segunda-feira, setembro 29, 2008

202 Km a pedalar...É mesmo muita fruta...

Pois é! Fazer 200 Km a pedalar era uma coisa que me cirandava na cabeça, mas estava lá escondida na secção de projectos a levar a cabo no dia de São Nunca à tarde.
Como já expliquei em posts anteriores a força e a determinação dos meus companheiros Carneiro e Joaquim Miguel inicialmente, e depois a restante corja de mariolas, fez com que o projecto fosse levado a cabo embora ligeiramente remendado como mais à frente explicarei.
A partida estava combinada para Sábado dia 27 de Setembro de 2008 (deixo aqui a data, para que se nunca me esqueça), junto à Estação do Oriente às 7.45 horas..e não é que a malta lá estava!!
O Carneiro apareceu com dois amigos do grupo Kotas & Kedas que nos acompanharam até Vila Franca de Xira – ou como diria o meu amigo Lázaro -Ville Franche Sur Tage – onde iam participar numa prova de solidariedade para com um ciclista que ficou sem uma vista. Gostei do gesto, por isso aqui fica assinalado.



À partida em Lisboa frente à Estação do Oriente - António Piteira, Joaquim Piteira, Pulanito, Ricardo, Carneiro, 2 Kotas e kedas e Merks.


De Divor (não escrevo Freguesia de Nossa Senhora da Graça do Divor, senão fica muito comprido) lá vieram: Joaquim Piteira o GN’Roses, Ricardo Compõete Casaca, Arlindo Pereira, o Ken, Carrajeta o Carrajola (nosso motorista) António Piteira e o Merks, estes ainda sem haverem passado pela pia baptismal…parece que a mim, em surdina, me chamam “o articulado”. Pois não desgosto, não senhor..
Abalámos (gosto sempre de dizer abalar em vez de partir…é mais épico, é mais..vou-me embora vou partir mas tenho esperança, de correr o mundo inteiro quero ir..) pelas 8.00 da manhã, pedalando em direcção a norte, já que tínhamos duas metas a atingir, chegar a Entradas e efectuar 200 Km a pedalar, para tal tínhamos que galgar uns quantos quilómetros a mais que a distância natural que liga a Capital do país à minha particular Capital..de seu nome Entradas, ou Santiago de Entradas, como lhe queiram chamar.
Os fazedores de contas do pelotão, depois de consultarem o percurso, aventavam que a coisa não se fazia por aquele traçado por menos de 240/250 Km e isso era tremendamente puxado (e então para mim, não sei se vos diga se vos conte!) .
O dia estava prazenteiro e lá fomos pedalando, galgando quilómetro e atravessando terras umas at´ras das outras, especialmente na ligação Lisboa- Vila Franca.


Aqui chegados despedimo-nos dos amigos que nos acompanharam e lá experimentámos o primeiro pavé do dia pelas ruas da terra do meu amigo José António Lázaro, mais conhecido pelo 53 – que é o número de determinada porta na Av. Do Brasil em Lisboa…só para entendidos.
À passagem da ponte de Vila Franca, recordo-me que esta era uma ponte com portagem (7$50 na última vez que lá passei) e foi Maria de Lurdes Pintassilgo, enquanto Primeira Ministra (não sei se se diz assim mas cá vai) que acabou com este pagamento portageiro. Isto só para introduzir aqui alguns factos históricos que me vão ocorrendo, e porque fica bem ilustrar este relato com alguns dados que lhe confiram alguma reputação..tenho dito!




Merks e Ricardo atravessando a Ponte de Vila Franca de Xira


Lá pedalámos a recta do Porto Alto e depois Samora Correia onde fizemos uma primeira e rápida paragem para abastecimento. Prosseguimos em alegre cavaqueira, mandando bocas a uns e a outros e especialmente aos senhores de meteorologia que se haviam enganado nas previsões temporais (pensávamos nós!) até que a meio caminho encontrámos o Maurício cangalheiro e o Joaquim Miguel que haviam combinado encontrar-se connosco por estas bandas. De seguidinha até Vendas Novas a coisa não correu nada mal. Uma média baixa para não rebentarmos a meio caminho e a promessa de comermos em 15 minutos na bifanolândia, mais conhecida por Vendas Novas.


Vendas Novas - Joaquim Piteira fazendo striptease em plena via pública despindo os collants da mulher...olha só o ar feliz do nosso GN'Roses.


Na verdade nunca tinha reparado que Vendas Novas tinha tantas, tascas, cafés, restaurantes, mercearias, retrosarias e lojas de ferragens que vendessem bifanas, julgo mesmo que uma cerzideira e apanhadora de malhas com loja montada numa sub-cave com janelete para a rua ao nível dos pés, também ela vendia bifanas, já que o seu mister natural há muito que caiu em desgraça.
Exagerei aqui um bocadinho, não foi? É de propósito, para dar a ideia que Vendas Novas afinal é um enorme bifanómedro.
Depois desta nota de humor (será que é?) seguimos viagem. Foi então que os deuses se fartaram de nós e fizeram descarregar toda a sua ira em forma de trovoada por cima destes pobres amantes da natureza.


Carneiro vestindo o impermeável- mal ele sabia que não lhe haveria de valer de nada...ela já caía dos céus em forma de picaretas.


O Carneiro, homem habituado a distâncias que não lembram ao diabo, confidenciava-me, nunca haver apanhado tamanha molha.
Na verdade estávamos tão encharcados que agora (os deuses) até podiam começar um novo dilúvio que molharmo-nos mais seria impossível.
Depois da tempestade lá veio a bonança, e com ela mais uma sova de calor que é para não respingarmos demasiado.
Entre ensopadelas, pedaladas e gargalhadas lá chegámos a Montemor-o-Novo onde alguns ciclistas sugeriram alteração do percurso, mas o mal já estava feito e vai daí mais cinco, menos dez a nossa sina seria sofrer até final.

