segunda-feira, junho 30, 2008

Uma Tarde em Marraquexe!

Medina de Marraquexe

Aqui há tempos fui a Marraquexe. É claro que me internei na labiríntica Medina, na esperança de me poder perder por lá, ou em última hipótese, por algum objecto que me cativasse.
Depois de percorrer muitas das ruelas da Medina, entrei numa loja de antiguidades.
Passeei os olhos pelo exposto e de repente reparo numa caixa que era a medida do meu desejo.
Abeirei-me do objecto apetecido e logo (como que por magia) um sorridente mercador beduíno se me dirigiu com o olhar de quem me desnudara o pensamento.
Agarrou a pequena caixa e começou a contar-me a história da mesma, não sem antes me dizer que esta para se abrir tinha um segredo, o que me levou de imediato a viajar para o reino de Ali Baba.
Que era uma caixa muito antiga, que tinha pertencido a um príncipe tuaregue que a tinha ofertado à sua amada como prova da sua paixão.
Chegava-me a caixa ao nariz e perguntava-me se pelas minhas narinas ainda circulavam memórias olfactivas de tal moira encantada.

A pedido de várias familias, aqui fica o objecto desta crónica...Como vêem é uma caixa banal...Excepcional foi o ambiente criado à volta de tão vulgar objecto.


Nisto foi-se abeirando uma outra cliente que também foi bebendo da história. O nosso Mohamed deixou-se empolgar pelo relato e os seus gestos eram cada vez mais expansivos e teatrais.
A sua narração era agora um “ sales pitch” muito bem elaborado. A minha atenção para com o Mohamed estava agora centrada na discussão negocial.
O árabe dizia-me que o preço não importava, pois este situava-se algures entre a sua vontade vender e o meu desejo de comprar e logo que essas vontades se fundissem estava encontrado o preço final, que poderia ser muito ou pouco, pois o resultado desses dois anseios é que condicionaria tal situação. Podia até acontecer que tais vontades jamais se encontrassem e assim num “ inchalá” nos despediríamos como dois seres civilizados.
Agora o importante era entregar à pessoa correcta um legado único e antiquíssimo e para tal tinha de me mostrar merecedor de tal tarefa.
A coisa correu bem. Eu estava “para lá de Bagdad”, logo, fui genuinamente entrando no filme produzido, realizado e dirigido por aquele figurão das mil e uma noites.
As nossas vontades fundiram-se e foi finalmente encontrado o preço da transacção de tão precioso tesouro (não me recordo quanto), Mohamed encarregou-se de embrulhar em papel pardo a minha nova aquisição eenquanto eu lhe passava para as mãos os Dirams acordados, ele focava já a atenção na outra cliente (de nacionalidade inglesa) que insistia em querer adquirir a minha caixa.
Quase que tive para vender ali mesmo o meu suado tesouro, mas quando estava para entabular conversa com a senhora em questão, Mohamed levou em leque os dedos à fronte e com os olhos fixos no céu procurava uma solução para tão insólito problema.
De repente fez-se luz e o árabe rejubilando estalou os dedos e disse ter encontrado a solução. Afinal parece que tinha outra caixa gémea desta, que ali jazia embrulhada no tal papel pardo.
À pergunta – Deves estar a brincar comigo? - 0 árabe piscou-me o olho e encolhendo os ombros sorriu e disse - É que eu tenho um primo que tem uma fábrica de antiguidades!
“Meti a viola no saco”, fiz uma vénia, levei a mão em punho fechado ao lugar do coração, sorri e disse-lhe: Que Alá esteja contigo!

Publicado no blogue http://www.mercadologia.org/

Escrito por pulanito @ junho 30, 2008   10 comentários

terça-feira, junho 24, 2008

Os Meus Velhos!

Custódia, Bárbara, José Amândio e Felicia


Os meus velhos são quatro frágeis almas que a inexorável máquina do tempo se encarregou de fazer definhar.
São caquécticos, patéticos, dependentes e dessincronizados, mas são os meus!
No seu sangue, corre o meu. Em seus olhos brilharam sonhos que agora carrego, para um dia os entregar em forma de legado e assim perpetuarmos o etéreo tesouro daquilo que nos une.
Os meus velhos são rios de sapiência que agora começam a transbordar pelas margens da demência.
Um dia já foram novos e eu lembro-me disso perfeitamente.
Na nossa infância e juventude, sempre vivemos perto uns dos outros, visitávamo-nos aos fins-de-semana e a “primalhada” era uma imensa tribo que brincava e crescia junta em alegre alarido, próprio das idades em que se pensa que seremos imortais.
Lembro-me disto agora, enquanto seguro a mão trémula do mestre pedreiro que foi este meu tio José Amândio. Olho-lhe as veias, quais sulcos desenhados a sangue na pele branca e antiga do seu braço.
Está completamente alheio da realidade convencional, mas no seu registo frequêncial existe lugar para uma realidade memorial que o transporta para um tempo em que dá vida a quem há muito partiu. Tem o genuíno sorriso dos ingénuos e estou ciente de que lá nesse mundo onde se perde indefinidamente deve revisitar muitos dos seus amigos de infância, isto porque de vez em quando faz menção de chamar este ou aquele pelo nome de personagens há décadas desaparecidas.
Eu, na minha realidade comezinha e responsável, acho que aquilo não é vida, mas o outro eu que reside em mim e em cada um de nós (nuns mais que noutros) acha que afinal o propósito da vida é sermos felizes e se ele o é assim, acho que conseguiu um dos pressupostos de estarmos vivos.
Das três manas restantes, uma delas é minha mãe. É de todas elas a mais forte, a que menos se queixa. A que trabalha incansavelmente até ficar vencida. A que dorme pouco para trabalhar mais e assim poder vencer o dragão que desde sempre a persegue e que quanto mais ele se aproxima mais ela corre, e deste volátil jogo mental, consome os minutos, horas e dias da sua vida.
No outro dia caiu desamparada num dos degraus de sua casa. O médico mandou-a estar parada 3 semanas, ela deve ter parado 3 horas, provavelmente para não deixar que o dragão dela se aproxime e assim continuar este jogo em que não admite outros participantes que não ela e o monstro do trabalho que a persegue desde sempre.
As outras manas, são gente da mesma cepa. São Santiagos e está tudo dito. Gente humilde, honesta e vertical. De todas as manas a única que não casou, foi a tia Felícia, que há mais de cinquenta anos está na mesma casa como criada de servir, que era uma das alternativas concedidas aos pobres da terra em tempo de servidão. No caso presente, a família de “acolhimento”, era gente boa, com princípios e que sabe reconhecer toda a entrega e trabalho duma vida. Por isso hoje, (e desde há anos) em vez de a mandarem de volta para a família natural, fazem questão de a tratarem com humanidade, amor e amizade, e isso, eu não poderia deixar de aqui registar.
A tia Bárbara era a costureira da família. Dela tenho a melhor das recordações. Quando era jovem e já começava a gastar dinheiro, era sempre a tia Bárbara que ao Domingo me dava uma generosa melhadura que compunha o meu pecúlio dominical que incluía, cinema, baile e jogo de matrecos, e quando a coisa corria bem, ainda um estica ou um nógado.

