessoas, provavelmente seja esta uma das razões que faz com que este seja um local especial onde as pessoas ainda são aquilo que são, sem se armarem ao pingarelho, e isso eu averbei em local especial da minha memória.

Etiquetas: alentejo, Santana da Serra, tabernas alentejanas, Tito Semedo

Escrito por pulanito @ dezembro 17, 2008   4 comentários

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Necas - Um Ladrão Improvável - Um conto de Natal lamechas, sem ponta por onde se lhe pegue, mas mesmo assim arrisco publicá-lo.

Naquela manhã de frio glaciar, pôr o nariz fora do amontoado de cobertores que lhe imobilizavam o corpo já era obra só acessível a corajosos.
Na verdade, já tinha feito algumas tentativas por retirar da cama o corpo anestesiado pelo peso dos cobertores e pelo sufocante calor gerado pelo rolo atoucinhado que era o corpo de sua Gertrudes, mas de cada vez que o tentava o choque de temperaturas era tal que Necas logo voltava para o reconfortante calor do leito conjugal.
O padeiro das sete e meia foi o primeiro a acordá-lo com a sua e irritante corneta. Acordou-o a ele e a todos os habitantes daquela rua tão estreita, tão estreita que as vizinhas para trocarem raminhos de salsa, só tinham que estender as mãos pelos postigos.
Necas foi-se por ali ficando, ouvindo crescer os sons, ruídos e vozes que lentamente começavam a invadir o seu território familiar.
Antes da primeira corneta do primeiro padeiro, já um primeiro galo havia anunciado a chegada de um novo primeiro dia do resto da sua vida. A chinfrineira da motorizada do Chico da Horta também já se fizera sentir lá ao fim da rua . Vizinha Aldina já tinha posto a telefonia em altos berros e Necas foi-se acomodando no corpulento canastro de Gertrudes que lhe respondia com cotoveladas e quando a coisa ganhava proporções a roçar o irreversível, resolvia o assunto com uns coices certeiros que quase atiravam Necas borda fora perdendo este desde logo qualquer intenção que lhe povoasse os matinais pensamentos.
Num desses repentismos a que Gertrudes o votava, lembrou-se que o calendário há muito que estava na última folha, o que queria dizer que o natal se aproximava a passos largos e que ainda não tinha pensado na maneira de como se desenvencilhar dos presentes que havia prometido aos três pirralhos lá de casa.

Necas vivia de esquemas, sendo que o principal consistia em receber o fundo de desemprego a que não tinha direito e ao mesmo tempo fazia uns ganchos do que aparecesse: servente de pedreiro, electricista, ajudante de motorista, moço de fretes, ou mesmo, juntar-se ocasionalmente ao gang do Perigoso, que há muito o desafiava para membro efectivo da quadrilha, faziam parte da sua panóplia de soluções desenrascantes.
Vivia no fio da navalha, ou no rol do merceeiro se preferirem, para suavizar um pouco a coisa . Não era um criminoso por assim dizer. No máximo duas a três vezes por ano lá se juntava à trupe local de malfeitores para uns trabalhinhos que visse não representarem um risco demasiado elevado, até porque também como todos nós tinha um buraquinho onde as costas terminam e o império da cagufa começa.
No caso dele era um buracão, até porque sabia e sentia que só recorria a estas artimanhas salteadoras quando o Arménio do talho, seu senhorio, munido de cutelo ensanguentado o ameaçava com ordem de despejo com direito a carga de porrada e tudo, pelos meses de renda atrasados. Nessa altura, não lhe restava alternativa senão calçar as luvas, colocar o passa montanhas e pela calada da noite lá ia com a quadrilha do Perigoso aliviar os incautos que lhe surgissem no caminho, ficando sempre na retaguarda, até porque era a melhor posição para dar de frosques caso a coisa não corresse de feição.
Em boa verdade, odiava esta actividade; não nascera para marginal, adorava os filhos e apesar da Gertrudes se ter fisicamente deformado, continuava a nutrir por ela carinho e respeito por aquela que afinal era a mãe dos seus três filhos e namorada desde os tempos de escola.


Foi pensando neles que Necas se ergueu da cama naquela manhã gelada de vinte e quatro de Dezembro.
Pensou, repensou, coçou o couro cabeludo na esperança de que tal gesto o ajudasse a congeminar uma ideia onde descortinar algum do vil metal.
Ninguém o chamava para qualquer biscate, a conta da mercearia já há muito ultrapassava os avisos de “cortar fiado” do António do minimercado, o corpulento Arménio talhante já lhe rondara a porta nos últimos meses, tantos como os que levava de atraso na maldita renda daquele barraco a que Arménio insistia em chamar casa. Tudo o que fosse possível empenhar, já há muito que estava no “prego” e com as cautelas caducadas, até o Perigoso e "sus muchachos" estavam em período sabático, visto que a bófia não largava o bairro e tinha-os debaixo de olho, desde que o Ortigas “fora dentro” e para salvar o coiro, resolvera chibar-se, revelando golpes, autores e sobretudo entalando o Perigoso até ao tutano.