No caminho haviam cartazes de incitamento à façanha ( que eu não vi- só me contaram em Entradas) Isto começa a ser um caso sério de popularidade... Foto sacada do xiclista

Quando chegámos a Alcáçovas (se não estou enganado) já o Arlindo e o Merks haviam abandonado a contenda e recolhido ao conforto do carro funerário desse monstro chamado Maurício que apesar de engripado não se negou a acompanhar-nos mais uma vez, sendo que desta a prestação do Cangalheiro se resumiu a conduzir o veículo e nada de piropos às miúdas que a gripalhada era coisa que o trazia na mó de baixo.




Os 3 cavaleiros do asfalto -neste caso (eu) tentando remendar os estragos que as cãibras começavam a fazer.


Antes de Alcáçovas começo a sentir as primeiras cãibras, e a partir daí tive que encontrar uma posição para pedalar, já que levantar o rabiosque do selim ( o que ás vezes é bom, nem que seja para arejar) era tarefa que me estava completamente proibida, sob forma de a o músculo costureiro se me prender ter de por ali me ficar.
Aquela rampa para as Alcáçovas foi um osso duro de roer. Chegados ao cimo, junto ao largo da igreja tive de dar uso ao spray milagroso de modo a aliviar os músculos.
Uma paragem de 5 minutos deu para reabilitar a coisa e poder continuar. Os nosso companheiros mais afoitos estariam á nossa espera um pouco mais á frente, mas percorremos a terra dos chocalheiros e deles nem novas nem achadas. Nesta busca, dou comigo a passar em frente à taberna Maravilha, a tasca da dona Guilhermina, onde passei em Agosto de 2007. Fui de repente invadido por aquele cheiro a lixívia daquela manhã de Verão onde passei um excelente pedaço na companhia desta simpática estalajadeira e de curioso cliente Alcaçovenses.
Fizemo-nos à estrada via Torrão já na companhia dos nossos companheiros entretanto descobertos e também da água que voltou a ensopar-nos.
Olho o relógio são 5.30 da tarde, faltam 90 Km para Entradas, nunca chegaremos lá de dia e já temos no papo 150 Quilómetros percorridos.
Tomámos a decisão de pedalar o melhor que pudermos e soubermos e logo se avalia lá mais á frente a coisa.
Chegados ao Torrão, viramos agulha para Ferreira do Alentejo, onde uma surpresa (por mim conhecida de outras viagens) nos aguardava: o péssimo estado da estrada que do tapete de alcatrão inicial não tinha nada à vista, só tinha, remendos, altos e buracos e para compor o ramalhete uns quantos quilómetros (talvez 4) de pavé do mais irregular possível, o que fez com que os nossos bracinhos e perninhas tenham passado por uma sessão de fisioterapia das antigas, e o que fez com que a média baixasse dramaticamente.
Chegados a Ferreira do Alentejo, conferencio com o Joaquim Miguel e decidimo-nos pelo plano B, ou seja: fazer 200 Km de seguida e metermo-nos no carro depois disso. Eu por uma questão de orgulho queria chegar a Aljustrel ou ao Carregueiro e fazer esses últimos quilómetros a pedalar, o que o Joaquim Miguel apoiou e prometeu acompanhar, já que Carneiro, J. Piteira e Ricardo estavam num outro local à nossa espera.
Assim fizemos. Olhei para o conta-quilómetros e faltavam-me 9 quilómetros para completar os 200 o que dava a conta a pedalar do Carregueiro até Entradas.


202 Km é obra..digam lá o que disserem..

No caminho o Joaquim Miguel tem uma hipotensão e começa a sentir-se mal e avisa-me que terei de fazer esses quilómetros sozinho.
No problem! Quando voltámos para Entradas após o Carregueiro, parámos para que eu começasse a pedalar. Na ânsia de sacar a bicicleta da bagageira, subo com os sapatos de ciclista para o carro, a perna desliza-me e sinto o músculo que vinha há mais de 40 Km em esforço a rasgar-se….fiquei por ali, morri na praia, a 9 km do meu objectivo.
De qualquer modo chegámos todos bem, e os meus companheiros terminaram esta proeza ciclista já de noite com 202Km percorridos…


Celebrando o acontecimento na cavalariça antes da açordinha de fraca...pró ano há mais...ou será que é ainda este ano?

Celebrámos na cavalariça, ao sabor de açorda de fraca, lombinhos de porco preto, tintol cá da terra, a vitória do Benfica por 2-0 sobre o Sporting, e a promessa de voltarmos a fazer novas maluqueiras, se possível um bocadito melhor preparados…especialmente eu!!

Escrito de rajada..sem qualquer tipo de correcção, até porque já recebi não sei quantas mensagens a exigir crónica…então cá vai obra..

Escrito por pulanito @ setembro 29, 2008   7 comentários

Catarina Mira é a Nova Apresentadora do Disney Kids

Catarina Mira


Este é um pequeno texto que escrevi há cerca de duas semanas. Mas, por razões estratégicas da produtora e da própria SIC, a coisa só seria oficializada depois da SIC fazer a sua apresentação. Como sou bem mandado, acatei a decisão só a podendo publicar agora.
Portanto aqui fica…e já agora, pais que tenham filhotes pequenitos bora lá mostrar-lhes quem é a filha do Pulanito. Não esqueçam, aos Sábados e Domingos a partir das 8.30 até às 10.00 Disney Kids na SIC.

Pronto, o grande segredo foi revelado pelo jornal 24 horas. Assim sendo, vou aqui também destacar a minha filha Catarina Mira que vai ser a nova co-apresentadora do programa Disney Kids do canal SIC, que vai para o ar aos fins-de-semana.