Foto do tempo da chegada a Lisboa.....Tios e primos juntos. Agora como dantes. Eu sou o primeiro da direita da fila de baixo. A foto é do mesmo dia que a que uso no meu perfil e provavelemente a foto mais antiga que tenho.


No sábado passado reunimo-nos todos em casa da minha irmã, e não sei porquê, revisitei aquele espírito imigrante que abraçámos aquando da nossa debandada em direcção a Lisboa. Por isso, publico aqui uma foto desses difíceis tempos, aquando da nossa chegada a Lisboa e para onde fomos morar todos juntos uns dos outros, o que fez com que mais do que primos consanguíneos, Santiagos de alma e coração, somos uma irmandade que se preserva, ama e respeita.

No próximo ano vamos fazer a festa dos Santiagos - provavelmente no dia 25 de Julho, reunindo num grande evento todos aqueles cujo apelido seja Santiago, oriundo de Entradas e que se reveja neste espírito de igualdade e fraternidade.

Escrito por pulanito @ junho 24, 2008   10 comentários

quinta-feira, junho 19, 2008

Correio Alentejo Publica diário da Viagem a Santiago de Compostela


O Correio Alentejo de hoje 19/06, publica em versão jornal, o diário dos “7 Magníficos”, aquando da sua memorável viagem em bicicleta a Santiago de Compostela.
Foi-me pedido pelo amigo António José Brito, director deste prestigiado semanário Bejense, que fizesse um diário dos acontecimentos, mas apelando á minha capacidade de síntese; como me conhece bem, sabe que me estico até mais não quando me ponho a escrever, como é o caso presente!
Para quem quiser adquirir o jornal, poderá fazê-lo em Beja em qualquer quiosque ou papelaria e ainda na maioria dos concelhos circundantes.
Para os meus amigos de Évora se não passarem entretanto por estas bandas (talvez o Arlindo!) logo lhes levarei um exemplar para cada um.

Escrito por pulanito @ junho 19, 2008   7 comentários

terça-feira, junho 17, 2008

Homenagem a Fernando Pessoa

Cartaz do evento


Realmente este mês de Junho tem sido um mês de grandes emoções. Depois da conseguida viagem de bicicleta com a equipa da Graça do Divor, até Santiago de Compostela, tive no dia imediato à chegada outra prova de fogo, para a qual não estava minimamente preparado.
Decorreu no Terreiro do Paço em Lisboa uma homenagem a Fernando Pessoa por altura do 120º aniversário do seu nascimento.
Este evento que começou ás 18.00 horas desse dia com várias actividades, desde o Graffiti, leitura de poesia do grande mestre e o culminar das celebrações com um grande concerto de tributo ao poeta dos poetas.
Como participo no disco (sai em Setembro) que tem como aglutinador a poesia do autor de “mensagem”, fui convidado para interpretar ao vivo a parte que me competia.
A coisa só teria lugar lá para a noite, mas como era necessário fazer check sound e mais algumas entrevistas para falar sobre o evento e ainda uma conversa para o DVD que acompanhará o disco; por isso tive de comparecer mais cedo.
Quando me chamaram para efectuar essas declarações, fomos fazê-las ao Martinho da Arcada, um dos locais preferidos de Pessoa e um dos lugares onde a personagem heteronómica de Álvaro de Campos mais coabitou durante a sua etérea vida.
Para esta conversa, foi convidada Inês Pedrosa, presidente da Casa Fernando Pessoa, a Paula (não me recordo o apelido) em representação da Câmara Municipal, o Rui Miguel Abreu da loop Records e organizador do evento, e eu próprio.
Não sei se os outros intervenientes tiveram a mesma sensação que eu; mas estar ali, no Martinho da Arcada, no dia do 120º aniversário do poeta, na mesa onde este escreveu parte da sua obra, por baixo da foto “ em flagrante delitro”, acompanhado da presidente da casa Fernando Pessoa e ainda por cima incumbido de interpretar o poema "Tabacaria" para todos os presentes (mais à noite), foi uma sensação e peras.
O "escultor de máscaras" em flagrante "delitro"

Quando pelas 22.40 horas o D-Mars me chamou ao palco, senti-me invadido pelo espírito pessoano e debutando pela primeira vez em palco perante uma audiência prometedora, arranquei às entranhas o que de melhor que havia em mim.


Interpretando "tabacaria"


Pelos abraços no final, parece que a coisa correu bem. É claro que o beat que o Samuel fez, em que participaram o Dino (vozes) e o Gramaço no saxofone e o Xeg na sequenciação, deram um ambiente musical e um contributo especial.
O Rui Miguel Abreu (organizador) bem como os restantes artistas intervenientes deram-me os parabéns. Eu, que tinha um péssimo som de munição, não me apercebi de todo da forma que a interpretação estava a chegar aos espectadores….pelos vistos bem!
É claro que fiquei vaidoso, não o vou esconder, mas também não é motivo para que não publique aqui o relato de um dia que foi para mim mais que especial: Foi único!

Não vou por enquanto poder publicar aqui esse som, visto pertencer a um disco que ainda não saiu. Logo que tal autorização me seja dada publicarei aqui para os leitores do Pulanito a faixa em questão.

Escrito por pulanito @ junho 17, 2008   24 comentários

segunda-feira, junho 16, 2008

Coelho - A paciência em pessoa

Coelho - com a sua inseparável mini.