O Natal era ali ao cair da noite e nem ausentes quanto mais presentes.
Desceu a rua íngreme que desembocava na praça central do bairro, e enquanto se tentava hipnotizar na quadrícula que as pedras desenhavam na calçada, teve uma ideia vertiginosa; uma espécie de epifania.
Entrou numa das lojas de chineses que ultimamente haviam invadido o bairro e com os últimos trocos comprou um fato de pai natal que incluía para além do barrete, calças e casaco, um cinto preto e umas barbas brancas enormes que quando colocadas deixavam Necas completamente irreconhecível.

Entrou na tasca do Cardoso e quando saiu da casa de banho onde se refugiara para a sua transfiguração natalícia ninguém o reconheceu, apenas algumas larachas dos “alcooljunkies” habituais pedindo ao homem vestido de vermelho que lhes desse de presente uma garrafinha de tintol mesmo que fosse rasca.

Num Ho! Ho! Ho! mal ensaiado despediu-se acenando e certificando-se de que ninguém o havia reconhecido.
Na sua mente agora só bailava um pensamento: dirigir-se ao armazém dos brinquedos que pressentia estar em grande azáfama como seria de esperar numa noite como a que se avizinhava e sem qualquer ponta de hesitação e um pouco de sorte cumprir com a promessa que havia feito aos seus três rebentos.

Decidido a não falhar o golpe foi rememorizando os pedidos que lhe haviam sido feitos: para o Carlitos uma PSP, Vanessa (a do meio) havia-lhe sugerido uma casa da Barbie ou em alternativa uma boneca que dava num anuncio matinal da TV que falava e a tratava por mamã sempre que lhe pegava, o Becas o mais pequeno havia-lhe deixado ao seu critério o mágico presente num encolher de ombros que deixou Necas de olhos baços.

Percorrendo apressado as ruas da cidade que conhecia de cor e salteado, era aqui e ali interpelado por jovens casais que lhe pediam para sentar por momentos os filhos no colo e naquele instante de magia, ingenuidade, e quem sabe; verdade infantil, imortalizar na câmara do telemóvel aquele momento “para mais tarde recordar”.

Quando dobrou a esquina e viu as luzes do armazém ainda se reteve por instantes, mas depois pensou na figura que faria ao chegar a casa de mãos a abanar.
Num acesso de coragem único, irrompeu pela loja dentro e com o dedo no bolso fingindo ter o cano duma arma gritou: ISTO É UM ASSALTO, TODOS NO CHÃO…As três funcionárias presentes cumpriram a ordem sem pestanejar e Necas percorreu com os olhos as prateleiras na ânsia de encontrar os requisitos de que vinha incumbido.

Num ápice reconheceu dois dos presentes da sua lista mental, agarrou ainda numa caixa de peças para montar da Lego e decidiu que aquele seria o presente para o Becas.
Ao sair do armazém ouviu atrás de si o grito: AGARRA QUE É LADRÃO…
Necas, sentiu um impulso imediato que o impelia correr a uma velocidade inimaginável. Cerrou os dentes e depois de bater com os calcanhares no rabo por alguns minutos que lhe pareceram uma eternidade, desembocou na avenida principal da sua cidade que por magia estava pejada de pais natais iguaizinhos a si numa imensa parada onde se internou sem deixar rasto aos frustrados perseguidores. Era apenas e tão só, mais uma dessas manias portuguesas que consiste em bater recordes do Guiness. Desta vez era o maior número de pais natal em dia de consoada!
Ainda viu os gargalos dos seguranças que haviam seguido no seu encalço na expectativa de o apanharem, mas Necas tinha-se diluído naquela amálgama de pais natais vestidos em loja de chinês.
Nem mesmo das vezes que tinha alinhado nos golpes do Perigoso tinha sido sujeito a tamanha aflição, só mesmo aquela nervoseira permanente de quem não nasceu para salteador.

Necas estava exultante e apesar da maroteira que havia lavado a cabo estava invadido do espírito natalício e não se cansava de abraçar os outros pais e mães natal e desejar-lhe, bem como à família, um santo e feliz natal como fazia questão de frisar.