A Catarina desde muito pequena que vem demonstrando rara sensibilidade para as artes, nomeadamente para a escrita, dança, representação, ou mesmo, fotografia, e para tal se tem vindo a preparar desde a mais tenra idade.
Lá em casa e na família, todos sabíamos que mais tarde ou mais cedo, ela havia de enveredar por uma área que tivesse a ver com a exposição pública e para tal, também a fomos preparando, embora nós pais, nunca estejamos preparados para que um filho nosso de repente passe a ser figura pública.

A Catarina já havia feito alguns trabalhos para televisão, nomeadamente como correspondente no Algarve do extinto programa PICA do canal 2.
Posteriormente (em 2007) participou no filme “ How to Draw a Perfect Circle” de Mário Martins, o aclamado e premiado realizador de “Alice”, onde fez de Vera, um papel com alguma relevância. Participou ainda em vários video clips de artistas nacionais, nomeadamente com o seu irmão Sam The Kid, e agora, após inúmeros castings foi seleccionada para este trabalho, que será uma possível rampa de lançamento para outros voos, que ela como miúda atinada, mas obstinada como o pai, certamente terá em mente.

Em tempos deixei aqui um post dando indicações nesse sentido, deixo agora aqui o link para que o possam reler Catarina a Shining Star.

A Catarina vai fazer parceria com um miúdo chamado João Paulo Sousa, rapaz com quem simpatizei de imediato e que posso afirmar (embora ninguém me preste atenção), que este rapaz transporta consigo a aura dos eleitos, que é uma coisa que eu e uns quantos, temos a rara sensibilidade de prever.

Boa sorte para os dois e para toda a restante equipa, que sem darem a cara, têm no suor, na paixão e na entrega o prémio da sua abnegação…e eu bem vi que eles lhe dão bem e com força!!

Etiquetas: Catarina Mira, Disney Kid, João Paulo Lopes, sam the kid

Escrito por pulanito @ setembro 29, 2008   14 comentários

quinta-feira, setembro 25, 2008

Lá vamos pedalando e rindo....

Bem. Vou tirar um pedaçito de tempo ao pouco que me resta das minhas azáfamas profissionais, e vou aqui botar faladura antes da grande aventura que nos conduzirá a terras do sul no próximo Sábado dia 27 09, mais propriamente a Entradas, essa pequena localidade onde nasci há 52 Primaveras, sim porque eu nasci em Abril.
Estou algo preocupado com a minha possível performance. Nunca fiz 200Km de seguida, sei que não vai ser pêra doce, mas irei até onde as forças me levarem e se conseguir chegar a Entradas, então terei atingido uma meta que há muito me propus, mas se não fosse o empurrão do Carneiro e do Joaquim Miguel ainda andaria aqui a inventar datas, daquelas de espantar medos, até que em dia de santa obstinação a marcasse e contra ventos e marés lá me decidisse a fazer o caminho do condenado…se é que me entendem...
Ainda não sei quantos somos, mas creio que será a tropa do costume lá de Divor, mais estes dois filhos adoptivos, mais o Carrajola e o Cangalheiro, com o seu estranho veículo.
Pronto. Estamos a menos de 48 horas desse grande acontecimento que terá o seu epílogo em Entradas num dos restaurantes locais onde celebraremos a jornada vencida.
É claro que a viagem será merecedora de crónica, fotos e o relato de episódios que aqui mereçam ser relatados.
Pronto…já só falta passar o dia de amanhã e depois é só arregaçar estrada fora, até que as nalgas e os músculos fiquem feitos em papa…mas quando isso acontecer, estaremos nós a desmontar-nos das nossas máquinas pedalantes em plena Avenida de Nossa Senhora da Esperança em Entradas e entre sorrisos e abraços daremos por concluída a parte ciclistica (a gastronómica virá depois) desta jornada que agora antecipo.

Escrito por pulanito @ setembro 25, 2008   7 comentários

sexta-feira, setembro 19, 2008

Baja Lisboa - Entradas 200 Km a Pedalar


Pronto. A coisa andava a ser preparada há tempos. Fui falando à rapaziada que um dos meus desejos era fazer o percurso Lisboa – Entradas, assim em jeito de mais um risco na coronha pistola, à laia dos assassinos a soldo do velho oeste.
Nos nossos percursos pedalantes a coisa lá vinha à baila de quando em vez. O Carneiro, que é homem de palavra e de levar as coisas p’ra frente voltou a levantar a lebre no seu blogue oxiclista ( que para quem gosta de bicicletas e afins aconselho a visitar), e pediu uma data. O Joaquim Miguel que não é de modas, aventou a data de 27 de Setembro,
Eu não treino há 3 semanas, vim para o Alentejo onde tenho a minha “pedalêra” e treinar estes dois dias, mas acontece que (no momento em que escrevo) chove copiosamente e as previsões para o fim de semana não são nada animadoras, vai daí estou na iminência de ir pedalar 200 Km sem ter treinado uma única vez, o que é outro desafio.
Deixo-vos aqui o percurso que o amigo Carneiro publicou no seu blogue e que penso escrupulosamente cumprir. Portanto quem nos quiser acompanhar ou apanhar na estrada o itinerário aí está.
Claro que farei fotos e crónica desta aventura de um dia só.
Em relação a poiso e morfes, não haverá grande problema até porque em Entradas se come lindamente e para dormir também não será problema.