Tive há muitos anos um professor de desenho muito baixinho que nos partia os lápis que não fossem os indicados para desenhar, e enquanto os partia em dois ou mais pedaços, dizia: homem baixinho, ou velhaco ou dançarino e olha que eu não sei dançar!
A ser verdade este ditado, julgo que o nosso amigo Coelho deverá ser um excelente bailarino.
É realmente penoso fazer centenas de quilómetros a um ritmo de ciclista amador, mas o Coelho, homem baixinho mas grande em simpatia e solidariedade a tudo acedeu sem esboçar um esgar.
Quando chegávamos aos hotéis, este, era o primeiro a chegar ao ponto de encontro e sempre com o seu cigarrinho na mão.
Durante toda a viagem mantive com ele uma competição de “minis”, a que o amigo Coelho levou sempre a dianteira; pudera eu pedalava ele bebia.
Sempre solicito, bem disposto e sempre pontual. É desta cepa que se fazem os apoios motorizados duma paupérrima equipa de ciclismo amador.
Deste modo, em nome de toda a equipa, aqui fica o nosso agradecimento pela disponibilidade, amizade e capacidade de aturar este grupo de malucos.
De qualquer maneira, e sempre que de ti tivermos necessidade, já sabes: Estás convocado!

Escrito por pulanito @ junho 16, 2008   1 comentários

domingo, junho 15, 2008

Mauricio - Uma força da natureza!

O fabuloso Mauricio

Aquando da manhã da nossa partida da Graça do Divor, estava toda a gente pronta para arrancar mas faltava um carro de apoio.
O Maurício não vai aparecer, diziam os mais cépticos. Um ou outro dizia que ele deveria ter tido que fazer devido à sua actividade e que apareceria lá mais para a frente.
Enquanto estes comentários eram digladiados, vejo descer a avenida uma viatura que ao aproximar-se reparo ter escrito nas portas e na traseira: AGÊNCIA FUNERÁRIA MAURICIO. Quando a viatura parou salta lá de dentro esse furacão da natureza a quem fui apresentado, tendo de imediato pensado para com os meus botões que iria gostar muito de conhecer este homem.
Para começar poderão os meus caríssimos leitores imaginar um pequeno pelotão de ciclistas com uma carreta funerária atrás…bem é um bocado de fazer parar o trânsito. Julgo mesmo que é digna de registo para argumento cinematográfico. Se a isto juntarmos o motorista que lança arrepiantes piropos às raparigas vistosas que ao repararem de e de donde vem a mensagem logo desatam a rir.
Maurício tem 70 anos de idade, mas tem uma energia e uma disponibilidade absolutamente espantosas. Apesar de continuar a gerir o seu negócio à distância e mesmo afectado por arreliadora dor de dentes e mais as outras dores que o PDI não pode evitar, é a alegria da companhia.


Mauricio em cuecas. O que este homem não fez para animar a companhia!

Mete-se com toda a gente e a todos chama “colegas”, isto porque diz já ter exercido todas as profissões. Maurício é do género: You name it - I did it!
Apareceu no primeiro dia com 40 empadas e mais um indeterminado número de coisas que decidiu adquirir e que fez questão de oferecer à comitiva.
Aquando de qualquer paragem é ele quem puxa da carteira e faz questão de desinteressadamente (a não ser que esteja a investir em futura clientela) pagar grande parte das contas.

Porta do carro que nos acompanhou...

Das profissões que lhe contei posso enumerar as que me consegui lembrar: Agente funerário, mecânico, motorista, mercenário, empregado de mesa, agente secreto (esta não se podia dizer por isso mesmo, por ser secreta) e tantas outras que agora não me lembro. É membro de tudo o que é associação, estando ligado às mais diversas actividades lúdicas e desportivas: ciclismo, hóquei em patins, xadrez, rugby e mais não sei o quê.
Conhece meio mundo e relaciona-se com as mais altas individualidades, muitas delas estrangeiras e até algumas cabeças coroadas. Não sei se será tudo rigorosamente verdade, suspeito que algumas serão fruto de um qualquer delírio de ocasião, mas o que é verdadeiramente importante é que cumpre com o que promete, e o que promete faz.
Sou fascinado em personalidades desta dimensão. O discurso sempre pronto. A resposta brejeira na ponta da língua. A disponibilidade e o descaramento com que aborda conhecidos e desconhecidos, faz deste furacão que se atravessou nas nossas vidas, a alegria desta viagem, estando desde já convocado para próximas incursões que o pelotão vai pensando enquanto galga quilómetro atrás de quilómetro.
Pela minha parte, aqui fica o meu obrigado pela tua companhia, por existires e por nos fazeres felizes…só falta mesmo pagares uma palete de águas Frizes.

PS: este nosso companheiro de viagem é a cara chapada do Carlos Brito, antigo membro do PCP:

Escrito por pulanito @ junho 15, 2008   4 comentários

sábado, junho 14, 2008

Diario de viagem dia 7

Quando as rodas dianteiras das nossas bicicletas cruzaram ao mesmo tempo o quilómetro zero dos Caminhos de Santiago, colocado ao centro da Praça Obradoiro junto à belíssima catedral de Santiago de Compostela, senti no derradeiro momento o gozo de quem cumpriu um desejo e uma missão há muito tempo ansiados.
Para quem se propôs unir num imaginário e místico triângulo a ligação dos três Santiagos vértices, foi uma sensação que ao longo desta fabulosa jornada procurei aqui retratar num registo assumidamente pessoal, mas sem nunca descurar a companhia da MINHA EQUIPA, formada por gente com quem me identifiquei desde a primeira hora.
Aos: Joaquim Miguel, Joaquim Piteira, Vítor Reis, Ricardo Casaca, Arlindo, António Piteira ciclistas e aos apoios Maurício e Coelho o meu muito obrigado pela partilha, amizade e cumplicidade dispensadas.

O assalto final - fardados a rigor.


Agora o retrato da jornada: Saímos de Baiona pelas 8.00 horas. Os 130 quilómetros da jornada apresentavam-se difíceis, já que grande parte da jornada era a subir, mas bom subir.
Cada quilómetro rodado, era um a menos na nossa contagem decrescente para a contagem final.
As estradas espanholas são excelentes. Bom piso e boas escapatórias, fazem com que seja menos penoso o pedalar e mais seguro o percurso.
Depois de umas não sei quantas intermináveis subidas lá apareceu Vigo cidade capital das Rias Baixas onde ao longo do percurso circundante, podemos admirar a beleza desta cidade galega. Como íamos frescos continuámos caminho sem no determos. Pedalámos então com o vigor de quem sabe estar próximo o final da nossa caminhada, em direcção a Pontevedra, outra arejada cidade da Galicia amiga.