Já tinha os brinquedos para os putos, faltava-lhe as comezainas para celebrar o nascimento do menino. Ao passar numa loja de mercearias finas, reparou num cesto de verga envolto numa película amarela com um laço resplandescente contendo tudo o que era necessário para uma consoada farta. Bacalhau, batatas, couves, vinhos de mesa e do Porto, whisky, licores variados, bolachas, chocolates, frutas frescas e secas eram parte do rico cardápio daquele cabaz.
Aproveitando a confusão e o disfarce que tinha, ao passar junto do desejado cesto enfiou o braço pela asa do cesto, e ala que se faz tarde.
Remeteu-se para o centro da confusão de modo a não ser descoberto caso o merceeiro desse por falta da cabaz e lá foi rua acima exultando de alegria, beijando mesmo alguns dos transeuntes que haviam parado para ver passar aquele mar de pais e mães natais.
Estava verdadeiramente feliz. Tinha consigo os presentes da miudagem, tinha conseguido ainda fanar um belo cabaz de natal que estava mesmo ali á mão de semear e assim poder oferecer aos seus uma noite bem diferente daquela que lhes estava destinada.

Saiu da parada carregadinho que nem um verdadeiro Pai Natal e voltou a parar na tasca do Cardoso para um momento de celebração mais que merecido.
Trocou com o taberneiro uma lata de pêssego em calda por um jarrinho de vinho, bebeu e deu de beber a três almas que ali estavam que sem terem eira nem beira também eram filhos de um Deus menor, mas mesmo assim um Deus com direito a pedestal e a letra grande no inicio do seu nome..

Quando a noite se fez verdadeiramente noite, regressou ao bairro e pé ante pé abeirou-se de sua casa. Espreitou pela janela da cozinha e viu Gertrudes a brincar com os seus rebentos.
Ouviu o mais pequeno perguntar por si, enquanto a mãe se desculpava com o muito trabalho em noite tão especial, mas que não devia tardar.
Conferiu a roupa que lhe proporcionava uma nova personalidade, ajeitou a barba para não ser reconhecido e dissimulou a voz para que o seu disfarce surtisse efeito.

Bateu com força assustadora na porta. Lá de dentro mãe Gertrudes (também ela assustada) perguntou quem era. Necas respondeu com voz cavernosa de velho da Lapónia, ao mesmo tempo que barafustava pelo estado em que encontrara a chaminé que não o deixava completar o trabalho de forma habitual, tendo de entrar pela porta o que era uma desconsideração para quem há tantos anos descia pelas chaminés de todas as casas de todas cidades, vilas, aldeias deste mundo.
Gertrudes abriu lentamente a porta, mas não reconheceu Necas naquela vestimenta. Entrou em casa sem que os miúdos lhe largassem a labita especialmente o pequeno Becas que numa gritaria rejubilante pediam ao pai natal os presentes solicitados.

Depois de posta ordem na casa começou a distribuição dos brinquedos.

- Quem é o Carlitos? - vociferou o velho das barbas. - Sou eu, respondeu Carlos com o dedito espetado e um sorriso que ia de orelha a orelha.
- Toma, onde está a Vanessa? Voltou a perguntar o figurão vestido de vermelho.
- Aqui, respondeu a pequenota.
-Toma o teu presente. Também devia de estar aqui outro menino, o João Alberto, mais conhecido por Becas. Onde é que ele está?
Vindo de debaixo das saias da mãe surge a mascote da família que se agarra à perna do pai natal, requerendo uma atenção que Necas fingia não lhe dar.
-Toma este presente especial que o teu pai recomendou que te oferecesse.
Por fim perguntou pelo dono da casa. Que não estava - respondeu em uníssono a criançada – mas que não devia de tardar.
-Trago aqui este cabaz para ele e para o resto da família, como ele não está entrego-o aqui à vossa mãe…e agora vou-me andando que ainda há muito trabalho por fazer.

As crianças despediram-se daquele pai natal que tinha um não sei quê de familiar mas que eles não conseguiam vislumbrar.
Caminhou então em direcção à escuridão e quando sentiu que não estava a ser observado desfez-se do disfarce de velho barbudo e recordou as emoções daquele dia cheio de peripécias. Por uma vez tinha cumprido para com os seus, não os havia desiludido e por isso sentia-se bem, sentia-se invadido do espírito da quadra, o que também premeditava uma viragem positiva na sua maneira de abordar a vida.

Ao dobrar a esquina que o havia de novo conduzir à tasca do Cardoso, sentiu uma mão pesada e firme no seu ombro. Na sua frente estavam dois homens que empunhando os respectivos crachás se identificavam como agentes da Policia Judiciária, que de imediato lhe deram voz de prisão pelo assalto ao armazém de brinquedos.

Necas nem queria acreditar no que lhe estava a acontecer. Depois do susto da sua detenção e de ter negado os factos foi confrontado com a seguinte afirmação:
- O telemóvel 965 743 188 é não é seu? não o deixou em cima do balcão do armazém?
Quando fomos chamados ao local, telefonou uma tal de Gertrudes que disse ser sua mulher e que nos forneceu o seu nome e morada. A partir daí foi só esperar que aparecesse…agora vais bater com o canastro na prisão à espera do destino que o juiz ditar para o teu caso.