Diz o Carneiro:

O programa (quase) definitivo é o seguinte:
1. Partida de Lisboa a 27.09.2008, pelas 7:45 Horas no Parque Expo, junto à Torre Vasco da Gama.
2. O percurso vai ser por Xira, Porto Alto - paragem -, Cruzamento Pegões, Vendas Novas - paragem -, Montemor, Alcáçovas - paragem- , Odivelas, Ferreira - paragem-, Aljustrel e Entradas.
3. Dormida em hotel em Castro Verde. Jantar em tasca catita a indicar pelo Pulanito.
4. As paragens serão para abastecimento sólido (sandocas e bifanas) e não devem ser superiores a 15 minutos.
5. O andamento vai ser moderado, com velocidade média nunca superior a 25 e desejável pelos 23 Km/h.
6. Atenção à alimentação e à hidratação. Quem não for petiscando em andamento e se guardar apenas para as bifanas nas paragens, não chega lá. E àgua. Bem sei que gostam pouco de beber àgua, mas é bom que se perceba que quem não beber um bidon por hora, não chega lá abaixo. Eu vou tentar beber 700 ml por hora.
7. Porque para todos nós uma etapa deste tamanho vai atingir os nossos limites, convém que seja utilizado o frequentímetro. Convém perceber que em déficit de líquidos, o sangue fica espesso e o coração funciona a muitas batidas acima do normal. E quando se chega a situações dessas, os lactatos acumulam-se a uma velocidade tal que acaba ali o passeio por causa das caimbras. Bem se pode baixar o ritmo que já não vale a pena.
8. Domingo, 28.09.2008, regresso pelo mesmo caminho, com paragens nos mesmos locais. Partida às 8:00 horas do Hotel de Castro Verde.
9.Está bem, podem vir de carro para cima...foi só para assustar.

Etiquetas: alentejo, ciclismo, cicloturismo, entradas, xiclista

Escrito por pulanito @ setembro 19, 2008   8 comentários

terça-feira, setembro 16, 2008

Amanheceres

Gosto de amanheceres. E quanto mais temporões forem, tanto melhor! Gosto de sentir a manhã desgrenhada a espreguiçar-se, acariciando-se no despontar dos primeiros raios do astro rei.
A toada matinal da minha aldeia, é uma pressentida sinfonia que descortino nos sons que também despertam para mais um dia das nossas vidas.
O inevitável canto do galo anuncia a alvorada, como se profetizasse mais um ciclo que há-de recomeçar quando este de novo acordar para a vida na manhã seguinte.

Maria Antónia - varrendo a alma às pedras da calçada


Maria Antónia iluminada pelo foco dos primeiros raios solares, é primeira figura na ribalta da avenida. Como sempre, varre as pedras da calçada até lhes polir a alma. Primo Revés no silêncio da manhã, conduz o seu minúsculo e tilitante rebanho para mais um dia de pastorícia. Não serão mais de uma dúzia de ovelhas e um ou outro borreguito, mas António Revés fá-lo com a mesma destreza e profissionalismo como se fossem centenas ou até milhares. Acena-me no seu passo apressado levantando o cajado a sugerir um bom dia.


Primo Revés - Posando para a posteridade

A camioneta que transporta os mineiros entradenses às entranhas da terra há muito que passou. Na mina, os turnos laborais não se compadecem com auroras boreais nem rituais matinais no recomeço de cada dia; é preciso arrancar das suas visceras o pão nosso de cada dia em forma de minério. A carrinha do Carapeto já se vê descer a avenida. Por estas horas da manhã e nesta primeira passagem ainda o faz sem se fazer anunciar através da sua irritante corneta. Afinal, os fregueses são sempre os mesmos, logo os poisos são também os de sempre.
Do interior da carrinha solta-se um cheiro inebriante por todos conhecido desde que são gente. É o inevitável perfume a pão fresco que inunda a avenida à medida que Carapeto faz a sua lenta aproximação, trazendo à porta de cada um essa benesse que repete a cada dia (excepto ao Domingo) aquele que sabemos ser um dos melhores pães do mundo.
Zé das Pestanas faz a sua primeira vistoria ao jardim a seu cargo. Como tudo se encontra em ordem, liga os expressores de rega que hão-de fazer com que os aromas florais da manhã surjam mais nítidos e a água que agora lhes fornece seja uma dádiva para o dia de brasa que aí se apresenta apesar de já irmos bem entradotes no Setembro.
Acordei cedo, para cedo partir em direcção à capital onde por força de afazeres vou ter de passar o fim-de-semana, coisa que já não faço há muito, mas mesmo muito tempo.


Sábado, vá de trabalhar que nem um cão a preparar as instalações onde minha filhota Catarina vai passar a viver; ou seremos nós que através destas tarefas nos recusamos a aceitar uma separação que sabemos nos há-de influenciar a todos em tempos vindouros?
Como desde há muitos anos, no Domingo voltei a acordar antes do galo da minha terra. Rebolei-me, tentei readormecer, mas a cama já há muito que me empurrava dela para fora. Vai daí, eu e a Natália decidimos ser espectadores dum amanhecer alfacinha, coisa que há muitos anos não presenciava.
Sempre disse que tinha com a cidade branca, uma relação de amor - ódio. Detesto a balbúrdia citadina, o ruído permanente dos carros, carrinhos e carrões, pessoas, sirenes, industrias, gente apressada, mal educada, taciturna e sei lá quantas mais situações parasitas que invadem a urbe de segunda a sexta, mas ao fim-de-semana, a cidade veste-se de Maria Lisboa e convida-nos a penetrar nos recantos domingueiros dos seus bairros tradicionais.
Descemos até à baixa, estaciono o veículo e decidimos partir à procura da pureza, da personalidade desta outra urbe que pulsa no pregão de cada beco, na roupa que se estende em domingueira tarefa.
As ruas estão desertas de carros. Podemos olhar com olhos de ver as gelosias que se escancaram de uma só vez, deixando a luz matinal inundar de claridade as casas dos lisboetas, destacando-se deste cenário o sorriso franco duma jovem lisboeta que de braços abertos à vida saúda o dia que chega, mas que de imediato se envergonha e se recolhe, ao reparar que é motivo da nossa súbita curiosidade.

Subimos (numa estreia para ambos) o elevador do Lavra. À medida que o ascensor galga o carril centenário, vamos descortinando uma paisagem lisboeta que vai ganhando um inusitado ângulo cinematográfico.
O rio grande vai-nos surgindo lentamente no nosso campo visual, motivo para que os nossos companheiros turistas de ocasião registem o momento nas suas modernas máquinas fotográficas.