Curiosa perspectiva

Pedalar não tem muito que contar. É só ranger de dente, suor e determinação, o que conta é o que se vê com olhos de ver, e é desse deslumbramento que faço estas crónicas que partilho aqui convosco e que vocês fazem o favor de ler.
Destes devaneios faço o meu percurso. É daqui, do alto do meu selim que observo o mundo a que pertenço e nele busco a razão da minha existência, pelo menos enquanto pedalar mo for possível fazer.
É daqui, deste miradouro ambulante que teço a malha deste novelo em que procuro descortinar os cheiros, cores e sons da terra que um dia irei fermentar.
Las tierras las tierras de España…..a galopar, a galopar hasta enterrarlos en el mar…creio que isto pertence a António Machado,, outro eterno poeta espanhol de que agora me lembrei.
Nisto chegamos a Caldas de Rey, simpática povoação onde me deixei fotografar junto a um dos múltiplos pilares toponímicos dos caminhos de Santiago.


Junto ao ancestral marco dos Caminhos de Santiago de Caldas del Rey

Já só falta esfolar o rabo desta epopeia, mas a fome fala mais alto e ainda fazemos uma última paragem antes de chegarmos ao nosso destino final a pouco mais de 15 km do nosso ponto de chegada.
Fazer as últimas subidas das ruas de Santiago de Compostela são como um último sacrifício até à recompensa final. Percorrermos estas artérias, como se buscássemos uma saída. Nova subida e a derradeira paragem para ganhar fôlego para a entrada triunfal na Praça Obradoiro onde finalmente pisamos o quilómetro zero desta magnifica viagem.


Em frente ao Quilómetro zero - Cansados, mas felizes!!


Lembro-me de Almada Negreiros quando lhe perguntaram o quanto lhe custou a morte de Pessoa e este respondeu – Apenas três segundos. Os mais intensos da minha vida!


E que tal?

Escrito por pulanito @ junho 14, 2008   9 comentários

Diario de viagem dia 6

Pronto. Já chegámos a Espanha. São 21.00 horas estou em Baiona a pouco mais de 30 Km da fronteira onde pernoitaremos e ganharemos forças para o assalto final a Santiago de Compostela. Tenho dores um pouco por todo o corpo, mas estas mazelas são naturais para quem anda em cima dum selim de bicicleta vai para 700 Km e uma média de 6 horas por dia.
Saímos hoje da Póvoa de Varzim pelas 9.30 horas. A razão de uma saída tão tardia prende-se com o facto de havermos combinado encontra-nos com o Zé Lima (o famoso paraplégico que correu o país em cadeira de rodas no verão passado) e ainda com uma avaria de primeira hora no carro de apoio conduzido pelo amigo Coelho e gentilmente cedido pela Junta de Freguesia de Graça do Divor.


Vitor Reis, ciclista e mecânico, dando prova dos seus "skills" profissionais, pondo a nossa carrinha em marcha.
O carro insistia em não pegar e foram necessárias as desinteressadas ajudas das gentes do norte que têm esta particularidade admirável: são solidárias com o seu semelhante.
Lá conseguimos pôr a carrinha a trabalhar, mas suspeitando que a bateria estaria nas lonas.
Prosseguimos viagem pelo lindíssimo e verdejante Minho, por estradas estreitas mas de invulgar beleza. Não é difícil cruzarmo-nos por essas artérias com o melhor de dois mundos. Se de um lado podemos ver um carro puxado por uma junta de bois (dentro em breve vai voltar a ser moda!!) no outro pode acelerar uma potente máquina de desenho arrojado e com ocupantes de um “outro planeta” que não o do senhor que a pé e com a sua vara de tocar os bichos conduz pacientemente ao destino a imponente carga que iria jurar havia sido ali prantada a braço, forquilha e suor.


Paisagem minhota - o melhor de dois mundos


Pequenas hortas de agricultura de subsistência bordejam por largos quilómetros as estradas que vamos deixando para trás. Deixo-me enfeitiçar pela rudeza desta arte e sei e sinto que o melhor de nós reside naquilo que conseguimos arrancar da terra, mas pela trituradora da modernidade não existe lugar nem tempo para esperar pelo ciclo natural das coisas. Reflexos da vertigem de um tempo para o qual juro já não ter paciência!
Nisto chegamos a Esposende e num outro exercício de meditação estamos em Viana do Castelo onde fazemos uma paragem estratégica.


"Ócios" do oficío - Joaquim Miguel após deixar a sua assinatura em forma de derme no alcatrão de Viana do Castelo.

De partida para a visita ao Zé Lima o Joaquim Miguel foi ao tapete. Em princípio parecia não ser nada, mas a ferida do cotovelo resultou em edema, a coisa inchou um pedaço e entretanto voltou a melhorar, o que quer dizer que voltamos a ter homem para nos conduzir amanhã a Santiago.
A visita a casa do Zé Lima foi de médico, mas deu para ver o quão ocupado anda este corajoso lutador, que contra ventos, marés, disposições e outras questiúnculas importunativas lá vai lutando pela causa que abraçou.
Mostrou-nos a sua nova handbike onde pretende de futuro competir e quem sabe fazer mínimos para os Jogos Paraolimpicos.
Despedimo-nos do Zé e da Paula combinando lá mais para o Verão um convívio mais intenso aquando da sua “revolta a Portugal”.






O bravo Zé Lima e a sua companheira Paula com a equipa em foto para a posteridade e para mostrar a nossa solidariedade para com este corajoso lutador.

Dali pedalámos até Caminha onde finalmente foi decidido adquirir uma nova bateria, já que não podíamos correr o risco de deixar o carro ir abaixo.
A pretexto desta aquisição deu para dar uma pequena volta por esta localidade raiana, repousar os olhos na beleza das mulheres minhotas, que curiosamente são predominantemente loiras, que me dizem ter a ver com a passagem dos soldados ingleses e franceses aquando da invasão destes últimos. São os chamados danos colaterais!


Em que meditará o joaquim Miguel enquanto aguarda pelo ferry que nos levará a Espanha?

Atravessámos o rio Minho no Ferry e partimos em direcção a terra de “nuestros hermanos” . Do outro lado do rio, A Guarda, ou La Guardiã espera-nos. Fui antecipadamente avisado de uma subida manhosa que iria encontrar, mas que se fez relativamente bem. Depois foi só rolar até ás 16.55 horas, altura em parámos em Oiã num bar de estrada e vimos o jogo de Portugal contra a Republica Checa, cujo resultado permitiu a Portugal ser o primeiro país a ser apurado para a fase seguinte.
Mal entrámos no bar começou o hino nacional, nós de mão ao peito entoámos ali mesmo, vestidos de ciclistas em alto e bom som, A Portuguesa.
Revisitando esse momento acho que foi um bocado kitch, mas ninguém é perfeito e eu senti-me muito bem nesse momento.

Enquanto aguardamos o recomeço do jogo, eu tomo notas da jornada.