- Deixe lá também estamos de serviço e precisávamos de companhia para passar o natal.
- Agora é melhor que nos apressemos que o bacalhau com couves não pode esperar..
-Anda daí e pouco barulho….

- Ó Monteiro liga lá para o serviço e diz ao Pereira para pôr mais uma posta no tacho aqui para o nosso pai natal da treta.....pediu o policia que lhe algemava as mãos, mas que havia de algum modo simpatizado com a causa deste desastrado ladrão ocasional.
Necas pediu ao simpático agente policial que o deixasse utilizar o telemóvel uma última vez.
Ligou para casa. Atendeu a Vanessa, a quem ordenou que fossem comendo, porque tinha arranjado um biscate na distribuição de brinquedos e a coisa estava atrasada porque o pai natal se tinha demorado muito numa determinada casa lá do bairro e por isso toda a entrega estava atrasada.

Escrito por pulanito @ dezembro 10, 2008   11 comentários

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Portugália




Estreia hoje (04/12) o filme Amália. Uma biografia cinematográfica da grande diva do fado que não irei perder por nada deste mundo.
Com estreia marcada para 66 salas de cinema portuguesas e com vendas asseguradas para 22 países, denota a universalidade desta portuguesa que após nove anos sobre a sua morte continua a apaixonar, não só os seus conterrâneos, como os públicos de outros países onde foi venerada e acarinhada.
Amália a seguir a Piaf, era a artista mais aplaudida e requisitada por terras gaulesas e isto pouco tinha a ver com a comunidade portuguesa residente. Os franceses gostavam genuinamente de Amália Rodrigues e gostavam tanto que o governo francês a condecorou publicamente, enquanto que o governo português por arrasto também o fez mas em sombria cerimónia em Bruxelas na Bélgica já não me lembro a que propósito. Lembro-me sim, de Amália não ter gostado nada de tal hipócrita cerimónia.
Filipe La Féria fez-lhe uma homenagem em forma de espectáculo e apesar do espectáculo estar inactivo depois de ter actuado para seis milhões de espectadores, continuam a chover pedidos (nomeadamente da Broadway) para que La Féria reponha o seu maior êxito de bilheteira.
Amália vende como nunca. Os seus discos continuam a ser reeditados, a sua casa museu é visitada por admiradores, turistas nacionais e estrangeiros, o espectáculo Amália continua a ser pedido, o filme vai rebentar com todos os recordes de assistência de qualquer filme português, no campo pequeno terá lugar a reposição do último espectáculo da diva no Olympia de Paris, essa mítica sala onde Amália cantou e encantou até ás lágrimas gerações de franceses e portugueses radicados.
A curiosidade deste espectáculo de reposição prende-se com o facto da Estrela ( secretária, técnica de som, amiga, confidente e sei lá que mais) ainda possuir o alinhamento original desse espectáculo que será revivido nas vozes de hoje de quem Amália foi mais do que madrinha, matriz ou inspiração…foi razão!
Razão para que muitos destes artistas lhe prestarem essa homenagem em forma espectáculo com o alinhamento por ela escolhido nessa derradeira apresentação em 1988. Assim passarão pelo palco do Campo Pequeno nos dias 11 e 12 de Dezembro Mariza, Ana Moura, Carminho, Camané, Ricardo Ribeiro e a sua irmã Celeste Rodrigues que apesar dos seus oitenta anos continua exorcizar em forma de timbre amaliano o fantasma dessa a quem me habituei a chamar Portugália.
De referir que os músicos que acompanham, estes artistas, serão os mesmos que estiveram com Amália nesse espectáculo, o que faz com que a reposição seja o mais fidedigna possível.
Pessoalmente descobri Amália, já eu teria os meus 27 anos. Um dia num país estrangeiro no rádio do táxi que me transportava de repente surge Amália a cantar a Trova do Vento que Passa de Manuel Alegre. Fui invadido por um turbilhão de emoções daqueles que temos necessidade de nos beliscarmos para saber que o que nos está a acontecer é mesmo verdade.
Dou comigo a chorar compulsivamente sem conseguir suster o mar de lágrimas que se me derramava cara abaixo.
O motorista foi-me mirando pelo retrovisor e no fim da viagem perguntou-me se estava bem, se precisava de alguma coisa. Respondi-lhe: Nunca estive tão bem…descobri quem sou e de onde venho, só não sei para onde vou.
Era o milagre do Fado a acontecer. Esse fatalismo português que nos persegue (a uns mais que outros) e que de repente houvera descoberto a muitos milhares de quilómetros de distância e que não voltei a abandonar, especialmente a minha Portugália.
Amália-ei para sempre!

Escrito por pulanito @ dezembro 04, 2008   3 comentários

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