Elevador do Lavre - à descoberta duma Lisboa que há muito não visitava

Um casal de imperceptível nacionalidade (talvez noruegueses) pede-me que os fotografe em frente ao surpreendente veiculo, tanto na forma como na cor amarela, e que nos há-de conduzir a todos ao topo duma das sete colinas desta domingueira Lisboa.
A rápida subida, permite-nos alcançar o cume num ápice. Caminhamos de cabeça voltada aos céus admirando os jogos geométricos que o cenário Lisbonense sugere.
À passagem pelo Campo dos Mártires da Pátria, admiramo-nos pelas inúmeras placas marmóreas que jazem aos pés da estátua do médico Sousa Martins, como forma de agradecimentos pelas possiveis curas a este físico atribuídas. Coisas do esotérico que respeito, mas para as quais sou completamente céptico.


Lisbon revisited


Descemos depois a íngreme Calçada de Santana que desemboca no largo de São Domingos, onde a cidade reencontra a alegre azáfama em dia do Senhor.
Subimos depois ao Chiado, onde o enorme Fernando Pessoa, não deixa respirar esse outro grande poeta que dá nome à praça, subalternando-o no seu próprio território.
Percorremos ainda o Bairro mais Alto, onde as paredes grafitadas dão a esta zona da cidade um aspecto caótico que tanto pode parecer desprezível, como há quem encontre nesta amálgama hieroglífica alguma beleza plástica. Por mim prefiro as paredes nuas, onde o amarelo de Lisboa possa sobressair em cada fachada ou no rebordo subtil de uma qualquer água furtada.
Descemos depois as escadinhas do Duque onde num enquadramento excepcional podemos ter uma excelente perspectiva do Castelo de S. Jorge.

Escadinhas do Duque


A manhã Lisboeta há muito que havia despertado para a vida dominical, miles de turistas partem agora à descoberta da cidade luminosa e sente-se nos seus sorrisos que gostam do que os olhos vêm. Nós também fizemos desta manhã uma manhã turística onde tivemos o privilégio de assistir ao lento e preguiçoso despertar da cidade dos meus pressentimentos.

Etiquetas: alfama, Bairro Alto, Calçada do duque, chiado, elevador do lavra, Entradas - castro verde, Lisboa

Escrito por pulanito @ setembro 16, 2008   15 comentários

quarta-feira, setembro 10, 2008

Sam The Kid - De Novo Nomeado Para os MTV Music Awards


Sam the Kid e os Buraka Som Sistema foram nomeados, pelo segundo ano consecutivo, para os MTV European Music Awards. Além destes artistas, foram ainda seleccionados os Vicious Five, a cantora Rita Red Shoes e o músico Slimmy. O nome do vencedor será anunciado a 13 de Outubro, depois de escolhido pelo público da MTV Portugal, responsável pela atribuição deste prémio regional. Três semanas depois, a 6 de Novembro, este galardão será entregue numa cerimónia que decorrerá na Echo Arena, em Liverpool.
Depois de revelado o nome do vencedor português, este será um dos candidatos ao prémio de Melhor Artista Europeu. Concorrem nesta categoria os artistas de cada um dos canais regionais da MTV, 23 no total. Ao contrário do prémio nacional, o nome do Melhor Artista Europeu só será divulgado em Liverpool. (fonte DN)
Por isso toca a votar no site da MTV no Samuel, para ver se é desta que lhe toca o galardão.
Apesar do Samuel ser avesso a prémios, galardões, distinções, homenagens e outras cenas dessa natureza, cá na família gostamos que ele seja reconhecido pelo seu trabalho, que sabemos ser muito e de excelente qualidade. Digo eu, que nem sou suspeito nem nada…

Etiquetas: Buraka som sistema, MTV music awards, sam the kid

Escrito por pulanito @ setembro 10, 2008   7 comentários

Zé do Pedal já está em Marrocos



Zé do Pedal, prestes a mudar, de país, de continente, de época, de língua e de civilização .
Falei hoje com esse solitário do pedal, que dá pelo nome de Zé do Pedal, com quem tive a felicidade de partilhar um dia e um mundo de experiências que este herói Brasileiro se dignou relatar-me.
Da sua longa pedalada de 17000 quilómetros já deverá rer percorrido perto de 4000 desses quilómetros.
Chegou a Marrocos na última quarta-feira dia 3 de Setembro e já percorreu no seu extraordinário e curioso veículo qualquer coisa como 320 Km.

O Zé no meio da gente simples como ele - tenho a impressão que por esta hora já deve ser bérbere Brasileiro.


Em Rabat, foi recebido pela ex-governadora do Lions Clube, Senhora Aicha Detsouli e ainda outros membros desta prestigiosa agremiação.
Foi ainda recebido na Embaixada Brasileira pelos altos dignatários representantes da pátria irmã, tendo ainda sido homenageado pelo presidente da câmara de Rabat.



Aqui sendo recebido pelos altos dignatários do seu país. Espero que te tenham dado uma ajudinha.

O Zé vai começar a descer em direcção a Mekines, Fez e posteriormente Marraquexe, utilizando a belissima estrada que bordeja a magnifica costa Marroquina.
Diz-me estar encantado com a hospitalidade bérbere, e que se encontra com ânimo e saúde para prosseguir a sua jornada.

Pela minha parte dou comigo a pensar, se tu não serás uma qualquer espécie de encarnação minha. É que não me identifico contigo apenas no aspecto solidário de quem sabe o que é viajar “a solo”; é uma não sei quê de magia que me plantaste no olhar, que cada vez que em ti penso, tenho uma vontade sofrega de partir, e acredita que não o digo sentado no meu sofá, arranjando uma desculpa para afinal apenas viajar na minha cabeça entre uma e outra cervejinha gelada. Nada disso, tenho genuina inveja do teu modo de vida, da tua maneira filosófica de estar no mundo e acima de tudo, da maneira desprendida como encaras as dificuldades que se te apresentam a diário e eu sei que são muitas.
Eu poderia perfeitamente ser tu…

Como dizes e muito bem: O Sol que derrete o asfalto, é o mesmo Sol que nos aquece o coração….