Lá vimos o jogo e emborcámos uma “porradaria” de “cañas”, coisa nada recomendável para quem anda de bicicleta, mas um dia não são dias, e afinal Portugal, no meio da bagunçada em que o país está a viver, lá nos conseguiu alegrar um pouco a alma.
De Oiã rolámos freneticamente até Baiona onde jantámos e pernoitámos.
Pronto. Gasto o latim todo a principio, depois quando quero falar um pouco do sitio de onde escrevo já não tenho vontade nem paciência.
Como não tenho net, este post bem como o de amanhã só entrarão na sexta-feira dia 13 de Junho, dia de Santo António e dia do 120ª aniversário do nascimento do Cristiano Ronaldo da poesia que dá pelo nome de Fernando Pessoa, que resultará numa enorme festa concerto no Terreiro do Paço e onde este vosso amigo vai estar a recitar parte do poema “ Tabacaria” do heterónimo Álvaro de Campos, com musica de Sam The Kid que irá resultar num disco e DVD do qual darei noticias lá mais para diante.

Fotos irão aparecendo à medida que tiver tempo para as colocar...
Ainda durante o dia de hoje, o mais tardar amanhã...o relato completo e na próxima semana no Jornal Correio Alentejo toda a história em versão jornalistica.

Escrito por pulanito @ junho 14, 2008   8 comentários

terça-feira, junho 10, 2008

Diário de Viagem dia 5

Olho-me ao espelho que está mesmo por cima do computador onde debito estas efémeras ideias.
O reflexo por este emitido remete-me para um indivíduo cansado, exausto, extenuado pela dureza e atenção que o percurso de hoje nos mereceu.
Depois da “papa” de ontem, o dia de hoje prometia mais quilometragem, mas nada de montanha e a paisagem circundante era condizente com o que este magnífico dia prometia: uma jornada a todos os títulos surpreendente.
Saímos de Ílhavo pelas 8.00 horas em direcção ao Forte da Barra. Nos céus, helicópteros, aviocars, caças e demais artefactos voadores sobrevoam as nossas cabeças anunciando-nos que estamos em data especial: hoje é 10 de Junho, dia da raça, como antigamente se dizia e que alguém parece querer fazer renascer. Por mim não vejo mal nenhum em pertencer a uma raça, a um DNA, a um país, a uma cultura, a uma postura na vida que se confunde com o nome: PORTUGAL.
A nossa vida hoje não nos permite pensar em grandes celebrações senão aquela que é a principal de todas e que dá pelo nome de: alegria de estar vivo.

Os ciclistas saõ a sombra colorida da própria sombra

Rolemos então (senão não calo o teclado), em direcção ao nosso primeiro destino, que como acima refiro se chama Forte da Barra (mais uma estreia. Uma vergonha não ter estado aqui!).
Neste espaço amplo, onde a Ria de Aveiro é o denominador envolvente aguardamos (para minha surpresa…e o que eu gosto de me surpreender, ui!!) pelo Ferry que nos levará a S. Jacinto, do outro lado da margem ali à mão de semear. Mas o ferry está a reparar e temos que utilizar a lancha que o substitui.
Assim fizemos depois de aguardar uma hora pela partida que nos haveria de conduzir à outra margem.
Aí chegados, recomeçamos a pedalar até à Torreira. Por ser feriado, as margens estavam pejadas de pescadores amadores que emprestavam aos contornos da ria um décor absolutamente surreal, parecendo mais uma “instalação” em forma de mole humana de hastes erguidas, como se de uma floresta de canas de pesca se tratasse.

Festejando o 10 de Junho a bordo dum moliceiro - da estrada era audivel o acordeonista que alegrava a pandilha.


Passada a Torreira chegámos ao Furadouro para uma das “ paragens estratégicas”. Seguimos depois caminho pela Estrada da Mata em direcção a Espinho que deixámos à esquerda, para logo apanharmos a N109 que nos haveria de conduzir até à Foz do Douro, não que sem antes, tivéssemos a primeira dose do Calvário do dia: O EMPEDRADO.
Atravessar centros urbanos em bicicleta de corrida é obra; fazê-lo numa cidade desordenada, cheia de armadilhas e ainda por cima em paralelepípedos irregulares foi obra, só faltou mesmo chover para que que o perigo se transformasse em verdadeiro suicídio pedalar sob tais condições.
Chegados á Afurada, tivemos que meter pelo empedrado do Canidelo, por ruas “sujas e gastas” conforme Carlos Tê tão bem retrata em Porto Sentido.
Atravessando a ponte ( que é uma passagem para a outra margem) D. Luis I no Porto

Lá conseguimos passar a zona de Gaia e meter pela Ponte D. Luis, depois, acompanhando o rio lá seguimos o percurso granítico deste Porto invicto até Matosinhos.
Não vos vou maçar com a infernalidade do tráfego que aqui ainda era pior que no Porto, só vos posso dizer que mal nos conseguimos safar desta situação, parámos para reunir e decidir o que fazer, mas como parámos junto a uma camioneta que vendia cerejas, comemos (entre todos) assim de rajada duas caixas de 2 quilos deste excepcional fruto.



Devorando cerejas junto ao carro funerário do Mauricio -nosso motorista e patrocinador, que terá um post especial a si dedicado. A não perder!

Seguimos em direcção a Leça seguindo as indicações do Joaquim Miguel que nos ia guiando neste difícil percurso.
De repente somos prisioneiros de mais um percurso empedrado que dura, e dura, e dura…e mesmo agora passadas algumas horas ainda sinto os tremeliques causados por tão arreliador caminho.

O céu pode esperar - outras coisas não!


Bem…de uma forma ou de outra, chegámos à Póvoa de Varzim onde mal chegámos caiu uma trovoada daquelas que até a escala de Richter acusa e da qual nos safámos mesmo, mas mesmo, muito à justa.
Saímos para jantar e era para me levantar de madrugada para postar o dia de hoje, mas como me “joguei” ao trabalho aqui fica ele de rajada, sem qualquer corte ou correcção.
Peço antecipadamente desculpa por qualquer erro, mas o cansaço já não me deixa corrigir o texto.
Fotos e coiso e tal….só mesmo amanhã….agora só quero DORMIR!!