Igualmente para ti…até um dia …. vai dando noticias..

Etiquetas: chef chauen, Fez, Marraquexe, Marrocos, rabat, Ze do pedal

Escrito por pulanito @ setembro 10, 2008   3 comentários

sábado, setembro 06, 2008

Sam The Kid - A Partir de Agora


Sábado….um sorriso descambado pousa nas asas da incerteza…sei lá quantas vezes já escrevi isto para começar a escrever outra coisa. Não sei porquê, acho que prende o leitor, pelo menos até esta linha onde me está a ler.
Bem, se chegou aqui, é porque não tem muito para fazer e não se importa de ler tudo o que é baboseira, portanto, posso-me abalançar a lançar umas bojardas, que o amigo ou amiga fará o favor de ler.
Bem! Agora que já lhe prendi a atenção, cá vai a razão deste post.
O meu Samuel, faz clips como quem faz farturas na feira, ou seja, uns atrás doutros, ou como diria o meu pai: Ainda não desapareceu o cu dum, já está aparecendo a cabeça doutro. Alentejanices .Perdoem-me!


Um dia chego a Lisboa e vou visitar o Samuel, convido-o para jantar, este diz-me que não pode porque já tem um jantar marcado, mas que volta logo.
Lá fiquei por casa a falar com o resto de pessoal sem dar pelo tempo passar, até que passadas umas horas reentrou o Samuel que me diz haver ido jantar com o José Luis Peixoto.
Porra…e não podias ter dito antes, é que me tinha feito convidado na hora. Não é por nada, é que este escriba alentejano, é só um dos trabalhadores da escrita que mais admiro. Mais, quando o leio, parece que me leio numa outra dimensão, ou seja: se um dia chegar a ser grande, quero escrever como este genial profeta das palavras.
O jantar (segundo relato do Samuel) serviu para lhe apresentar a ideia de um vídeo a realizar, baseado numa das músicas do Samuel sobre o tema: A Partir de Agora.
Fiquei à espera do vídeo, e o resultado é o que agora vos apresento.
Fico à espera que o meu filho se digne um dia apresentar-me esse mago das palavras de quem já devorei a obra na totalidade, para lhe poder agradecer de viva voz o facto de existir.
Obrigado José Luis Peixoto.

Etiquetas: a partir de agora, hip hop, José Luis Peixoto, pratica(mente), sam the kid

Escrito por pulanito @ setembro 06, 2008   6 comentários

A Marisqueira - Mais um Local "à la Pulanito"

Os meus recentes posts têm andado à volta de façanhas velocípedicas, orgias gastronómicas, “rabanhos” de minis e pouco mais.
Vou portanto dar por encerrados temporariamente estes temas, já que, vêm aí excelentes e exclusivas novidades para os indefectíveis leitores do estaminé do Pulanito, mas enquanto tal não acontece, vou hoje voltar “à vaca fria” dos lugares repastantes à la Pulanito.

Aspecto da esplanada da Marisqueira em Carvoeiro

Falo-vos do local onde me poderão encontrar à hora de almoço de segunda a sexta, sempre que estou no Algarve, e que se chama A Marisqueira, estabelecimento localizado ao cimo da Estrada do Farol, na Praia do Carvoeiro – Algarve.
Os proprietários Vitor Santos e João Luis, conheço-os desde que cheguei ao Algarve há cerca de 25 anos, tantos como os que esta casa completou recentemente e que teve ldireito a festa comemorativa de tão representativa data.
Quando me dizem que no Algarve se come mal e caro, poderia aventar com uma série de casas na região onde habito que são verdadeiros embaixadores da comida das terras e mares mais a sul.


João Luis -mostrando a sua obra d'arte culinária

Aqui na Marisqueira provam-se os sabores da região, com predominância para os peixes e mariscos, conforme atesta o nome do estabelecimento. Os preços são justos e o serviço é diligente, simpático e profissional; ou seja: é aquilo que se espera duma casa que sem ter grandes presunções, tem no entanto, enormes pretensões de servir bem quem escolher aqui refeiçoar.


Francisco Pires, Graça e o Pulanito

Almoço todos os dias com um casal que conheço há anos, o Francisco Pires e a Graça, a que se junta amiudadamente outros convivas que não se importam de connosco partilhar esta “terapia de grupo” lúdico-gastronómica.

A equipa maravilha - Ricardo, Maria Lurdes, João Pedro e João Luis

Encomendamos de um dia para o outro os mimos gastronómicos com que o João Luis, ou o Vitor nos presenteiam no dia seguinte e na generalidade das vezes somos requintadamente surpreendidos pelo dedo culinário (quando pedimos comida de tacho) deste algarvio dedicado.
No dia desta crónica, havíamos sido surpreendidos por uma tachada de petinga de tomatada – um luxo! – estava absolutamente divinal, sendo que em dias anteriores e para arredondar as formas havíamos despachado um excelente arroz de tamboril.
Todas estas iguarias estão à disposição dos clientes, desde que pedidas com antecedência, até porque é preciso fazer compras específicas, e os produtos têm que ser frescos, para que perfumes e sabores sejam os mais intensos e naturais.
Durante o repasto, o amigo João Pedro (esse berbequim palrador) vai botando faladura sobre qualquer assunto, com especial incidência para o nosso Benfica, de que o João é adepto ferrenho, com direito a cartucheira de argumentos que deitam abaixo qualquer Sportinguista que ouse dele abeirar-se.