Escrito por pulanito @ junho 10, 2008   7 comentários

segunda-feira, junho 09, 2008

Diário de Viagem dia 4

Hoje, foi o dia mais calmo de entre os que já tivemos e também em relação aos restantes que hão-de vir, isto segundo os meus repetentes comparsas.
Ontem não tive ADSL, vai daí não pude postar convenientemente para os leitores do Pulanito as fotos ilustrativas das palavras apressadas com que procuro descrever o bulício desta (até agora) admirável viagem.
Confesso que necessito de pomada para o rabiosque, já que as muitas horas sentado em cima de tão exíguo espaço, mais o repetitivo movimento do pedalar fizeram com que abrisse uma ligeira ferida que terei de tratar se não quero sofrer amanhã….mas primeiro os leitores do Pulanito.
Fico na verdade muito entusiasmado com os comentários com que nos agraciam; acreditem que são um bálsamo retemperador para um pobre mortal que não busca reconhecimento, mas o simples facto de saber que alguém desse lado está a seguir esta ciclo-peregrinação (cada dia que passa chamo-lhe uma coisa diferente!) faz com que nos apliquemos mais na arte de bem pedalar.





Santiago é p'rali!




Como disse, hoje foi um dia de rolar entre Guia e Ílhavo, qualquer coisa como 85 Quilómetros, portanto uma etapa sem montanha, rolante, com boas escapatórias, bom tempo. Numa palavra…fantástico!
Saímos da Guia sem um dos nossos elementos (António Piteira) que foi amanhar a biclas na companhia desse fenómeno que nos acompanha e que responde pelo nome de Maurício, é cangalheiro e por tal o nosso carro de apoio é da agência funerária Maurício, mas este homem já foi tudo na vida. Estou a reunir material para um especial só com ele. Penso que vai valer a pena.
Rolámos 40 Km de seguida até á primeira paragem cafezal, onde metemos o euromilhões da equipa, depois seguimos viagem pela estrada N319 que nos liga à povoação onde iremos pernoitar.




Rolando sobre a ponte da Figueira da Foz



O que esta etapa tem de fabuloso, é que as localidades são umas atrás das outras, ou como diz o meu pai: ainda não desapareceu o cu duma já está aparecendo a cabeça de outra!
Ainda o António não se tinha reunido ao grupo quando o Vítor Reis dá o grito de “furo”. Este é o primeiro desta viagem, o que não é nada mau. A coisa foi prontamente remendada e…pedais para que vos quero.


Amanhando o furo

Como a hora de almoço se aproximava a passos largos, resolvemos parar num restaurante junto à Ria de Aveiro, mas que…..estava fechado!
Os funcionários que aí estavam a celebrar a sua folga deixaram-nos “abancar” nos jardins, emprestando-nos mesas e cadeiras e lá provámos de novo a fabulosa salada de tomate do Ricardo.







As saladas do Ricardo

Nesta coisa das bicicletas quem disser que não tem fome é porque não pedala ou está muito doente, vai daí que a salada e mais os restantes condutos desapareceram enquanto o diabo leva o dedo ao olho para o tentar esfregar.

O descanço do guerreiro Joaquim Miguel

Deste aprazível local ao hotel onde nos encontramos não tardámos mais de 10 minutos. Eu vim para o quarto carregar fotos, estudar o texto que tenho de dizer na próxima sexta-feira dia 13 e postar o texto que estou prestes a terminar, enquanto vossas excelências devem estar resfaltados no health club do hotel jacuzzando os seus amolgados traseiros.

Escrito por pulanito @ junho 09, 2008   8 comentários

domingo, junho 08, 2008

Diário de Viagem dia 3


Hoje é Domingo 8 de Junho de 2008. Soube-o há pouco quando fui dar os parabéns a uma amiga que afinal tinha celebrado o seu aniversário ontem.
Esta coisa de andar na estrada, altera-nos completamente as rotinas, o que faz com que perca a noção dos dias da semana e outras trivialidades que o comum dos mortais nunca iria esquecer.
Aqui, pedala-se, come-se, pedala-se, come-se e dorme-se para no dia seguinte voltarmos para cima das nossas máquinas e voltarmos a repetir a dose até chegarmos ao destino a que nos propusemos e que dista do local de onde escrevo cerca de 450 Quilómetros, o que significa que só lá chegaremos na próxima quinta-feira pela tardinha, depois de enfrentarmos a etapa mais dura desta viagem ciclopenante.

À partida de Torres Novas

Hoje saímos de Torres Novas por volta das 8.00 Horas da manhã depois de termos dado grito de Santiago como forma de expurgarmos todos os anticorpos que nos pudessem atrapalhar no nosso indefectível propósito.
Fui avisado (mais uma vez) que hoje era dia da “subida da Serra D’aire”, que dista do nosso local de partida cerca de 10 Quilómetros. De facto são uns bons vinte minutos a trepar uma parede de alcatrão com uma bicicleta entre as pernas, mas se os outros chegam lá acima, nós também o faremos. Começamos a respirar menos ofegantemente quando passamos pela placa toponímica indicando a localização das pegadas de dinossáurios existentes no local e que também representam para nós o final do nosso calvário.
O Joaquim Piteira e o Vítor Reis são os trepadores da nossa equipa, mal chega uma destas subidas prantam-se na frente e é vê-los subir como quem barra manteiga em pão mole (não sei onde fui arranjar este exemplo mas pareceu-me bem!).
Depois desta subida paramos numa gasolineira de modo a reabastecer sólidos e líquidos que a maldita montanha exigiu de cada um de nós como forma de portagem para quem ousa galgar as suas íngremes artérias.
Aí chegados soubemos que outro grupo de Évora estava a subir também a Serra D’aire Como são amigos da nossa rapaziada esperámos por eles e fizemos juntos um boneco para a posteridade.

Encontro de Eborenses em plena Serra de Aire

De seguida rolámos em direcção a Fátima, terra que não visitava há mais de vinte anos e que me impressionou pela sua grandiosidade, tanto mais que soube recentemente que em todo o território português, é este o destino turístico mais visitado.

Em Fátima


Junto ao santuário e à nova “catedral” deixámos que a posteridade se nos traduzisse em forma de retrato.
Como hoje é Domingo o recinto, bem como as ruas da cidade estavam pejadas de gente o que me deu uma ideia bastante precisa da pujança do negócio da fé.
De Fátima rolámos prazenteiramente até Batalha. Digo prazenteiramente porque o fizemos quase sempre a descer; o que, para quem anda de bicicleta é uma dádiva do deus que gere o negócio na povoação que acabámos de visitar, ou de outro qualquer em que queiramos acreditar.