O grande Vitor - O mestre grelhador por excelência

É neste espaço que medeia o fim da manhã e o início da tarde, que ganhamos força e entusiasmo para ultrapassarmos os problemas do dia a dia.
De toda a equipa, a Maria Lurdes e o Ricardo (esse grande especialista em pesca) são os mais comedidos, embora se note que apreciam a confusão que na generalidade dos dias aí instalamos.
Aqui vos deixo a recomendação de um local à la Pulanito (sinónimo de qualidade), sem pretensiosismo, mas com a qualidade e a simpatia de quem “vira frangos” há 25 anos.

Etiquetas: Algarve, carvoeiro, cataplana, mariscos, restaurantes no algarve

Escrito por pulanito @ setembro 06, 2008   7 comentários

quinta-feira, setembro 04, 2008

Caldeirada de Rãs e outras "Alembraduras"!

A famosa caldeirada de rãs!


Ontem (03/09/08) fui alentejanar lá pra’s bandas do Alentejo profundo, mais propriamente para a Àgua Santa da Herdade - perto de Martinhanes -Mértola, local de onde postei uma das crónicas mais lidas deste blogue (ver post de Setembro 2007) e onde falava das agruras e maravilhas deste pedaço de Portugal desconhecido, e onde voltei passado um ano.
Tinha combinado com o Pardal, António José Brito e com o Caeiros (pessoal lá de Entradas...portanto) passar um serão nestas inóspitas paragens, onde poderia comer a tão almejada caldeirada de rãs de que ouvira falar vezes sem conta.
Não sei porquê, mas este batráquio exerce em mim um fascínio gastronómico, mas que havia anos, senão mesmo décadas que não voltava a sentir nas minhas papilas gustativas o paladar de tão requintado pitéu.
A coisa foi finalmente combinada, e lá abalámos caminho deste santuário em busca de sabores há muito guardados no báu das memórias.
Passámos primeiro por casa do Caeiros que se havia encarregado de por à prova os seus dotes culinários num dos pratos mais simples, mas ao mesmo tempo, mais aplaudidos e apaladados, que por alturas estivais se podem por aqui provar: A Tomatada.
A tomatada é um suculento prato feito com produtos da época e que podem variar consoante o gosto de cada um, e que consiste em juntar, tomates, cebola e ovos, num “revuelto” onde a imaginação de cada mestre de culinária poderá acrescentar o que lhe apetecer.
De qualquer modo estava muito saborosa e revelou-se uma excelente forma de acompanhamento das bogas do rio e mesmo das rãs fritas que lentamente devorámos num ritual que me trouxe à lembrança a última vez que fui à rã.

Teria eu, uns doze anos, quando uma ida à ribeira (à sucapa) consistia numa aventura para mais tarde recordar (como agora está a acontecer).
Sem autorização paternal, sabíamos que nos arriscaríamos no mínimo a um puxão de orelhas, e se a coisa metesse mais aflição talvez um sova de cinto, logo um risco mais que acrescido caso viéssemos a ser descobertos.
Era Verão e logo pela manhã combinei com o meu primo Chico Zé uma caçada à rã.

Armados de fisga na algibeira traseira, rumámos ao pego onde estas se ouviam coachar em sintonia e em sinfonia.
Caçar rãs à fisga implica, uma dose de perícia ao nível de atirador olímpico, coisa que nenhum dos dois possuía, vai dai termos gasto grande parte da manhã a tentar acertar no gelatinoso batráquio, o que se revelou um enorme fracasso.
Para além disso de cada vez que fazíamos um tiro, todas as rãs se atiravam ao pego, só regressando à tona quando a segurança estava assegurada, o que demorava sempre o seu tempo. Resta-me dizer que, melhorámos a nossa pontaria, mas de caçada…nem uma para amostra.
Regressámos a casa para almoçar e não sermos descobertos (condição fundamental para podermos à tarde regressar), e como “ quem não tem cão caça com gato”, optámos pelo plano B, que consistia em esvaziar o pego.
Não me recordo onde o meu primo foi desencantar uma bomba de escoar àgua, o que é certo, é que pela hora da calmaria lá iam estes dois predadores a caminho do mesmo pego, com a firme determinação de o esvaziar e desta vez acabarmos com aquela raça que nos havia atormentado a manhã.
Em Julho e Agosto, as ribeiras deixam de correr formando-se charcos com mais ou menos profundidade a que por aqui se chamam pegos e onde as espécies sedentárias se vão governando do elemento essencial, até que uma nova estação traga leito abaixo as primeiras renovadoras enxurradas, bálsamo essencial para a renovação das espécies e para a marcação dos ciclos da natureza.
Bem, deixemo-nos de filosofia barata e voltemos ao pressentido holocausto.
À medida que a água ia escoando ribanceira abaixo e o volume acumulado no charco cada vez menor, sentíamos a adrenalina de quem está próximo de eliminar de um só golpe o maior número possível de “inimigos”.
Munidos de tábua e saco, fomo-nos internado no pego e quando a água era já uma miragem foi um vertiginoso desatar de paulada nos inocentes batráquios que à medida que eram abatidos eram colocados dentro de cada um dos sacos.

Não me recordo de haver comido essas rãs. Tanto mais que não as podíamos levar para casa. Deste episódio guardo na memória o penoso caminho de volta, enlodados até á medula, às costas um saco recheado de cadáveres de rã e ainda a pesada bomba e respectivo magueirame, que carregámos repartindo o peso pelos dois.
Eu não levei nas orelhas porque estava de férias em casa da minha avó, mas o meu primo levou uma "tuna de porradas" daquelas de ficar todo roxinho e moidinho, e de cama três dias.

Recordo-me deste episódio aqui e agora, enquanto devoro a belissima caldeirada e escuto à minha volta a amálgama de conversas que surgem mais depressa do que o João Domingos (o anfitrião) debita minis em cima da mesa.
Ao meu lado um trabalhador agrícola, conhecedor da terra, silêncios e aves, como se das linhas da palma da sua mão se tratasse, desafia outro conviva (no caso um biólogo com cargo de relevo no ICN), a pronunciar-se sobre o tema que ele pensa (e se calhar bem) dominar melhor que o eminente cientista.
Desafia-o a responder a determinadas perguntas armadilhadas, mas de que este se defende com uma linguagem empírica, mas com um excelente conhecimento do terreno que (pelo olhar) deixa o seu interlocutor bastante admirado.
Falam de predadores. O homem da terra pergunta-lhe se sabe quem depois do homem é o maior predador. O outro hesita, aventa a hipótese do saca-rabos, mas logo o trabalhador agrícola lhe diz com ar vitorioso ser o bufo, e explica porquê.
- Daqui até ao açude (talvez 2km) devem haver 10 ninho de bufo. Cada bufo tem 3 crias, logo necessita de 3 peças de caça por dia para alimentar a prole, multiplicando isto pelo número de dias que lava um bicho destes a abandonar o ninho dava, pelas contas deste “entendido” qualquer coisa como 30 a 40 peças de caça, vezes trinta dias do mês – faça-lhe as contas e diga-me lá quem é o maior predador Sr. Dr. - rematou, ao mesmo tempo que com o olhar buscava cumplices para a sua teoria.
O tempo e as minis foram-se esgotando e por mais que gostasse de ali ficar a ouvir as deliciosas conversas que bailavam de boca em boca, estava na hora de abalar.
Como isto foi escrito de rajada, deve estar uma grande bosta, mas vou correr o risco e publicá-la mesmo assim.
Depois tratarei de lhe dar uns retoques. Portanto e para os mais perfeccionistas, poderão vir aqui vários dias, que sempre terão acesso a uma versão melhorada de uma noite há muito anunciada, e em que me lembrei do facínora que era enquanto pré-adolescente, e onde me diverti no meio de gente verdadeira, vertical (só até ás primeiras 15 minis, depois já não me responsabilizo).
A rapaziada presente veio de Entradas, Castro Verde, S. João dos Caldeireiros.
Pró ano há mais...



PS: Não tenho fotos de jeito, por isso aqui fica aquela que afinal foi mote e razão deste post.

Etiquetas: àgua santa, caldeirada de rãs, Castro Verde, entradas, figueirinha, Maritnhanes, Mértola, Penilhos, SPA alentejo, Tacões, vizeus

Escrito por pulanito @ setembro 04, 2008   6 comentários

Deixe aqui a sua opinião sobre o Fado!

Links

  • Jardins de Inverno
  • um e o outro - blog do Tim
  • Casa Das Primas
  • Oxiclista
  • correio alentejo - um jornal a ter em conta
  • Mokuna
  • Alojamento grátis em mais de 1300 hotéis. 17 países da Europa
  • Insomnia - Um blogue alentejano a visitar
  • Prova Escrita
  • Alvitrando
  • A Cinco Tons
  • NeuroNewz
  • Tricotar o Tempo
  • Entradas Anteriores

    • Lugar Nenhum Ed Hoster e Napoleão Mira
    • Passagem Para a Índia
    • Incongruências
    • Santiago Maior - Napoleão Mira & Sam The Kid
    • Napoleão Mira na RTP
    • A Fé e o Medo
    • Napoleão Mira - AS Portas Que Abril Abriu - (Ary ...
    • Esta Lisboa Que Eu Amo Houve um tempo (largo por ...
    • Ribeira de Cobres
    • A Velha Pasteleira
    • Reveillon

    Arquivo

    • Agosto 2006
    • Setembro 2006
    • Outubro 2006
    • Novembro 2006
    • Dezembro 2006
    • Janeiro 2007
    • Fevereiro 2007
    • Março 2007
    • Abril 2007
    • Maio 2007
    • Agosto 2007
    • Setembro 2007
    • Outubro 2007
    • Novembro 2007
    • Dezembro 2007
    • Janeiro 2008
    • Fevereiro 2008
    • Março 2008
    • Abril 2008
    • Maio 2008
    • Junho 2008
    • Julho 2008
    • Agosto 2008
    • Setembro 2008
    • Outubro 2008
    • Novembro 2008
    • Dezembro 2008
    • Janeiro 2009
    • Fevereiro 2009
    • Março 2009
    • Abril 2009
    • Maio 2009
    • Junho 2009
    • Julho 2009
    • Agosto 2009
    • Setembro 2009
    • Outubro 2009
    • Novembro 2009
    • Dezembro 2009
    • Janeiro 2010
    • Fevereiro 2010
    • Março 2010
    • Abril 2010
    • Maio 2010
    • Junho 2010
    • Julho 2010
    • Agosto 2010
    • Setembro 2010
    • Outubro 2010
    • Novembro 2010
    • Dezembro 2010
    • Janeiro 2011
    • Fevereiro 2011
    • Março 2011
    • Abril 2011
    • Junho 2011
    • Julho 2011
    • Setembro 2011
    • Outubro 2011
    • Dezembro 2011
    • Fevereiro 2012
    • Março 2012
    • Abril 2012
    • Maio 2012
    • Junho 2012
    • Julho 2012
    • Agosto 2012
    • Setembro 2012
    • Outubro 2012
    • Novembro 2012
    • Dezembro 2012
    • Março 2013
    • Abril 2013
    • Maio 2013
    • Junho 2013
    • Julho 2013
    • Outubro 2013
    • Janeiro 2014
    • Fevereiro 2014
    • Março 2014
    • Abril 2014
    • Maio 2014
    • Junho 2014
    • Agosto 2014
    • Setembro 2014
    • Outubro 2014
    • Fevereiro 2015
    • Março 2015
    • Abril 2015
    • Fevereiro 2016
    • Março 2016
    • Julho 2016
    • Agosto 2016
    • Setembro 2016
    • Outubro 2016
    • Novembro 2016
    • Abril 2017
    • Maio 2017
    • Junho 2017
    • Julho 2017
    • Fevereiro 2018
    • Outubro 2018
    • Current Posts

    Powered by Blogger


 

 visitantes online