Mosteiro da Batalha

O Mosteiro de Santa Maria da Vitória continua magnânime. O trabalho que Mestre Afonso Domingues por ali fez tem resistido através dos séculos, apenas os vendilhões do templo, são-no agora dos arredores do templo conforme atesta a foto que tirei de ângulo onde decorria uma feira da ladra.
Depois de nos abastecermos dos artigos em falta: pão, tomate, cebola e restantes consumíveis diários dirigimo-nos, aquela que foi uma das grandes obras desse rei com rara visão de seu nome Dinis e que o povo chamou de “Lavrador”: o famoso pinhal de Leiria.
Percorremos a frondosa estrada ladeada por pinheiral e um pouco sem darmos conta fomos dar a Vieira de Leiria, outra estreia para mim em termos de localidades por mim nunca visitadas.

Em Vieira de Leiria ( já é muita foto de grupo, não é?)


No largo fronteiriço à praia voltámos a juntar-nos para o retrato, depois dirigimo-nos às vendedeiras de marisco e abastecemo-nos do que havia à venda: navalheiras, camarão e perceves e dirigimo-nos ao parque de merendas, onde desfrutámos deste magnifico e merecido repasto que toda a gente apreciou.

Simpática vendedora de peixe seco - uma especialidade da região.

Como estávamos a poucas dezenas de quilómetros do hotel, deixámo-nos ficar mais que o habitual. O Ricardo Casaca fez-nos uma demonstração de como uma banal salada de atum, poderá ser uma excelente proposta de almoço, que afinal era o que nos estava destinado caso não encontrássemos os soberbos mariscos entretanto mencionados.
Rolando em direcção ao nosso poiso do dia, somos confrontados com a falta de civilidade e cidadania de muitos condutores desta região. Apesar da estradas serem estreitas, temos o mesmo direito a andar nelas, como os automobilizados, mas parece que alguns deles se comportam com tal agressividade, que não restam quaisquer tipos de dúvida que nos fazem uma declaração de guerra que pelo menos para mim não faz qualquer sentido.

Ricardo pedalando em direcção ao merecido descanso -faltam cerca de 1oKm

Bem, continuámos rolando estrada fora tentando não ser atirados borda fora, quando o António Piteira teve uma avaria irreparável na sua máquina que o fez momentaneamente abandonar a prova até à reparação da sua “biclas”.


António Piteira constatando a avaria - entretanto ultrapassada.

Como já estávamos a chegar ao hotel a coisa não foi dramática, tanto mais que na equipa temos um mecânico e outro que faz tudo e que trarei aqui em futuros post, dá pelo nome de Maurício e é cangalheiro…e mais não digo!
E pronto…por hoje a coisa fica por aqui.

Escrito por pulanito @ junho 08, 2008   4 comentários

sábado, junho 07, 2008

Diário de Viagem dia 2


Portugal acabou de vencer a Turquia por 2-0 o que vai fazer com que o pacote laboral, as subidas dos combustíveis e demais questiúnculas que nos deviam preocupar fiquem para segundo plano.
Hoje foi um dia digno do “comboio dos duros”. 155 Km entre Graça do Divor e Torres Novas, com um calor suportável mas já a dar um cheirinho do que poderá ser o Verão que se aproxima.
Hoje vou falar um pouco do grupo que tive a felicidade de abraçar. Há muito tempo que não convivia com gente tão homogénea, civilizada, galhofeira e ao mesmo tempo respeitadora. Não o digo para ser politicamente correcto, mas de facto é um privilégio poder observar personalidades tão díspares serem ao mesmo tempo tão semelhantes no que se refere ao cumprimento das regras do jogo. Fica aqui o meu sincero elogio ao grupo que me acolheu e que a cada dia descubro e a cada dia me espanta.





Equipa da Graça do Divor á partida para Santiago de Compostela



Saímos da Graça pelas 8.00 da manhã em direcção a Montemor, sendo de imediato avisado que iríamos encontrar ( logo ali) uma subida de respeitável índice de dificuldade a que os meus companheiros chamam “ a parede”. De facto não foi fácil, mas lá se fez, depois foi só rolar até Montemor. Até Montemor não, porque antes de aí chegarmos, passámos na loja de um dos patrocinadores da equipa para o boneco que aqui deixo e para agradecer os presentes que tinham à nossa espera, esperando esta equipa que em próximos equipamentos conste o nome - Móveis Lar – para que possa percorrer o país e estrangeiro no dorso destes ciclistas.



Equipa com o patrocinador Luis Adriano da empresa Móveis Lar


Passámos Montemor-o-Novo em passe de corrida e com a animação de aí haver chegado enquanto o diabo esfrega um olho, tal a facilidade do trajecto desde a Graça de Divor.
Portugal é sem sombra de dúvida uma terra fabulosa. A surpreendente paisagem ao vir de cada curva, são para mim e restantes companheiros um excelente bálsamo e uma forma de sugarmos através dos nossos sentidos a obra da natureza que nos é dada a presenciar.
O Alentejo do Alto, é como o seu homónimo carapau: grande, suculento e apetitoso. A arquitectura tradicional das casas térreas com as suas díspares chaminés, fazem-nos adivinhar no seu interior fumeiros que perfumam a atmosfera de aromas a ervas de cá.



Rolando estrada fora



Rolamos animados pelo vento que nos leva e em pouco tempo atravessamos Lavre. Vêm-me à lembrança o romance Levantados do Chão de José Saramago e a luta dos camponeses desta região. Fico por instantes congelado no tempo recordando algumas passagens que a memória me permite descortinar.
Depois de Lavre dirigimo-nos para Coruche, agora já em pleno Ribatejo província onde permanecemos durante o resto da viagem.
O verde da paisagem faz-nos adivinhar água com fartura. Os campos de arroz a perder de vista fazem-me lembrar um jogo arquitectónico onde a simetria é a chave para a solução desse enigma de múltiplos rectângulos.
O rio Sorraia borda e beija a vila. Do alto do parque de merendas onde fizemos uma paragem estratégica, a vista é de suster a respiração. A vila persegue o contorno do Sorraia num namoro que pressinto durar há séculos. Até onde a nossa vista alcança a charneca de perder de vista que insistimos em distinguir mais longe pondo a na testa a mão em pala, à moda dos índios americanos.
Rolamos agora já com largas dezenas de quilómetros nas pernas, talvez mais de 100, quando cruzamos Almeirim. Lembro-me de imediato do celebérrimo ex-libris desta terra que é a a “ Sopa de Pedra” e que não me lembro de alguma vez haver provado.


Ao passar por Alpiarça, vêm-me á lembrança os heróis ciclistas dos Águias desta terra. Recordo-me da fabulosa equipa que Os Águias deram ao ciclismo nacional e que era constituida por: Marco Chagas, Alexandre Rua, António Marçalo, Alfredo Gouveia, Armindo Lúcio, Joaquim Carvalho, Joaquim Andrade, Florindo Mendes, Lima Fernandes (filho), Jacinto Paulinho. recordo ainda o fabuloso ciclista que foi Lima Fernandes (pai), ciclista da terra e herói intemporal para estas gentes ribatejanas.

Lima Fernandes (pai)

Do alto do selim da minha bicicleta viajo à minha meninice, altura em que não havia dinheiro para comprar bicicletas e faziamos de arame guiadores de bicicletas de corrida, peça essencial para participar nas competições que organizávamos. Sorrio e pedalo ainda com mais vitalidade!
Agora o Ribatejo impõe-nos o seu maior tesouro – O Tejo, esse “ que leva nas águas segredos de par em par” ao passarmos a ponte da Chamusca e olhando à esquerda ou à direita ficamos com a impressão da grandeza dessa artéria natural que desce desde Espanha e ao passar por aqui não deixa de nos deslumbrar.


Ponte da Chamusca



Por esta altura já falta pouco para o final desta etapa. Como rabo é o mais mau de esfolar, os últimos 15 Km são desesperantemente lentos de passar.
Por fim chegámos a Torres Novas, onde venho pela primeira vez. Comemos no hotel onde pernoitamos e agora estou morto por terminar isto para poder dormir alguma coisa de jeito.
Amanhã darei aqui uns toques na crónica de hoje.

Escrito por pulanito @ junho 07, 2008   3 comentários

sexta-feira, junho 06, 2008

Diário de Viagem dia 1

Vou-me embora
Vou partir mas tenho esperança
De correr o mundo inteiro quero ir…..

Assim começa uma das “modas” mais conhecidas de qualquer alentejano que se preze.
Começou hoje FINALMENTE a viagem que me levará a Santiago de Compostela na companhia dos companheiros da equipa de Nossa Senhora da Graça de Divor de onde me encontro a escrever neste momento em casa do Joaquim Miguel e da Maria Adelina um casal irrepreensivelmente hospitaleiro e encantador.
Como é de calcular mal consegui dormir e quando o dia raiou, aqui este vosso amigo já estava de pé num frenesim fora do comum.
Revi a matéria, respirei fundo e pelas 7.45 horas abalei de (Santiago de) Entradas envolto numa neblina que dava ao ar matinal de Entradas um ambiente místico, mesmo condizente com a partida que há pouco se deu.
Vou em direcção ao Carregueiro em pedalada cadenciada e olho para trás uma e outra vez, enquanto não faço o desmame do grilo dos remorsos que me manda de volta para casa a cada pedalada que dou.
Quando chego ao Carregueiro ( agora já não tem o comboio que sopra pela linha) cerro os dentes e decido seguir em frente sem mais delongas.
Dali a Aljustrel foi um tiro, depois Ervidel já fazia parte dos meus planos visuais e quando cheguei a Ferreira do Alentejo, tinha cumprido cerca de um terço do percurso.
A partir daqui deixo de estar sozinho porque ao meu encontro vieram os Joaquins Piteira e Miguel que fizeram questão de me acompanhar a partir deste ponto da viagem.
Rodámos a uma velocidade comedida para um primeiro dia e fomos galgando quilómetros um atrás do outro até chegarmos a Alvito.
Alvito já cheira a Alto a Alentejo. É uma vila rica em património humano e material conforme tiveram oportunidade de constatar os nossos olhos ao viajarmos pelas antiquíssimas paredes do seu castelo hoje transformado em Pousada.
Quanto ao património humano, tivemos o ensejo de com eles compartilhar uns pedaços de toucinho (do alto) e ainda uma linguiça de se lhe tirar o chapéu, na inédita Associação de Cante desta alva vila Alentejana.




Comendo toucinho (do alto)




Convivas da associação de cante do Alvito


Fizemos fotos e amigos, mas o nosso destino ainda dista umas boas dezenas de quilómetros e há que fazê-los impreterivelmente, ainda que o nosso desejo fosse ficar ali a beber da sabedoria desta gente que trata por tu os segredos da terra.
Sempre a pedalar estrada acima damos connosco a cruzar a povoação de Aguiar. Nesta terra (segundo os meus confrades pedalantes) não se pode perguntar a esta gente as horas, pois consta que em tempos idos, um padre terá feito uma colecta para reparar a igreja e o seu relógio, mas entretanto desapareceu. As pessoas pensando-se ludibriadas insurgiram-se contra o desaparecido cura, mas certo dia apareceu uma enorme caixa trazida por um viajante.
Vinha da parte do tal padre e dizia que no seu interior estava o relógio pertencente à igreja. Foi declarado feriado na aldeia para que toda a gente pudesse no dia seguinte assistir á abertura de tão necessário equipamento temporal.
As mulheres eram as mais curiosas, sendo que algumas delas diziam que os respectivos maridos tinham quota-parte no espólio do interior da caixa, porque teriam sido generosos contribuintes de tal renovação, mas quando a caixa foi aberta, esta apresentava um inusitado numero de pares de cornos.
Bem, o resto é fácil de imaginar, bem como o motivo porque em Aguiar não se pode perguntar as horas à população.

A igreja de Aguiar com o relógio da discórdia


Continuámos estrada fora, galgando, penando, sofrendo quilómetro atrás de quilómetro, só descansando quando Évora ( a cidade mais encantadora de Portugal, na minha perspectiva) estava no fio dos nossos horizontes.
Até Graça do Divor foi depois um tirinho de 15 quilómetros, mas estes, pareciam não querer acabar. Mas chegámos, e a prova é que estou a escrever desta bonita aldeia.
Banho tomado na casa do Joaquim Miguel, onde me foi apresentada a Maria Adelina ( que cozinha divinalmente).
Regressámos ainda a Évora para a foto de família e estamos agora prontos para o sono retemperador, que nos há-de dar forças e ânimo que nos conduzirá a Torres Novas onde pernoitaremos e onde assistiremos ao vibrante desafio da estreia de Portugal no Europeu de futebol.
Por mim, deixo aqui o meu palpite. Portugal 2 Turquia 1.
Até amanhã…


Equipa (menos 1) que partirá amanhã de Divor



PS: Não se esqueçam de ler e divulgar a viagem em questão, bem como de comentar as incidências e tropelias do dia a dia.

PS1: parece que amanhã temos 40 empadas para deitar abaixo….

Trajecto: Santiago de Entradas - Nossa Senhora da Graça do Divor

Distância: 138 Km

Escrito por pulanito @ junho 06, 2008   4 comentários

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